Violência sexual é a principal violação que afeta meninas, revela pesquisa no Brasil

Pesquisa online reúne avaliações de 824 pessoas de diversas classes sociais e regiões do Brasil.

13/10/2025 14:07

5 min de leitura

(Imagem de reprodução da internet).

A violência sexual contra meninas no Brasil

A violência sexual é identificada por 87% dos brasileiros como a principal forma de violação que afeta meninas no país. Além disso, 43% da população a considera a mais comum. Esses dados são provenientes da pesquisa ‘Percepções sobre violência e vulnerabilidade de meninas no Brasil’, realizada pelo Instituto QualiBest.

A pesquisa foi realizada com 824 pessoas de diversas classes sociais e regiões do Brasil, sendo 433 mulheres e 381 homens. Foram analisadas as violências física, psicológica e online, incluindo casos de cyberbullying, assédio e exposição de imagens na internet.

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O levantamento também revelou que 90% dos entrevistados percebem a adultização de meninas como uma forma de violência. Dentre esses, 61% acreditam que a adultização representa uma violência total, enquanto 29% a veem como um problema parcial.

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A especialista em gênero e inclusão da Plan Brasil, Ana Nery Lima, destaca a baixa menção a questões como falta de acesso à educação (36%), casamento infantil (43%), trabalho infantil (46%) e negligência (48%).

“Quando falamos de violência baseada em gênero, a primeira imagem que vem à mente é a agressão física. Contudo, existem diversas outras formas de violência que podem levar à violência física e ao feminicídio”, afirma Lima, ressaltando a importância do reconhecimento das vítimas sobre o tipo de violência que sofreram para que possam denunciar adequadamente.

Seis em cada dez pessoas acreditam que, atualmente, as meninas estão “muito mais vulneráveis” do que há dez anos. Essa percepção é mais forte entre pais e mães, com 69% desse grupo reforçando essa visão.

Ambiente digital e vulnerabilidade

Entre os mais de 800 respondentes, 92% concordam que a internet e as redes sociais aumentam a vulnerabilidade das meninas. Aproximadamente 51% dos participantes afirmaram que seus filhos menores de 18 anos têm perfis nas redes sociais, sendo Instagram, WhatsApp, TikTok e YouTube os mais utilizados.

Dos 359 entrevistados, 74% disseram publicar fotos de seus filhos menores de 18 anos nas redes sociais. Mais de um quarto (27%) compartilha essas imagens com frequência em perfis fechados, enquanto 33% publicam “raramente e de forma controlada”. Apenas 6% fazem isso em perfis abertos, tomando precauções como restringir comentários.

Um total de 8% publica fotos sem restrições. Além disso, 92% dos participantes apoiam a responsabilização de adultos que se beneficiam financeiramente da exposição de meninas na internet ou que as colocam em risco online.

Ameaças dentro de casa

A pesquisa revelou que 83% da população considera a internet o ambiente mais perigoso para meninas, em comparação a 33% que apontam suas próprias casas como locais de risco. Essa percepção é semelhante entre as mulheres entrevistadas, com 37% indicando a casa como um ambiente perigoso.

Os pesquisadores observam que essa visão pode ser discutível, já que a maioria das violências de gênero, tanto contra meninas quanto contra mulheres adultas, ocorre em casa e é perpetrada por pessoas conhecidas, incluindo familiares e parceiros.

A diretora da SaferNet Brasil, Juliana Cunha, explica que a percepção de segurança em casa é influenciada por fatores culturais, que fazem com que muitos considerem os lares menos ameaçadores do que as ruas e o transporte público.

“Ainda temos uma ideia de risco associada a estranhos, mas muitas vezes a violência vem de pessoas próximas, como colegas ou até mesmo adolescentes”, complementa Ana Nery Lima.

Deep fake e educação

Um dos métodos de violação dos direitos das meninas que tem se espalhado na internet é o deepfake, que combina o rosto de uma garota com o corpo de outra em contextos sexuais, sem o consentimento de ambas. Essas imagens podem ser criadas sem a utilização de imagens reais de crianças ou adolescentes.

Na última segunda-feira (6), a SaferNet Brasil divulgou um relatório sobre deepfakes sexuais, identificando 16 casos em escolas de dez estados após analisar centenas de notícias de 2023 até agora. Foram registradas 72 vítimas e 57 agressores, todos com menos de 18 anos.

Os estados com mais ocorrências incluem Alagoas, Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, com a maioria dos crimes ocorrendo em instituições de ensino particulares.

Embora o número de casos identificados seja menor em comparação a imagens de abuso sexual sem o uso de IA, a SaferNet ressalta a falta de monitoramento por parte das autoridades sobre esses crimes, dificultando a compreensão da real dimensão do problema.

Autor(a):

Ambientalista desde sempre, Bianca Lemos se dedica a reportagens que inspiram mudanças e conscientizam sobre as questões ambientais. Com uma abordagem sensível e dados bem fundamentados, seus textos chamam a atenção para a urgência do cuidado com o planeta.