Tartaruga gigante do Mioceno é descoberto no Acre

Primeira expedição, com projeto financiado pela Iniciativa Amazônia+10, identifica evidências sobre a Amazônia de milhões de anos atrás.

28/07/2025 10:39

7 min de leitura

Tartaruga gigante do Mioceno é descoberto no Acre
(Imagem de reprodução da internet).

Um fóssil raro e surpreendentemente bem conservado de uma tartaruga-gigante, datado entre 10,8 e 8,5 milhões de anos atrás, período do Mioceno, foi descoberto na região de Boca dos Patos, em Assis Brasil, no Acre.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A descoberta foi realizada por uma equipe de pesquisa coordenada pelos professores e paleontólogos Carlos D’Apolito Júnior, da Universidade Federal do Acre (Ufac), e Annie Schmaltz Hsiou, da Universidade de São Paulo (USP), coordenadores do projeto “Novas fronteiras no registro fossilífero da Amazônia Sul-ocidental”, financiado pelo edital Expedições Científicas, da Iniciativa Amazônia+10 – programa do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fapesp e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Acre (Fapac).

Encontramos uma carapaça da maior tartaruga de água doce que já existiu, a Stupendemys geographicus, conta Hsiou, que estuda a região há quase 20 anos. A carapaça encontrada estava incompleta, a partir da cintura, e tinha grandes dimensões, cerca de 1,70 metro de largura. Estimamos que esse casco chegaria a quase 3 metros de comprimento. A carapaça está entre as mais bem preservadas já encontradas dessa espécie – um registro espetacular dessa supertartaruga que viveu durante o Mioceno na Amazônia brasileira.

Leia também:

A variedade de fósseis na região sul-ocidental da Amazônia é conhecida há mais de um século e inclui sítios fossilíferos bem consolidados ao longo de cânions e margens dos principais rios da região, notadamente no estado do Acre. “O problema é que, em geral, encontramos fósseis muito fragmentados”, explica D’Apolito Jr. “É comum acharmos pedaços de carapaça, restos de ossos nunca ou raramente juntos e principalmente de animais menores, que são mais fáceis de se manter articulados. Encontrar animais grandes assim, bem preservados, foi uma surpresa.” Agora será possível comparar com registros de outros lugares, como, por exemplo, da Venezuela, que tem um material mais completo dessa espécie. Vamos poder decifrar, finalmente, se é a mesma espécie ou se existia uma diferente.

O pesquisador compara a descoberta de outros grandes répteis encontrados na região, como os jacarés da Amazônia. “Não é exatamente igual, claro, mas em 1986 foi descoberto um crânio inteiro do Purussaurus brasiliensis, que é um jacaré gigante, o maior que já existiu. E a partir desse fóssil alguns estudos foram feitos em relação à descrição dele, da estimativa do tamanho, da mordida. Considero um ótimo comparativo, justamente por serem répteis que viveram na mesma região, na mesma época — um período ambiental bem diferente, mais quente, com muito mais água disponível, onde você encontrava lagos e rios gigantescos.”

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A época geológica do Mioceno (entre 23 milhões e 5 milhões de anos atrás) é reconhecida pela fauna aquática e terrestre abundante, além de ser o local de origem de diversas linhagens amazônicas. “Dessa forma, quanto mais nos aprofundarmos nesse intervalo geológico, mais compreenderemos a formação da biodiversidade na Amazônia e como as mudanças climáticas provocaram extinções e transformações na região”, explica Hsiou.

Expedição Boca dos Patos

O trabalho de campo demandou grande esforço logístico. A equipe, composta por 16 pessoas, incluindo dez pesquisadores, cinco barqueiros e uma cozinheira, necessitou de um dia inteiro para subir e descer o rio até alcançar o local da escavação. “O rio seco é a principal dificuldade. A gente ia parando muito para empurrar o barco até achar um pedacinho mais fundo e conseguir navegar”, recorda D’Apolito Jr. A expedição tinha o prazo máximo de seis dias, devido ao risco das águas baixarem demais e dificultarem o retorno. “Tivemos uma sorte enorme, porque esse fóssil foi encontrado no primeiro dia”, comemora o pesquisador.

