A combinação de crenças religiosas com a política tem gerado um fenômeno alarmante: o surgimento da “conspiranoia religiosa”, conforme aponta o pastor, teólogo e sociólogo Valdinei Ferreira, professor da Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB), em sua participação no programa “WW Especial”, da CNN, que discutiu o impacto da religião na política brasileira.
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Ferreira aponta que essa tendência fomenta o aumento da polarização e da intolerância entre grupos ideológicos distintos. Ele ressalta que a identidade religiosa foi “sequestrada” pela identidade política, convertendo divergências ideológicas em conflitos que se assemelham ao sectarismo religioso. Consequentemente, grupos com visões distintas passaram a se considerar inimigos, renunciando a valores essenciais como o amor ao próximo e a aceitação das diferenças.
As virtudes cristãs essenciais para a construção da comunidade – comunidade no sentido político, de nação – acabam sucumbindo ao tribalismo. Meu Deus se torna o opositor do seu Deus, da minha religião, da sua religião, da sua fé. Não conseguimos mais ter uma discussão civilizada de ideias em campos políticos diferentes. Virou uma guerra em que se precisa aniquilar o outro.
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História e paralelos
Ferreira estabelece uma comparação histórica da Reforma Protestante de 1517, que representou a divisão entre Igreja e Estado. O teólogo aponta que, da mesma forma que a invenção da imprensa por Johannes Gutenberg foi fundamental para a propagação das ideias de Martinho Lutero (1483-1546), atualmente as redes sociais desempenham um papel análogo na disseminação de teorias conspiratórias.
O fenômeno atual, segundo o teólogo, assemelha-se à caça às bruxas do século XVI, em que o diferente era demonizado e perseguido. “Na conspiritualidade moderna, aquele que pensa diferente é visto como uma ameaça a ser eliminada, substituindo virtudes cristãs como generosidade e doação por sentimentos de ódio e intolerância”, explica.
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Ferreira também critica o emprego de títulos religiosos em campanhas políticas, como “pastor” ou “apóstolo”, sustentando que essa prática fomenta a combinação prejudicial entre religião e política. Essa mistura, segundo ele, acarreta consequências negativas para o debate público e para a própria natureza da fé.
Deseja-se que a crítica se transformasse em uma realidade evidente, ou seja, a conversão ou a fusão entre a identidade religiosa e a identidade política, ou, alternativamente, a identidade política assumisse a primazia sobre a identidade religiosa.
WW Especial
O programa, apresentado por William Waack, é exibido aos domingos, às 22h, em todas as plataformas da CNN Brasil.
Fonte por: CNN Brasil