O partido PSUV conquistou a eleição presidencial, obteve vitória expressiva nos estados e busca replicar o resultado nos municípios.
Milhões de venezuelanos votarão pela terceira vez em 12 meses no próximo domingo (27), em um pleito que já é considerado uma legitimação do poder eleitoral do chavismo. Após vencer uma eleição presidencial contestada pela oposição, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) obteve 23 dos 24 estados no pleito dos governadores e deputados realizado em maio e, agora, busca repetir o resultado nas prefeituras.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Na avaliação do partido, o objetivo é conquistar as prefeituras da maioria das 335 cidades e dos 2.471 cargos de vereadores, o que encerraria o ciclo eleitoral em todas as esferas: nacional, estadual e municipal. Isso é relevante porque Nicolás Maduro obteve vitória em 28 de julho de 2024, um pleito contestado pela oposição e não reconhecido pela maior parte dos países do Norte Global. Estados Unidos e União Europeia iniciaram uma pressão sobre o governo chavista, exigindo a divulgação dos resultados detalhados.
A oposição de extrema direita acusou de fraude, sem apresentar evidências, e se sustentava em uma falha do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). O órgão não divulgou os resultados das eleições presidenciais nem dos governos estaduais, e o site está inoperante desde a alegação de ataques cibernéticos.
A eleição para escolher os prefeitos ocorre neste contexto de encerramento de um ciclo eleitoral, caracterizado pela mobilização chavista e pela ausência da oposição. Em um país onde o voto é facultativo, a esquerda demonstrou uma capacidade superior de atrair eleitores às urnas e, nos últimos dois meses, conseguiu mobilizar cerca de 5 milhões de venezuelanos que participaram dos pleitos quase sem oposição.
O resultado foi similar aos 6,4 milhões de votos obtidos por Nicolás Maduro no ano anterior, em contraste com a ausência da direita na eleição. A estratégia dos partidos conservadores buscou justamente “deslegitimar” o processo com uma abstenção elevada. A ex-deputada ultraliberal Marícia Corina Machado lidera atualmente a extrema direita e incentivou os venezuelanos a não comparecerem às urnas.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
A participação foi de pouco mais de 25%, utilizada pelos opositores como uma “vitória narrativa”. Na prática, não houve protestos, contestação e os governadores e deputados foram juramentados e agora terão 5 anos de gestão.
Há, contudo, outros componentes que influenciam na ausência dos eleitores. Primeiramente é uma abstenção histórica nas eleições municipais na Venezuela. O último pleito, em 2021, contou com uma participação de 42,26%, enquanto o anterior, em 2017, teve 61,05%. Outra questão importante é que, na Venezuela, o voto não é obrigatório. Para analistas, isso desestimula a participação eleitoral, ainda mais se considerado o estresse eleitoral dos últimos meses.
O governo possui duas estratégias para incentivar a participação eleitoral. A primeira delas é a proximidade com os venezuelanos na campanha eleitoral. Para o líder do comando de campanha e presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, a estratégia de aproximar os candidatos dos eleitores foi bem-sucedida na disputa para governadores, e o PSUV busca utilizar o mesmo modelo para as eleições municipais.
Estamos na fase final do que será mais uma vitória histórica para a Revolução Bolivariana. Buscamos conquistar todas as 335 prefeituras municipais. Nossos candidatos se deslocaram por toda a República, visitando as ruas e casas dos cidadãos, o que um prefeito deve realizar.
O centro-direita está fragmentado.
A direita se apresenta às eleições de domingo, ainda dividida. Apesar da extrema direita, liderada por Maria Corina Machado, insistir no boicote ao pleito, uma parcela expressiva dos opositores, denominados “democráticos”, acredita que é necessário disputar os espaços de poder. Partidos como a Fuerza Vecinal e Un Nuevo Tiempo, além dos tradicionais Ação Democrática e Copei, não desejam perder o controle de algumas cidades importantes.
Baruta, Chacao e Lechería são alguns dos municípios mais ricos da região metropolitana de Caracas e são governados pela direita há anos. Para muitos opositores, perder esses espaços seria não só enfraquecer ainda mais a oposição, mas também entregar ao chavismo um nicho importante de recursos e poder político.
Rio Essequibo de fora
Na área em disputa entre Guiana e Venezuela, o enclave do Essequibo não realizará eleições desta vez. Em maio, o governo venezuelano promoveu o primeiro pleito para governador naquela região que atualmente está sob administração de Georgetown. A votação não ocorreu em território guianês devido à falta de autorização para isso, e foi realizada na cidade de Sifontes, que se localiza na fronteira com a Guiana e pertence ao estado de Bolívar.
O comando de campanha informou que não seria possível realizar a votação no território devido à inexistência de uma divisão administrativa de municípios estabelecida na região do Essequibo.
O Essequibo possui aproximadamente 100 mil habitantes, conforme o último censo conduzido em 2012, representando uma parcela de 745 mil que residem no país.
Fonte por: Brasil de Fato
Autor(a):
Apaixonada por cinema, música e literatura, Júlia Mendes é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de São Paulo. Com uma década de experiência, ela já entrevistou artistas de renome e cobriu grandes festivais internacionais. Quando não está escrevendo, Júlia é vista em mostras de cinema ou explorando novas bandas independentes.