Terras raras: importância e riscos da dependência global da China e o papel do Brasil

Dependência mundial da China em terras raras gera preocupação com segurança tecnológica e acelera busca por novas fontes, com o Brasil se destacando globalmente…

25/10/2025 6:05

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(Imagem de reprodução da internet).

Terras raras: um novo foco geopolítico e econômico

Por muitos anos, as terras raras estiveram fora do debate público, limitadas a discussões técnicas em geologia e química. Atualmente, esses elementos estão em evidência nas esferas geopolíticas e econômicas, especialmente após os Estados Unidos ameaçarem anexar regiões ricas nesses recursos, como a Groenlândia, e a China restringir suas exportações. Essa ação visa diretamente a indústria americana de alta tecnologia.

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Apesar do nome, as terras raras não são tão escassas. Elas consistem em um grupo de 17 elementos químicos, incluindo neodímio, praseodímio, disprósio, térbio e lantânio, que podem ser encontrados em minerais como monazita e xenotímio.

O desafio da extração e refino

O termo “raro” refere-se ao complexo e poluente processo de separação e refino, que é caro e exige tecnologia avançada e rigoroso controle ambiental. Esses elementos são essenciais em quase toda a tecnologia moderna, como celulares, computadores, turbinas eólicas, painéis solares, veículos elétricos, mísseis, radares e aeronaves militares.

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Além disso, são fundamentais na transição energética, utilizados na fabricação de ímãs permanentes para motores elétricos e geradores, assim como em baterias de alta densidade. As maiores reservas conhecidas estão na China, Brasil, Vietnã, Rússia e Austrália, conforme dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos.

Domínio da China na cadeia produtiva

Embora as reservas de terras raras estejam relativamente bem distribuídas, a China controla quase toda a cadeia produtiva, desde o refino até a fabricação de componentes de alto valor agregado. Atualmente, cerca de 60% da mineração global ocorre em solo chinês, e alarmantes 91% do refino mundial é realizado por empresas chinesas, que também produzem 94% dos ímãs permanentes utilizados em turbinas e motores.

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A Agência Internacional de Energia (IEA) classificou essa concentração como um risco geopolítico significativo, alertando que o controle chinês permite a Pequim influenciar preços, regular o acesso de países concorrentes e determinar o progresso de tecnologias estratégicas, como semicondutores e veículos elétricos.

Repercussões da restrição chinesa

A recente decisão do governo chinês de restringir ainda mais as exportações de terras raras, incluindo produtos que contenham esses elementos, gerou impactos globais e acelerou a busca do Ocidente por fontes alternativas. Empresas da Austrália, Canadá e Estados Unidos já começaram a investir em mineração e refino fora da Ásia.

Para os EUA, essa questão é particularmente sensível, pois a supremacia militar e tecnológica pode ser comprometida se a China aumentar seu controle sobre insumos essenciais para defesa, inteligência artificial e energia limpa. Nesse cenário, o Brasil se destaca, possuindo a segunda maior reserva de terras raras do mundo, mas ainda com baixa produção e refino.

Desenvolvimento da indústria nacional

Atualmente, o Brasil não possui um marco regulatório específico para o setor, e sua cadeia produtiva é incipiente. No entanto, empresas ocidentais já iniciaram a aquisição de projetos e pesquisas geológicas no país. O governo federal criou o Conselho Nacional de Política Mineral, que tem a tarefa de formular diretrizes para a exploração sustentável desses recursos.

Na Câmara dos Deputados, o debate sobre a Política Nacional de Minerais Críticos está avançando. Mineradoras estrangeiras veem o Brasil como um potencial “fornecedor seguro” de insumos estratégicos. Um acordo para o fornecimento de terras raras aos EUA poderia ser parte de um entendimento com Donald Trump no contexto de tarifas.

Investimentos e perspectivas futuras

A Viridis Mining & Minerals, uma empresa australiana, anunciou a construção de um centro de pesquisa e processamento de terras raras em Poços de Caldas (MG), sem tecnologia chinesa. O objetivo é consolidar o Projeto Colossus como uma alternativa ocidental na cadeia global de minerais críticos.

Especialistas afirmam que esse tipo de investimento privado é crucial para o desenvolvimento da indústria nacional, dada a complexidade técnica e os altos custos envolvidos. O governo brasileiro rejeita a ideia de que o país se torne apenas um exportador de matéria-prima, buscando atrair transferência de tecnologia e estimular a industrialização local.

Minerais críticos têm o potencial de elevar o PIB do Brasil em R$ 243 bilhões até 2050.

Autor(a):

Com uma carreira que começou como stylist, Sofia Martins traz uma perspectiva única para a cobertura de moda. Seus textos combinam análise de tendências, dicas práticas e reflexões sobre a relação entre estilo e sociedade contemporânea.