Vacina desenvolvida pela USP contra o zika apresenta resultados positivos em testes

Vacina se mostrou segura e eficaz em camundongos, protegendo o cérebro e os testículos dos animais infectados.

13/07/2025 6:55

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Vacina desenvolvida pela USP contra o zika apresenta resultados positivos em testes
(Imagem de reprodução da internet).

Miranda explica que a estratégia utilizada na formulação se baseia em uma tecnologia conhecida como “partículas semelhantes a vírus” (VLPs, na sigla em inglês de virus-like particles). “Diferente de estratégias mais tradicionais, que utilizam inoculação de vírus atenuado ou inativado, nessa formulação não usamos o material genético do patógeno, o que torna seu desenvolvimento muito mais seguro, econômico e sem a necessidade de substâncias que potencializam a resposta imune [adjuvantes]”, afirma.

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A tecnologia é geralmente dividida em dois componentes principais: a partícula carregadora (VLP), que tem a função de permitir que o sistema imunológico reconheça a presença de um vírus, e o antígeno viral, responsável por estimular o sistema imunológico a produzir anticorpos específicos – neste caso, contra o vírus Zika – que impedem a entrada do patógeno nas células.

A vacina desenvolvida pelos pesquisadores do IMT empregou uma plataforma já bem estudada, chamada QβVLP, como VLP. Essa plataforma imita a estrutura viral, possibilitando que o sistema imune “reconheça” uma ameaça. Já o antígeno selecionado foi o EDIII, uma parte da proteína do envelope do vírus zika, cuja função é se conectar a um receptor nas células humanas.

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As VLPs, produzidas no laboratório da USP por meio de bactérias [Escherichia coli] e quimicamente conjugadas ao antígeno, são utilizadas. Essa estrutura combinada imita um vírus real, com o EDIII preso na parte externa da plataforma, conforme afirma Nelson Cortés, 1º autor do estudo. Quando a formulação é injetada no organismo, essa combinação ativa uma forte resposta do sistema imune, incluindo anticorpos e células do tipo Th1, um subtipo de linfócitos T que desempenha funções cruciais na resposta imunológica.

Estudos com camundongos geneticamente modificados e mais vulneráveis ao vírus demonstraram que a vacina promoveu a produção de anticorpos que neutralizaram o vírus e evitou a progressão da infecção e o desenvolvimento de sintomas.

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Os pesquisadores também investigaram os efeitos da infecção pelo vírus zika em diversos órgãos de camundongos – como cérebro, rins, fígado, ovários e testículos. “A vacina demonstrou capacidade de proteger camundongos machos contra danos testiculares”, diz Còrtes. “Isso é importante diante dos riscos conhecidos da transmissão sexual do vírus zika e de seu potencial para causar lesões nos testículos, o que pode afetar negativamente a espermatogênese e a saúde reprodutiva como um todo”.

O vírus Zika apresenta uma característica que dificulta o desenvolvimento de vacinas: é muito parecido com os 4 sorotipos do vírus da dengue e circula no mesmo ambiente de transmissão. A semelhança faz com que os anticorpos possam “confundir” um patógeno com outro. É o que os cientistas chamam de reação cruzada, algo que, inicialmente, pode parecer bom – afinal, o sistema imune reconhece um vírus semelhante.

Contudo, se os anticorpos não forem suficientemente eficazes para impedir uma segunda infecção por outro sorotipo de dengue, por exemplo, ocorre um efeito bumerangue. Os anticorpos se ligam ao vírus e facilitam a célula hospedeira a englobar o patógeno. Desta forma, o próprio organismo auxilia na infecção das células.

O imunizante não causa reação cruzada, o que é muito positivo. Estudos anteriores do grupo já haviam analisado essa questão e o uso do antígeno EDIII permite que o sistema imune produza anticorpos mais específicos para o vírus zika, evitando o problema, afirma Miranda.

www.nature.com/articles/s41541-025-01163-4.

Com informações da Agência Fapesp.

Fonte por: Poder 360

Autor(a):

Com formação em Jornalismo e especialização em Saúde Pública, Lara Campos é a voz por trás de matérias que descomplicam temas médicos e promovem o bem-estar. Ela colabora com especialistas para garantir informações confiáveis e práticas para os leitores.