Análise Política Brasileira: A Relação da Direita com a Democracia
O cenário político contemporâneo no Brasil apresenta complexidades ideológicas que dificultam a categorização tradicional entre direita, centro-direita e esquerda. Segundo o cientista político Carlos Pereira, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), uma linha divisória crucial reside na relação com a democracia.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
A Relação Utilitarista da Direita com a Democracia
Pereira, que participou do programa “WW Especial” da CNN, destacou que uma parcela da direita mantém uma relação utilitária com o sistema democrático, aceitando-o apenas quando suas preferências são atendidas. Para este segmento, o compromisso democrático é condicional, como o próprio Pereira observou: “Eu sou democrata ao tempo em que a minha preferência prevalece. Quando a minha preferência é derrotada, eu não sou tão democrata assim”.
A Existência de Dois Conjuntos de Atores
O cientista político também identificou um outro conjunto de atores: eleitores e políticos conservadores, rotulados como direita, que são “democratas, são institucionais, acreditam no jogo, se submetem ao resultado do jogo”. Essa distinção é considerada a linha divisória crucial na política nacional.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Polarização e a Crise de Identidade da Direita
Pereira aponta que a polarização se intensificou devido à postura do ex-presidente Jair Bolsonaro (“atentou contra a democracia brasileira”), que afastou eleitores de centro, decisivos em pleitos recentes. Esses eleitores, impulsionados pela rejeição ao PT e a Lula, votaram em Bolsonaro em 2018.
Migração de Eleitores e a Busca por Evitar a Crise Democrática
Contudo, essa mesma parcela de eleitores de centro e centro-direita migrou para Lula em 2022, buscando evitar o que mais ameaçava: a democracia. Para Pereira, após o julgamento e condenação de Bolsonaro, a direita precisa emitir “sinais claros” e “compromissos inequívocos com a democracia”.
LEIA TAMBÉM!
Reflexão e Estratégia para a Direita
O dilema enfrentado pelos candidatos de centro-direita é o risco de se afastar de Bolsonaro para trilhar um caminho democrático conservador e institucional. Para Carlos Pereira, os líderes de centro-direita precisam realizar uma profunda reflexão sobre a estratégia a ser adotada, avaliando o custo de associar-se a pautas radicais. “Será que vale a pena correr o risco de se contaminar com essa defesa ostensiva de agendas de anistia ou de perdão? Consequentemente, vamos dizer assim, macular um capital eleitoral que teriam com esse eleitor de centro?”
