Após a condenação do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe a 12 anos de prisão domiciliar por corrupção e fraude processual, o senador de esquerda Iván Cepeda denunciou, nesta quarta-feira 6, em entrevista à AFP, o aumento das ameaças que tem recebido.
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Em 2012, o processo legal iniciou-se com Uribe apresentando uma denúncia contra Cepeda por um suposto complô para vinculá-lo falsamente a paramilitares. Contudo, em 2018, a Suprema Corte começou a investigar Uribe por manipular testemunhas para desacreditar o senador.
Cepeda afirma que ameaças de morte, insultos e palavrões inundam seu telefone desde que a Justiça considerou o ex-presidente (2002–2010) culpado de tentar subornar paramilitares para que testemunhassem a seu favor e negassem qualquer vínculo entre ele e esses grupos de extrema-direita.
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“Desde que a juíza Sandra Heredia tomou a decisão, [as ameaças] se tornaram quase diárias”, afirma Cepeda, filho de um senador comunista assassinado por paramilitares em conluio com agentes do Estado em 1994.
Uribe, com 73 anos e sob regime de prisão domiciliar, é o primeiro ex-presidente colombiano a ser condenado criminalmente.
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O parlamentar de 62 anos declara que a decisão judicial contra Uribe abre uma “caixa de Pandora” em relação a outras investigações sobre as supostas ligações entre o ex-presidente, grupos paramilitares e “traficantes de narcóticos”.
Após ser exilado por seis anos na França devido a ameaças decorrentes de suas investigações sobre o assassinato de seu pai, Cepeda lançou em 2008 o livro *Às portas do Ubérrimo* , que expõe a expansão paramilitar nas proximidades da fazenda de gado de Uribe, em Córdoba, no norte do país.
Para Cepeda, a sentença de 1º de agosto demonstra que Uribe buscou “ocultar” que “havia fundado” (â¦) um grupo paramilitar, denominado Bloque Metro, responsável por diversos crimes durante o conflito armado.
A pressão dos Estados Unidos.
Apesar de Uribe ter recorrido da condenação, Cepeda demonstra confiança no desfecho de um processo de 13 anos, caracterizado por diversas reviravoltas.
Contudo, acusa o ex-presidente de “campanhas de difamação” contra ele e contra a Justiça colombiana, com apoio dos Estados Unidos.
O filho mais velho de Uribe, Tomás, levantou alegações sobre vínculos do senador com a guerrilha extinta das Farc, uma acusação que Cepeda refuta.
O senador também denuncia que a família Uribe promoveu um lobby nos Estados Unidos, contatando congressistas republicanos e as autoridades do governo de Donald Trump.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, defendeu Uribe e declarou que ele é vítima de “juízes radicais”.
A condenação de Uribe ocorre em consonância com a campanha para as eleições presidenciais de 2026.
Vinculado ao partido governista, o Pacto Histórico, Cepeda declara ter recebido “propostas” de seu grupo político para que viesse a ser candidato, ainda avaliando-as com grande serenidade.
Cepeda afirma ter se confrontado em tribunais com um dos homens mais poderosos da Colômbia como se fosse um cidadão comum.
O parlamentar indica que é necessário abandonar a imagem de herói para reconhecer que se trata de um indivíduo com grandes medos.
Em breve ou tarde alguma.
A prisão não tem sido o objetivo essencial, garante Cepeda, que propõe explorar uma justiça especial voltada a conhecer a verdade sobre o paramilitarismo e reparar as vítimas.
Uribe ganhou grande popularidade como presidente devido à sua política rígida contra os guerrilhas. Contudo, dos oito milhões de vítimas que o conflito armado deixava na época, 40% foram contabilizadas durante seu governo.
A justiça atingiria cedo ou tarde, devido a tantos fatos, ao grande número de vítimas e à imensa desgraça.
Fonte por: Carta Capital