As amizades superficiais, muitas vezes baseadas em interesses momentâneos ou aparências, podem gerar insatisfação e vazio existencial
Vicente Serejo serejo@terra.com.br Não ocorreu há muito tempo. Provavelmente foi em meados de maio, quando o escritor João Pereira Coutinho, sempre cuidadoso, afirmou: “A tecnologia serve para resolver problemas práticos. Não serve para resolver problemas existenciais”. A lição não é útil aos que abordam os avanços tecnológicos.

Vicente Serejo
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Não foi há muito tempo atrás. Provavelmente ocorreu em meados de maio, quando o escritor João Pereira Coutinho colocou a frase bem no início d “A tecnologia serve para resolver problemas práticos. Não serve para resolver problemas existenciais”. A lição não é útil para aqueles que tratam dos avanços tecnológicos com o fervor de crenças religiosas, magias, amuletos ou coisas semelhantes. Mas, talvez explique um pouco da idiotice que nesses tempos substituiu o humanismo.
Com um tom pessimista e irônico, a perspicácia de Coutinho transcende o ordinário, evidentemente. Não se trata de um especialista mecânico, daqueles que propõem teses e, de súbito, se transformam em filósofos, cientistas políticos e exegetas dos mistérios da alma humana, como se fosse algo simples. Não. Principalmente não acredita de forma cega em milagres apresentados como verdades absolutas. Um humanista sabe que é preciso desconfiar de certezas fabricadas.
Uma das inovações da nova sociedade tecnológica, não aquela que usa a tecnologia como instrumento facilitador, mas milagrosa, concebeu novas práticas para o exercício dos sentimentos humanos. Coutinho chama a atenção para aquele que deve ser o mais estranho de todos: o amigo virtual. Aqueles que você nunca viu, com quem nunca conversou de fato, de função quase sempre utilitária.
A pobreza de sua visão é habilmente concebida. Ele parte de um princípio evidente como o utilitarismo: “A amizade é uma combinação de utilidade e prazer, que utilizamos conforme nossas necessidades”. Acredita que é pouco, e adiciona: “Um amigo, real ou virtual, existe para nos beneficiar ou entreter”. Pior, chega a comparar: “É como ir ao supermercado: cada um pega o que deseja”. É ingênuo quem pensa que o mundo atual possui apenas bebês reencarnados para mães carentes.
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Daí Coutinho buscou em Aristóteles a salvação para escapar do pântano da desinformação, para não mencionar a incultura. Recordou os três tipos de amizade: aqueles que são úteis no sentido de que nos auxiliam na vida prática; os que são prazerosos, mas frequentemente intensos e hedonistas, e quase sempre passageiros; e as grandes amizades, nascidas das virtudes: “Dois seres humanos se reconhecem como humanos, valorizam-se mutuamente e um deseja o bem do outro”.
Coutinho alerta: anelar pelo bem de uma máquina e esperar reciprocidade, é ilusório. Nenhuma máquina, por mais inteligente, possui virtudes. Para evitar digressões, o último parágrafo de João Pereira Coutinho, tão pleno e perfeito: “Hoje, o inefável Mark Zuckerberg lamenta que os americanos tenham apenas três amigos em suas vidas. Pobre Zuckerberg. Sabesse ele o que é a amizade e esses três amigos, se fossem de verdade, já seriam um tesouro e uma multidão”.
Cenário.
A governadora Fátima Bezerra, ao designar o chefe da Casa Civil, Raimundo Alves, como principal interlocutor, diminui a atuação da bancada do governo e concede destaque aos membros do PSDB.
Deputado petista manifesta: “Não há como negociar com a oposição na Câmara”.
A astrologia — o futuro político do Rio Grande do Norte, pelo menos para alguns líderes, já está sendo considerado descartado. São os astrós.
Argemiro Lima, um dos fotógrafos mais renomados deste Natal de Reis Magos e Magros, apresenta sua coleção de 12 postais com imagens da cidade. É possível adquiri-los no Sebo Vermelho.
Observando a decoração que adorna a cidade no seu Carnaval, o irresponsável JLM não poupou esforços e deixou: “É tão evidente a falta de bom gosto que os balões não balançam, balançam”.
ALIÃS â JLM sugere uma ideia evidente: âSe a Funcarte não fosse uma agência de shows, seria mais adequado um concurso com artistas da região em vez de gastar milhares contratando tantas estrelasâ.
Assim como o cemitério. / Os mortos não jazem / sob a terra. / Não estão ocultos / em um lençol de grama / mas sob a sua pele.
De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, acumulou ao longo dos anos uma existência marcada por dor e prazer: “O silêncio é uma forma sutil de vingança. É como uma erva daninha”.
Salão de beleza.
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Augusto Lula partiu, subtraindo-nos o valioso talento de leitor e cineasta, embora não fosse evidente. Nossa última refeição ocorreu nesta Caverna de Livros Velhos, um charmoso espaço criado pelas mãos de Daniele, sua esposa.
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Fonte por: Tribuna do Norte
Autor(a):
Lucas Almeida
Lucas Almeida é o alívio cômico do jornal, transformando o cotidiano em crônicas hilárias e cheias de ironia. Com uma vasta experiência em stand-up comedy e redação humorística, ele garante boas risadas em meio às notícias.