Tesouro Nacional aprova empréstimo de R$ 12 bilhões para os Correios, mas especialistas alertam sobre riscos e necessidade de reestruturação urgente.
O Tesouro Nacional autorizou um empréstimo de R$ 12 bilhões para os Correios, um montante inferior aos R$ 20 bilhões que a estatal havia solicitado inicialmente. A operação de crédito terá uma taxa de juros de 115% do custo de captação e contará com a participação de cinco instituições financeiras, sendo três privadas e duas públicas.
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Cláudio Felisoni, professor da FIA Business, comentou que, embora a negociação tenha sido considerada bem-sucedida em comparação à proposta original, existem preocupações significativas sobre o impacto dessa operação nas contas públicas. Ele destacou que a estatal poderá utilizar apenas R$ 5,8 bilhões em 2025, quantia que corresponde exatamente ao déficit primário previsto para o ano.
Felisoni enfatizou que os problemas enfrentados pelos Correios não são novos. “Essa questão dos Correios não é de hoje”, afirmou. Ao longo do tempo, a estatal apresentou resultados variados, alternando entre períodos de recuperação e outros de desempenho insatisfatório, sem conseguir implementar as transformações estruturais necessárias.
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Para que os Correios consigam superar esses desafios, o professor acredita que uma reconfiguração operacional completa é essencial. “É preciso adotar tecnologias mais apropriadas, ser mais eficiente, aumentar a automação na triagem de cartas e pacotes, diversificar serviços, incluindo serviços financeiros e parcerias com empresas privadas”, explicou.
Uma das principais preocupações levantadas por Felisoni é a possibilidade de os Correios não conseguirem honrar o empréstimo. “Se isso não for pago, se os Correios não conseguirem superar essas condições, evidentemente”, alertou. Outro ponto negativo é o precedente que essa operação pode criar para outras estatais deficitárias, que poderiam esperar socorro semelhante do governo.
“Um dos aspectos negativos é que, na última hora, o governo procura maneiras de socorrer essas empresas para manter o status quo”, observou o professor.
Apesar das críticas, Felisoni reconhece a relevância de um serviço postal público em um país com as características sociais do Brasil. “Dada a configuração da estrutura social brasileira, é razoável que tenhamos uma empresa operando com grande participação do Estado ou sendo totalmente pública”, afirmou.
No entanto, ele enfatiza que o modelo de gestão precisa ser reformulado. “O que não é razoável é essa forma de gestão. É preciso que essa operação de crédito abra caminho para uma mudança na estrutura organizacional”, concluiu, defendendo que as interferências políticas sejam limitadas para evitar que a empresa onere ainda mais a situação fiscal do país.
Autor(a):
Gabriel é economista e jornalista, trazendo análises claras sobre mercados financeiros, empreendedorismo e políticas econômicas. Sua habilidade de prever tendências e explicar dados complexos o torna referência para quem busca entender o mundo dos negócios.