A coleta do material demandou quatro dias, incluindo escavação, preparação da jaqueta de gesso para a preservação do casco, retirada e transporte fluvial até a cidade de Assis Brasil, a cerca de sete horas de barco dali, para depois seguir para a Universidade Federal do Acre, na capital. “Se não tivéssemos encontrado a tempo, o material fatalmente teria sido perdido. Quando chove e o leito seco do rio alaga, a água vai levando tudo. Não sobraria nada ou muito menos do estado preservado em que encontramos a carapaça”, projeta o pesquisador.

A tartaruga foi transportada em uma base rudimentar construída com madeira fornecida pelos barqueiros, em grande parte ribeirinhos e moradores de Assis. O contato com as comunidades locais, inclusive, é um dos pilares do projeto. “A colaboração com eles é essencial para identificarmos novos fósseios e espécies que antes não haviam sido documentadas ou que somente os conhecimentos das comunidades tradicionais e originárias possuíam.” Atualmente, é possível trazer clareza sobre o que ocorreu na proto-Amazônia e também entender a relação desses povos com os fósseis, segundo Hsiou.

Uma das propostas do estudo é estabelecer vínculos com moradores que possuem conhecimento de sítios fossilíferos e que atuam como fontes, oferecendo a eles e suas comunidades reconhecimento, além de treinamento sobre a preservação do patrimônio paleontológico regional. “Já temos um certo conhecimento sobre o entendimento dos indígenas do Alto Rio Juruá com os fósseis”. Sabemos do respeito que eles têm aos fósseis que encontram à beira dos rios. Há uma certa devoção a esse material. Nossa intenção é aprofundar ainda mais a educação ambiental e a conscientização da importância da preservação, tanto da biodiversidade atual quanto da pré-história. Eles são os guardiões desses locais.”

Durante a expedição na região de Boca dos Patos, também houve o contato com a comunidade local indígena da Aldeia dos Patos, o povo Manchineri. “Fomos pedir licença e mostrar que estávamos ali. Não trabalhamos na terra indígena em si, mas eles foram lá acompanhar o nosso trabalho de escavação”, diz D’Apolito Jr.

Próximos passos

O fóssil de Stupendemys geographicus foi levado para o campus principal da Universidade Federal do Acre, em Rio Branco, onde será submetido a análise científica e posteriormente incorporado à coleção de fósseis da Ufac. Uma das diretrizes do edital Expedições Científicas, que financia o projeto “Novas fronteiras no registro fossilífero da Amazônia Sul-ocidental”, é que o material coletado em trabalhos de campo seja catalogado e tombado em instituições amazônicas, como medida de preservação do patrimônio local.

A coleção da Ufac possui quase 10 mil fósseis e a maior parte foi encontrada em áreas próximas. Com a exploração de locais mais distantes, aumenta-se a probabilidade de encontrar materiais que ainda não se encontram no acervo ou que, embora já conhecidos, estejam mais bem preservados e ofereçam mais informações taxonômicas. Dessa forma, compreenderemos melhor como era a Amazônia do passado, como a fauna e a flora evoluíram e se adaptaram às mudanças climáticas.

O projeto visa continuar investigando outros rios no Acre e no sul do Amazonas, uma das principais unidades geológicas da Formação Solimões. “Após essa supertartaruga, temos grande expectativa de encontrar fósseis muito mais interessantes nesses locais mais remotos e pouco explorados”, afirma Hsiou.

Ela também destaca a importância da cooperação entre as instituições. “Tenho uma forte parceria com pesquisadores da Ufac. Todos os meus projetos financiados pela FAPESP, desde o meu primeiro Jovem Pesquisador, versam sobre fósseis da Formação Solimões, do sudoeste da Amazônia brasileira, ou da Amazônia Ocidental”, conta. “Já produzimos juntos inúmeros artigos científicos e temos um foco muito grande na formação de recursos humanos, compartilhando pesquisas e materiais e também fazendo intercâmbio entre estudantes da USP e da Ufac”, celebra a pesquisadora.

Fonte por: CNN Brasil

Aqui no Clique Fatos, nossas notícias são escritas com a ajudinha de uma inteligência artificial super fofa! 🤖💖 Nós nos esforçamos para trazer informações legais e confiáveis, mas sempre vale a pena dar uma conferida em outras fontes também, tá? Obrigado por visitar a gente você é 10/10! 😊 Com carinho, Equipe Clique Fatos📰 (P.S.: Se encontrar algo estranho, pode nos avisar! Adoramos feedbacks fofinhos! 💌)