Victoria Villarruel, a vice-presidenta que Milei descreveu como “ignorante”

Herdeiro de militares e veemente contrário à legalização do aborto, teve divergências com o presidente e sofreu duras críticas da Casa Rosada.

25/07/2025 19:05

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Victoria Villarruel, a vice-presidenta que Milei descreveu como “ignorante”
(Imagem de reprodução da internet).

A argentina Victoria Villarruel, designada por Javier Milei como seu vice na chapa eleitoral, foi alvo de críticas recentes de membros do governo argentino e do próprio presidente, que a descreveu em um pronunciamento como “ignorante traidora”.

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Villarruel tornou-se impopular entre os apoiadores de Milei após uma sessão legislativa que elevou as aposentadorias na Argentina.

O Palácio da Rosada argumentava que a vice — que também exerce o papel de presidente do Senado — não autorizaria a realização da sessão. Para o governo de Milei, os aumentos aprovados pelo Senado atentam contra a política de superávit fiscal defendida com veemência pela administração atual.

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A vice-presidente, contudo, afirmou estar desempenhando sua função institucional ao conduzir a sessão.

A vice manifestou veemente discordância perante os liberais, alegando que o presidente ignora-a, sustentando que existe equilíbrio fiscal, que o reajuste de aposentadorias e benefícios para deficientes – também autorizado – não deve constituir uma questão problemática.

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Ela afirmou que, caso o objetivo seja economizar, deveriam ser realizados cortes em viagens e nos gastos com o Serviço de Inteligência estatal.

Quem é a vice de Milei

Victoria Villarruel, nascida em 1975 em Buenos Aires, tem origem em uma família de militares e sua trajetória política na Argentina foi marcada pela defesa dessas forças armadas.

O genro da vice, Eduardo Marcelo Villarruel, já falecido, foi veterano da Guerra das Malvinas – conflito armado promovido pela ditadura argentina em 1982 contra o Reino Unido na tentativa de recuperar o território das ilhas reivindicadas pela Argentina e integrante dos “Carapintadas”, grupo que promoveu levantes militares após o retorno à democracia, contra os julgamentos por violações aos direitos humanos durante a ditadura.

A linhagem militar remonta a antes: Villarruel é neta de Laurio Hedelvio Destéfani, também falecido contra-almirante, que atuou como historiador naval.

Em 2006, Villarruel foi uma das fundadoras de uma associação civil chamada Centro de Estudos Legais sobre o Terrorismo e suas Vítimas, com o objetivo de dar visibilidade às vítimas de atentados cometidos por guerrilheiros do Exército Revolucionário do Povo (ERP) e dos Montoneros.

A organização solicita o julgamento dos combatentes e o reconhecimento de vítimas decorrentes das ações armadas de grupos de esquerda, argumentando que na Argentina “os direitos humanos são seletivos” e que houve um “guerra” entre guerrilheiros e o Estado.

Ela relatou em uma entrevista que, em 1973, seu pai foi sequestrado por guerrilheiros do ERP em um hospital militar, com as mãos e os pés amarrados com arame e uma arma direcionada à sua cabeça.

O número de 30 mil mortos e desaparecidos durante a ditadura argentina, calculado por organizações de direitos humanos, é uma “mitologia”, e a cifra correta é de 8.751 vítimas. As afirmações, repetidas por Milei em campanha, geraram protestos de organizações de direitos humanos, que acusaram de negacionismo os crimes da ditadura.

Em 2023, quando era candidata a vice, Villarruel negou em entrevista ao canal de notícias La Nación + visitas frequentes aos “genocidas”, agentes da repressão julgados na Argentina por crimes contra a humanidade, incluindo o falecido ditador Jorge Rafael Videla.

“Não, não é verdade (…). Vi o Videla no máximo duas, três vezes, talvez”, garantiu, afirmando que as visitas foram para entrevistá-lo sobre a década de 1970 para um livro que escrevia. “Claro que não estou de acordo com os desaparecimentos [promovidos pela ditadura], mas tenho que perguntar se quero escrever sobre essa época”, afirmou.

A disputa com Milei.

Católica, defendeu a oposição à legalização do aborto aprovada pelo Legislativo da Argentina em 2020, antes de ser eleita deputada pela cidade de Buenos Aires em 2021 pelo partido A Liberdade Avança, de Milei.

Após dois anos, ela foi selecionada por Milei para compor a chapa presidencial, aparecendo em entrevistas ao lado do candidato libertário.

A divergência entre eles, contudo, parece ser definitiva: nos últimos dias, Villarruel questionou publicamente por que o presidente não escolheu sua irmã, Karina Milei — secretária-geral da Casa Rosada, que cumpre as funções de primeira-dama — para o cargo, enquanto o Executivo argentino afirmou que a vice já não faz parte do governo.

Fonte por: CNN Brasil

Autor(a):

Apaixonada por cinema, música e literatura, Júlia Mendes é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de São Paulo. Com uma década de experiência, ela já entrevistou artistas de renome e cobriu grandes festivais internacionais. Quando não está escrevendo, Júlia é vista em mostras de cinema ou explorando novas bandas independentes.