Vera Iaconelli: Violência no Brasil gera trauma coletivo e afeta crianças em favelas

Vera Iaconelli alerta sobre o trauma coletivo da violência no Brasil, destacando seu impacto nas crianças e a necessidade de um luto reconhecido pela sociedade.

30/10/2025 20:57

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(Imagem de reprodução da internet).

Trauma Coletivo e Violência no Brasil

A psicanalista Vera Iaconelli afirmou que a violência no Rio de Janeiro, a mais letal da história do país, representa “mais um trauma coletivo”. Ela destacou que a repetição desses episódios intensifica o sofrimento social e individual. “Esses traumas não são fatos isolados.

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Eles vêm em uma cadeia de acontecimentos, e a sensação de que pode acontecer novamente se reforça”, declarou em entrevista.

Segundo Iaconelli, a violência sistemática contra populações periféricas e negras integra um ciclo histórico de adoecimento. “Estamos falando de uma violência reiterada com as comunidades periféricas negras, que parecem sempre pagar a conta de uma sociedade que não se enxerga”, afirmou.

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Ela ressaltou o impacto profundo sobre as crianças que crescem em áreas marcadas por confrontos armados.

Impacto nas Crianças

As crianças se acostumam e naturalizam a experiência de violência, que se torna parte de suas vidas. “Elas estão sempre alertas, com sono e alimentação prejudicados. Um rojão que estoura pode ser uma bala. Sabem que podem morrer dentro de casa, assistindo televisão”, relatou Iaconelli.

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O estresse contínuo se reflete em doenças físicas e mentais ao longo da vida.

O Luto Coletivo

Ao discutir o luto coletivo, Iaconelli enfatizou que as comunidades afetadas por chacinas têm seu processo de elaboração interrompido pela falta de reconhecimento social e institucional das perdas. “O luto é uma cicatrização psíquica. Para isso, o evento deve estar no passado, não pode ser contínuo.

Não se pode fazer luto de algo que não acabou”, explicou.

Ela acrescentou que o direito ao luto está ligado à dignidade das vítimas e ao reconhecimento público do ocorrido. “Essas questões são negadas a essas pessoas. Não é apenas a perda de um ente querido, mas a forma como ignoramos”, comparou.

Uma Sociedade Adoecida

Iaconelli também destacou que a violência nas favelas deveria comover toda a sociedade brasileira, mas isso não ocorre. “Todos os brasileiros deveriam acordar envergonhados, com um pouco de luto, pois é nossa sociedade que sofre”, disse. “As comunidades não são alheias à cidade, são grandes bairros onde o governo não oferece infraestrutura e deixa esses locais ao Deus dará”, reforçou.

Para ela, a repetição de massacres reflete uma mentalidade vingativa, não políticas de segurança pública eficazes. “Essas ações parecem uma grande vingança histórica, sem inteligência por trás. Não há investigação ou operação que demonstre um real desejo de resolver o problema”, destacou.

Conservadorismo e Banalização da Violência

A psicanalista analisou o contexto político que alimenta narrativas de ódio e extermínio. “O brasileiro é, em geral, conservador e tem medo de mudanças. Precisamos olhar para isso com mais carinho”, indicou. O avanço das redes sociais agrava a banalização da violência, que se mistura ao cotidiano das pessoas, dessensibilizando-as.

Por fim, Iaconelli defendeu que a sociedade e o Estado repensem a abordagem em relação à segurança pública e à regulação das plataformas digitais. “É necessário entender o problema e parar de atuar violentamente, pois não se compreende o que está em jogo nessas situações”, sugeriu.

Autor(a):

Ex-jogador de futebol profissional, Pedro Santana trocou os campos pela redação. Hoje, ele escreve análises detalhadas e bastidores de esportes, com um olhar único de quem já viveu o outro lado. Seus textos envolvem os leitores e criam discussões apaixonadas entre fãs.