Análise Política: A ‘Caminhada pela Anistia’ e as Estratégias de Negociação

O cientista político Rudá Ricci, presidente do Instituto Cultiva, avalia que a iniciativa de “caminhada pela anistia” promovida por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em Brasília possui um caráter predominantemente simbólico, sem potencial para alterar significativamente o cenário jurídico. Ricci enfatiza que a anistia em questão é improvável de ser aprovada, considerando a posição já consolidada dos bolsonaristas nesse aspecto.

Segundo Ricci, o governo Lula (PT) utiliza essa iniciativa como parte de uma estratégia mais ampla, visando a PEC da Dosimetria como forma de amenizar tensões e isolar politicamente Bolsonaro e seus aliados mais próximos. Ele observa que o governo busca, através dessa ação, questionar a lealdade da base bolsonarista, utilizando a alcunha de “bagrinhos” – termo adotado por alguns ministros do Supremo Tribunal Federal.

O analista critica a credibilidade da proposta, apontando para a condução do deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator da matéria. A reunião do relator com Aécio Neves e Michel Temer, em São Paulo, é vista como um indicativo de sua posição e desvinculação do conflito.

Ricci ressalta que a anistia geral não é viável no Senado e que o STF já manifestou sua intenção de derrubá-la, sugerindo que o governo busca adiar o debate para utilizá-lo estrategicamente em 2026.

Diálogos Estratégicos: Lula e Trump

Para Rudá Ricci, a conversa entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump representa uma estratégia de encenação e pressão política. O cientista político acredita que Trump busca reposicionar o Brasil na esfera de influência dos Estados Unidos, reduzindo a proximidade com a China e o bloco dos Brics.

Leia também:

PRF se junta à Ameripol e fortalece combate ao crime organizado nas Américas

Crescimento de 8,8% nos Casamentos Civis entre Cônjuges do Mesmo Sexo em 2024, revela IBGE

Queda de 5,8% nos Nascimentos no Brasil entre 2023 e 2024, revela IBGE

Ricci destaca que o encontro pode envolver interesses na exploração de terras raras. Ele descreve a situação como um “teatro de negociação”, onde Trump e o senador Marco Rubio desempenham papéis complementares, com Rubio atuando como o “policial mau” e Trump como o “policial bonzinho”.

O analista observa que Lula reage com cautela, enquanto Trump testa os limites do diálogo. “Trump bateu um monte, colocou ali do lado um policial mauzinho e ele agora vai tentar negociar e ver até onde o Lula vai. É isso que vai ocorrer.”

Isolamento do Bolsonarismo

Ricci enfatiza que o bolsonarismo está isolado e sem influência nas negociações. Ele considera que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) não possui mais papel relevante nesse processo.