O renomado estudioso das relações políticas e sociais na América Latina faleceu no México, na semana passada.
Tive o privilégio de ter estudado com Severo Salles na UNAM, durante os anos 1970, um período marcado pela presença de figuras como Ruy Mauro Marini, Theotônio dos Santos e Vânia Bambirra, todos ligados à Teoria Marxista da Dependência. Sua incorporação ao Centro de Estudos Latino-americanos (Cela) e à Faculdade de Ciências Políticas e Sociais da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam) representou um espaço de contribuição até sua morte, moldando uma geração de jovens latino-americanos.
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Severo Salles se destacava como um professor exemplar, caracterizado por rigor, disciplina e, ao mesmo tempo, por uma atenção genuína aos estudantes. Sua personalidade introspectiva e sua forte ligação com a cultura mexicana e a história da Unam o tornavam um guia valioso. Sua crítica materialista, combinada com um profundo compromisso com a luta social, o impulsionava a promover reflexões teóricas que visavam a transformação da realidade.
Além de seu papel como professor, Severo Salles participava ativamente da vida política e militante no México, defendendo a solidariedade latino-americana. Sua atuação na universidade era focada em pesquisar a situação socioeconômica da América Latina e do Caribe, analisando a luta de classes e buscando as mudanças necessárias para o continente. Ele formou uma geração de jovens que buscavam o México como um espaço de liberdade e pensamento crítico, em meio às perseguições das ditaduras da época.
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O curso de formação e aprofundamento de “O Capital” de Karl Marx, ministrado pelo professor Severo Salles para o Movimento Estudantil Revolucionário (MST), demonstra o impacto de sua obra. Sua trajetória acadêmica, influenciada pelo contexto político da ditadura militar e pela necessidade de novas rotas e trabalhos coletivos no exterior, o transformou em um intelectual orgânico do povo, com referências como Dom Pablo Casa Nova, Sergio Bagu, Leopoldo Zea e André Gunder Frank. Sua contribuição para o debate sobre o desenvolvimento, a estrutura agrária brasileira e a luta de classes, continua relevante até hoje.
Autor(a):
Ambientalista desde sempre, Bianca Lemos se dedica a reportagens que inspiram mudanças e conscientizam sobre as questões ambientais. Com uma abordagem sensível e dados bem fundamentados, seus textos chamam a atenção para a urgência do cuidado com o planeta.