Rombo nos Correios: especialistas apontam má gestão e perda de competitividade com prejuízos acumulados desde 2022

Estatal enfrenta prejuízos desde 2022 e buscará empréstimos de R$ 20 bilhões para reverter a situação em 2025 e 2026.

16/10/2025 8:04

4 min de leitura

(Imagem de reprodução da internet).

Correios buscam empréstimos para enfrentar rombo bilionário

Os Correios estão em busca de empréstimos que somam R$ 20 bilhões, em uma ação coordenada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para lidar com um rombo financeiro amplamente reconhecido.

O prejuízo de 2024 quadruplicou em relação ao ano anterior, mas a situação negativa da estatal não é recente. A crise começou em 2013 e persistiu até 2016, seguida por períodos de estabilidade. Contudo, a empresa voltou a registrar perdas a partir de 2022, acendendo um alerta no governo.

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Especialistas apontam que as principais causas dos prejuízos estão ligadas à administração deficiente ao longo dos anos e às mudanças tecnológicas que aumentaram a competitividade no setor. “O que vemos atualmente é resultado de má gestão histórica, um problema concreto nos Correios”, afirmou Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.

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Elena Landau, economista e advogada, destacou que “os Correios enfrentam uma mudança estrutural que não começou em 2023, mas vem de muito tempo”.

Histórico de prejuízos

Os Correios começaram a registrar prejuízos em 2013, com um rombo de R$ 313 milhões. No ano seguinte, o resultado foi quase equilibrado, mas os prejuízos aumentaram significativamente em 2015 (-R$ 2,1 bilhões) e 2016 (-R$ 1,5 bilhão).

A empresa conseguiu ajustar suas contas entre 2017 e 2021, mas em 2022 registrou um rombo de R$ 767,5 milhões. Em 2024, o prejuízo atingiu R$ 2,6 bilhões, um aumento de cerca de quatro vezes em relação a 2023, que teve um resultado negativo de R$ 597 milhões.

Elena Landau comentou que “o governo criou um rombo bilionário nas estatais, utilizando-as para gastos sem critério de eficiência”.

Explicação do rombo

Os Correios atribuem o rombo “exclusivamente” à taxação de 20% sobre compras internacionais de até US$ 50, conhecida como “taxa das blusinhas”. Essa medida foi aprovada no Congresso e sancionada por Lula em 27 de junho.

Segundo a estatal, a frustração de receita em 2024 é resultado do novo marco regulatório das compras internacionais, que, embora beneficie o varejo nacional, impactou negativamente os Correios. A nova taxa, embora defendida por empresários, foi considerada insuficiente pelos varejistas e não agradou à empresa.

A lógica é clara: a taxação de itens internacionais de menor valor resultou em menos compras e, consequentemente, menos entregas. Sérgio Vale destacou que essa explicação não se sustenta, já que outras empresas do setor, como o Mercado Livre, não apresentaram prejuízos semelhantes.

Busca por recuperação financeira

No início do ano, o presidente Lula se reuniu com presidentes de estatais para discutir o modelo de governança e tentar reverter os prejuízos, especialmente nos Correios. O governo e o Conselho de Administração da empresa estão avaliando um novo financiamento, com pedidos de empréstimos a bancos estatais e privados, garantidos pelo Tesouro Nacional.

Conforme informações da Folha de S. Paulo, o crédito solicitado é de R$ 10 bilhões para este ano e mais R$ 10 bilhões para o próximo. Sérgio Vale comentou que os Correios continuarão a drenar recursos do governo, sugerindo que a privatização seria uma solução para o problema.

Ele acrescentou que, com a digitalização, a atuação da empresa pública no setor de transporte de carga perdeu sentido econômico.

Nova gestão nos Correios

Em setembro, Lula nomeou Emmanoel Schmidt Rondon, funcionário de carreira do Banco do Brasil, como novo presidente dos Correios, substituindo Fabiano Silva dos Santos. O governo buscou um “perfil técnico” para evitar críticas sobre escolhas políticas em cargos estratégicos.

O principal desafio de Rondon será reverter o prejuízo bilionário da companhia. Além das negociações de empréstimos, foi anunciado um plano para vender imóveis e implementar um programa de demissões voluntárias, além de um marketplace com a Infracommerce.

Há também tratativas com o New Development Bank (NDB) para captar R$ 3,8 bilhões em investimentos. As ações de redução de despesas podem gerar economias de até R$ 1,5 bilhão em 2025, mas a avaliação no Planalto é de que essas medidas podem ter chegado tarde demais.

Gabriel é economista e jornalista, trazendo análises claras sobre mercados financeiros, empreendedorismo e políticas econômicas. Sua habilidade de prever tendências e explicar dados complexos o torna referência para quem busca entender o mundo dos negócios.