Zema busca levar a água produzida nos minas para Faria Lima

O governador busca a privatização da Copasa para diminuir a dívida de Minas Gerais, ao se aproximar do BTG e de investidores do centro financeiro de São…

6 min de leitura

(Imagem de reprodução da internet).

Na manhã de 15 de agosto, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), participou de um encontro na sede do BTG Pactual, em Faria Lima, em São Paulo. Em companhia de André Esteves, um dos banqueiros mais influentes do Brasil, abordaram temas de economia e cenários políticos, conforme relatório oficial. Imagens oficiais revelam sorrisos e um cumprimento com a mão.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Próximo ao local, no Edifício Plaza Iguatemi (que conta com o metragem mais caro da Faria Lima), estão localizados os escritórios da Perfin e da Belora RDVC City. A distância é tão reduzida que pode ser percorrida em cinco minutos de patinete elétrico, sem suor, molhar a roupa ou desgastar o calçado.

A relação entre o governo de Minas Gerais, bancos de investimento e fundos ligados à principal avenida do mercado financeiro nacional não se limita à localização geográfica.

LEIA TAMBÉM!

O contexto dessa articulação é o Programa de Pagamento Integral de Dívidas dos Estados, o Propag, implementado em 2024 pelo governo federal. O mecanismo possibilita a federalização ou a venda de ativos estaduais com o objetivo de diminuir a dívida pública com a União. No caso de Minas Gerais, o passivo excede 170 bilhões de reais. Para participar do programa, Zema encaminhou à Assembleia Legislativa a PEC 24/23, que extingue da Constituição estadual a exigência de referendo popular para a venda da Copasa e da Copanor, responsáveis pelo abastecimento de água e saneamento básico em Minas Gerais.

O substitutivo do relator, deputado Thiago Cota (PDT), restringiu a alteração ao setor de saneamento, mantendo a regra para a Cemig e a Gasmig, estatais de energia. A proposta foi interpretada pela oposição como uma manobra para flexibilizar a Constituição e acelerar a venda da Copasa. Em consulta pública no site da Assembleia, 11.798 pessoas se manifestaram contra a proposta, em comparação com 321 a favor.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O governador, em reunião com deputados estaduais em julho, admitiu que a privatização da Copasa era requisito para a adesão de Minas ao Propag. Isso significava que a questão não se limitava a uma simples posição da oposição: a relação entre o programa federal e a venda da estatal foi reconhecida pelo Executivo mineiro.

Com a disputa progredindo em Belo Horizonte, os movimentos na Faria Lima se intensificavam. Dias após a reunião entre Zema e Esteves, Perfin aumentou sua participação na Copasa para pouco mais de 5%, além de adquirir contratos derivativos que atuam como uma espécie de reserva, permitindo ampliar essa participação para mais de 10% no futuro. Paralelamente, as ações da Copasa subiram na Bolsa.

O BTG atua além de acionista, administrando os fundos da Perfin, proporcionando liquidez e auxiliando na definição do preço das ações da Copasa. Isso gera suspeitas de deputados em relação a possível especulação com informações privilegiadas.

Após o café da manhã com André Esteves na Faria Lima, representantes do banco chegaram em Belo Horizonte para reuniões reservadas com aproximadamente dez parlamentares estaduais, de diversos partidos, a fim de demonstrar seu interesse na privatização.

Em paralelo a essa situação, em abril, Guilherme Duarte, após deixar a presidência da Copasa, ingressou na incorporadora RDVC City (posteriormente Belora, vinculada ao grupo Reag). Mesmo nessa nova função, ele permaneceu no conselho da estatal. Em agosto, no mesmo dia em que a Perfin expandiu sua participação na Copasa, Duarte renunciou à presidência da Belora.

Belora e Perfin compartilham o mesmo edifício da Faria Lima: uma no quinto andar, a outra no terceiro. Para a deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL), essa sobreposição de locais e caminhos constitui um “aranhamento” que conecta o governo mineiro, a BTG e fundos de investimento no processo de privatização da Copasa.

É notável que, nesta frente contra Zema, a esquerda encontrou uma companhia inesperada. O PSDB, historicamente oposto ao campo progressista em Minas, retomou o lema “Minas não está à venda” e utilizou Aécio Neves em uma estratégia de comunicação para combater a privatização da Copasa.

É importante considerar que o conselho de administração da estatal foi formado em abril de 2024. O grupo é composto por executivos com vasta experiência em privatizações e concessões, incluindo Hamilton Amadeo, ex-CEO da Aegea Saneamento entre 2010 e 2020. Sua participação é relevante, visto que a Aegea, maior operadora privada de água e esgoto do Brasil, demonstrou interesse na aquisição da Copasa.

A atuação do BTG em Minas, no entanto, não se limita ao saneamento. O banco estruturou concessões de rodovias estaduais e, no primeiro semestre de 2025, assumiu a gestão de 2,8 bilhões de reais destinados à expansão do metrô de Belo Horizonte, após decisão do governo mineiro de transferir a conta da Caixa Econômica Federal.

A alteração motivou a convocação do secretário de Infraestrutura, Pedro Bruno, para prestar esclarecimentos sobre a operação. Com estradas, metrô e, atualmente, saneamento, o BTG tornou-se um interlocutor de destaque do governo Zema.

Sindicatos e movimentos sociais têm conseguido impedir o andamento da PEC na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia. Através de mobilizações e obstruções, já atrasaram a análise do projeto diversas vezes.

A privatização da Copasa tornou-se um ativo político no projeto do governo de Zema. Com escasso apoio dentro do partido e longe da base bolsonarista, o governador busca se apresentar como alternativa liberal em 2026, ainda assim, mantém contato com a extrema-direita, frequentemente por meio de declarações controversas.

O argumento em favor da gestão eficiente, baseado na promoção de privatizações, demonstra-se como um atrativo para investidores que poderiam, em princípio, apoiar sua candidatura. O contato com André Esteves aconteceu justamente um dia antes do anúncio de sua pré-candidatura na capital paulista.

Em 2015, Esteves foi preso na Lava Jato, sob a acusação de obstrução de investigações. Posteriormente, foi absolvido e retomou a liderança do BTG, retornando ao principal patamar do sistema financeiro. O indivíduo ocupa a quarta posição no ranking de bilionários do país, com um patrimônio de 51 bilhões de reais, conforme dados da Forbes.

A imagem de Zema ao lado do banqueiro evidencia a relação entre um governador com ambições presidenciais e um dos maiores e mais influentes empresários do país.

Fonte por: Carta Capital

Autor(a):

Com uma carreira que começou como stylist, Sofia Martins traz uma perspectiva única para a cobertura de moda. Seus textos combinam análise de tendências, dicas práticas e reflexões sobre a relação entre estilo e sociedade contemporânea.

Sair da versão mobile