Sem cortes de gastos, economistas alertam que taxas de juros elevadas agravam a crise fiscal
A alta da Selic para 15% provoca projeções de impacto bilionário na dívida pública federal.

As políticas fiscal e monetária estão diretamente relacionadas, sendo um cenário alimenta o outro, segundo economistas entrevistados pela CNN. Após o Banco Central (BC) elevar a taxa Selic , que mede os juros básicos do país, os cálculos indicam impactos bilionários na dívida pública federal.
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A alta da Selic impacta diretamente a Dívida Pública Federal (DPF) – contratada pelo Tesouro Nacional para cobrir o déficit do governo federal, incluindo o refinamento da própria dívida – através do custo dos títulos como as LFTs (Tesouro Selic) e operações de compromisso.
A elevação da Selic, influenciando a curva de juros, afeta a dívida, impactando o custo de emissão de todos os títulos que o governo coloca no mercado para financiar seu déficit e a rolagem da dívida, conforme aponta Jeferson Bittencourt, head de macroeconomia do ASA.
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Cenário fiscal força alta dos juros
O Banco Central destacou, ao anunciar sua decisão, sua preocupação com o abandono das expectativas de inflação do mercado. Um dos aspectos monitorados pela autarquia é o efeito da política fiscal sobre essas percepções.
A crise fiscal intensifica a inflação, que pressiona a Selic para cima e mantém essa pressão por mais tempo. Controlar a inflação, que exige Selic mais alta, configura-se como agravante da crise fiscal, ocultando a causa do problema, que reside no desequilíbrio dos gastos elevados e nos incentivos a uma atividade econômica mais aquecida, que eleva os preços.
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O economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, enfatiza que o cenário fiscal já comprometido não oferece alternativas para o Banco Central elevar as taxas de juros.
Atualmente, espera-se que haja uma taxa de juros elevada por um longo período, considerando as persistentes pressões inflacionistas e a expectativa de uma política fiscal amplamente expansionista, afirmou em entrevista ao WW.
Assim, se se deseja controlar a inflação, a única coisa que resta é uma política monetária bastante contracionista por um longo período de tempo. É uma situação que não tem muita solução.
Taxa Selic em 15%, impacto bilionário na dívida.
A DPF apresenta aproximadamente 47% de composição com títulos indexados à taxa Selic. Sérgio Goldenstein, ex-chefe do Departamento de Mercado Aberto do Banco Central (BC), avalia que, considerando o volume de LFT na ordem de R$ 3,75 trilhões, um aumento de 1 ponto percentual na Selic causa um impacto de R$ 37,5 bilhões em um ano.
Nesse contexto, deve ser considerado também o volume das operações comprometidas pelo Banco Central, estimado em R$ 1,1 trilhão, cujo efeito em um aumento de 1 ponto percentual na taxa de juros é de R$ 11 bilhões.
Na quarta-feira (18), o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou as taxas de juros em 0,25 ponto, elevando-as para 15% ao ano. Goldenstein calcula que a variação da Selic de 14,75% e seu incremento de 0,25 ponto percentual, no período de um ano, totalizam R$ 12,1 bilhões.
Goldenstein afirma que, considerando o cenário de emissões de títulos em 2025 superior ao sinalizado pelo PAF e o elevado custo da dívida, há uma grande probabilidade de que a DPF encerre o ano próximo a R$ 8,5 trilhões (limite superior do PAF), ante R$ 7,3 trilhões no final de 2024.
Em contrapartida, o colchão de liquidez (parcela da Conta Única do Tesouro destinada ao pagamento da dívida) deve encerrar o ano em um patamar ligeiramente superior a R$ 1 trilhão (era de R$ 860 bilhões em dez/24), o que diminui o risco de refinanciamento da dívida em 2026, ano que poderá ser caracterizado por maior volatilidade do mercado devido às eleições presidenciais.
Com base na Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi) – montante total de títulos de dívida emitidos pelo governo federal, detidos por residentes no país em moeda nacional – Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, estima um pagamento de juros em 12 meses de R$ 540,43 bilhões com a Selic a 15%.
Entretanto, considerando que a taxa média permaneça estável daqui por diante e levando em conta unicamente a DPMFi, “se houver algum impacto decorrente da questão fiscal, existe o chamado prêmio de risco e, nesse caso, o custo pode aumentar”, explica Agostini.
A situação instiga preocupações em Odilon Guedes, presidente do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (Corecon-SP), devido ao governo continuar recorrendo à emissão de novas dívidas — lançando títulos para quitar os títulos anteriores.
A perspectiva é que a dívida pública continue a crescer sem parar, pois o governo não consegue um superávit primário para quitar os juros da dívida, e para fazer isso, precisa se endividar cada vez mais, indaga Guedes.
Altos juros representam uma das principais razões para a inadimplência no Brasil.
Fonte por: CNN Brasil
Autor(a):
Bianca Lemos
Ambientalista desde sempre, Bianca Lemos se dedica a reportagens que inspiram mudanças e conscientizam sobre as questões ambientais. Com uma abordagem sensível e dados bem fundamentados, seus textos chamam a atenção para a urgência do cuidado com o planeta.