Bolsonaro confirma encontro sobre GLO, mas rejeita diásobre documento

Ex-presidente afirmou, em depoimento no STF, que reuniões com militares em 2022 versaram sobre questões constitucionais.

11/06/2025 0:13

6 min de leitura

Jair Bolsonaro com a constituição na mão - A 1ª Turma do STF (Su...

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou, em depoimento ao STF nesta 3ª feira (10.jun.2025), que participou de reuniões com comandantes militares no final de 2022 para tratar de ações relacionadas à GLO (Garantia da Lei e da Ordem) e eventuais medidas a serem tomadas “dentro da Constituição”.

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Foram realizadas reuniões sobre diversos temas. Por exemplo, discutimos a situação envolvendo a GLO, devido ao bloqueio de estradas por caminhoneiros e à presença de pessoas em frente aos quartéis-generais”, afirmou. A declaração ocorreu durante depoimento perante a 1ª Turma do STF, no processo que investiga a tentativa de golpe de Estado.

O ministro Alexandre de Moraes perguntou-lhe se recordava do conteúdo específico desses encontros, Bolsonaro declarou: “Não posso garantir que, inalterada essa data, foi tratado determinado assunto. Essas reuniões ocorreram, em grande parte, em função da decisão do TSE [Tribunal Superior Eleitoral].”

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De acordo com o ex-presidente, a multa de R$ 22 milhões aplicada ao PL (Partido Liberal) pelo TSE em 2022, por ter recorrido contra a Corte questionando mais da metade das urnas utilizadas no segundo turno, teria “abalado” sua equipe e interrompido novas investigações sobre o resultado da eleição.

Em 22 de novembro daquele ano, a coligação de Bolsonaro solicitou que o TSE invalidasse votos registrados em 279 mil das 472 mil urnas utilizadas no 2º turno. O pedido mencionava um “bug” envolvendo os arquivos “log” das urnas de modelo 2009, 2010, 2011, 2013 e 2015. Os “logs” continham o código da cidade, a zona e a seção eleitoral da urna.

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Minuta do golpe

Bolsonaro também negou qualquer participação ou envolvimento na elaboração da chamada “minuta do golpe”, documento que previa a decretação de estado de sítio ou de defesa, medidas que exigiriam aprovação do Congresso.

Ninguém foi convocado para participar de uma possível declaração de estado de sítio. Vamos supor que fosse iniciado: o presidente encaminharia um decreto ao Congresso. Não existia isso, declarou.

Bolsonaro afirmou não ter discutido qualquer minuta com seu ex-assessor especial, Filipe Martins. O ex-presidente declarou que Martins não participou, em momento algum, da elaboração de um texto com essa conotação.

Ele também alegou que nunca “enxugou” o documento. “Nunca pensamos em fazer algo fora da lei”, declarou. A fala contrasta com o depoimento e a deliberação do tenente-coronel Mauro Cid, que afirmou que Bolsonaro recebeu, leu e solicitou mudanças na chamada “minuta do golpe”.

Glo X Garnier

O almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, confirmou em depoimento ao STF ter se reunido com Bolsonaro em uma reunião no Alvorada em 7 de dezembro de 2022, após as eleições. Declarou que durante o encontro foi discutido o cenário político e social do Brasil e foi mencionada a possibilidade de se implementar um decreto de GLO.

Havia diversos assuntos, o principal era a preocupação que o presidente tinha, que também era nossa, das inúmeras pessoas que estavam, digamos assim, insatisfeitas e se posicionavam no Brasil todo, em frente aos quartéis do Exército […]. Houve uma apresentação de alguns tópicos de considerações que poderiam levar a talvez “não foi decidido isso naquele dia” – a decretação de uma GLO, ou necessidades adicionais, principalmente visando a segurança pública, disse Garnier.

Interrogatórios

A Primeira Turma do STF iniciou na segunda-feira (9.jun) o interrogatório dos réus no núcleo central do processo penal por tentativa de golpe de Estado. De acordo com o Ministério Público, os integrantes desse grupo teriam sido responsáveis por liderar as ações da organização criminosa que visavam impedir a posse de Lula.

Pertencem ao grupo:

Os depoimentos devem ser concluídos até quinta-feira (13.jun). O primeiro a ser ouvido foi Mauro Cid, que formalizou um acordo de cooperação com o STF. Os demais réus estão sendo ouvidos em sequência, em ordem alfabética. A ordem foi estabelecida para que todos tenham conhecimento do que o delator declarou e, assim, possam exercer o devido direito de defesa.

Todos os réus do núcleo estão obrigados a comparecer nos interrogatórios, mas podem permanecer em silêncio e responder a algumas ou nenhuma pergunta. O relator, ministro Alexandre de Moraes, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e os advogados podem fazer perguntas. Se outros ministros da 1ª Turma comparecerem, também podem questionar os réus.

Após as audiências, os acusados não precisam mais comparecer. A única pessoa do grupo que não irá até o plenário da 1ª Turma é o general Braga Netto, que está preso preventivamente no Rio de Janeiro desde dezembro. Ele participa por videoconferência.

Os interrogatórios são parte da fase instrutória do processo criminal – momento de coleta de provas. As testemunhas do Ministério Público e da defesa já prestaram depoimento e ainda podem ser produzidas provas documentais e periciais, caso sejam solicitadas pelas partes e autorizadas pelo relator, ministro Alexandre de Moraes.

Podem ser realizadas, eventualmente, investigações adicionais para confirmar informações relevantes durante o processo. Só após essa fase as acusações e as defesas devem apresentar suas alegações finais e Moraes elaborará o relatório final para o julgamento.

Os depoimentos judiciais são divulgados no canal do STF no YouTube e na TV Justiça ao vivo. O Poder360 também realiza a transmissão no canal deste jornal digital no YouTube (inscreva-se e ative as notificações). No Brasil, o depoimento de réus em ações penais é, por regra, um ato público. Embora a transmissão ao vivo não seja comum, o STF já permitiu acesso de jornalistas e do público em outros casos semelhantes.

Até a terça-feira passada (10.jun), falaram: Mauro Cid, Alexandre Ramagem, o Almir Garnier, Anderson Torres e general Heleno.

Acompanhe os vídeos dos depoimentos dos acusados perante o STF.

Leia reportagens sobre o interrogatório de Mauro Cid:

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Fonte por: Poder 360

Marcos Oliveira é um veterano na cobertura política, com mais de 15 anos de atuação em veículos renomados. Formado pela Universidade de Brasília, ele se especializou em análise política e jornalismo investigativo. Marcos é reconhecido por suas reportagens incisivas e comprometidas com a verdade.