STF analisa vínculo entregadores-aplicativos: trabalhadores buscam soluções além da CLT
Categoria cobra remuneração adequada e condições de segurança, ao mesmo tempo em que rejeita o modelo da carteira assinada.
STF Julga Vínculo entre Entregadores e Plataformas Digitais
O Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou, nesta quarta-feira (1º), o julgamento sobre o reconhecimento do vínculo empregatício entre motoristas e entregadores de aplicativos e as plataformas digitais, como Uber e Rappi. A decisão terá impacto em 10 mil processos que tramitam em todo o país.
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Júnior Freitas, liderança dos entregadores e coordenador dos Trabalhadores Sem Direito, considera a questão complexa. Ele avalia que, com o modelo de operação das empresas, o vínculo trabalhista é evidente.
Argumentos de Júnior Freitas
“Um dos modelos é o dos operadores logísticos, em que o trabalhador é obrigado a cumprir dias, horários de trabalho e não tem autonomia para definir o valor do serviço. Isso claramente vai, sim, caracterizar vínculo trabalhista. Não tem para onde correr”, afirma Freitas.
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Ele cita as punições impostas aos trabalhadores em caso de descumprimento das determinações das companhias.
Rejeição à CLT e Demandas dos Trabalhadores
Freitas ressalta que a categoria não se vê contemplada no regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). “O trabalhador tem uma tendência a querer ser autônomo. Se o STF der esse vínculo, no dia seguinte esses trabalhadores vão se organizar, vão para a rua e vão lutar contra tudo isso porque hoje eles não se veem contemplados mais no regime trabalhista da CLT”, diz.
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A rejeição à CLT está ligada à baixa remuneração e à opressão da rotina de trabalho. O coordenador lembra que, antes dos aplicativos, muitos trabalhadores cumpriam sua carga horária e ainda trabalhavam à noite em pizzarias para complementar a renda.
Defesa de um Novo Debate
Freitas defende que o debate avance além da dicotomia atual. “Não precisa ser 8 ou 80, CLT ou não. O mundo do trabalho está mudando. Não acredito que a pejotização seja a saída porque também explora. O poder público tem que se aproximar do trabalhador, fazer pesquisa, estudar, e não tomar decisões só com base em sindicatos ou associações que muitas vezes não representam a base”, indica.
Principais Reivindicações dos Entregadores
Segundo Freitas, os principais pontos de luta dos entregadores são melhores remunerações e mais segurança no trabalho. “O que une o trabalhador hoje na rua é a taxa mínima de R$ 10. Hoje é R$ 7,50. Isso todo mundo concorda e foi para a rua atrás dessa remuneração. Mas também temos uma preocupação muito grande com o risco e as mortes que vêm acontecendo”, destaca.
Ele denuncia a ausência de responsabilidade das plataformas. “Não existe assistência. É inacreditável como empresas bilionárias não têm sequer responsabilidade com o trabalhador. Quando nos acidentamos, somos totalmente descartáveis. O seguro de vida existe, mas é voltado para a mercadoria, não para o trabalhador”, revela.
Para o líder, o debate sobre remuneração está diretamente ligado à segurança. “Quanto menos você ganha, mais você tem que trabalhar. Quanto menos você ganha, mais você vai correr para conseguir ter esse valor no final do dia. A remuneração está interligada com a segurança. Só que alguém está afim de fazer esse debate? Não. Eu não vejo ninguém”, lamenta.
Autor(a):
Gabriel Furtado
Gabriel é economista e jornalista, trazendo análises claras sobre mercados financeiros, empreendedorismo e políticas econômicas. Sua habilidade de prever tendências e explicar dados complexos o torna referência para quem busca entender o mundo dos negócios.












