Restrições a produtos brasileiros são empregadas por Trump como instrumento político, afirma economista

Analista econômico destaca que a ação dos EUA tem motivação ideológica e não possui fundamento comercial sólido.

24/07/2025 9:51

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Restrições a produtos brasileiros são empregadas por Trump como instrumento político, afirma economista
(Imagem de reprodução da internet).

Ameaça de tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com implementação prevista para 1º de agosto, vai além do comércio e representa uma jogada política, segundo o economista Paulo Kliass. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ele classifica a medida como “absurda” e sem justificativa econômica, e afirma que o Brasil deve responder com firmeza.

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O Brasil importa mais dos Estados Unidos do que exporta. Quem deve reclamar dessa situação, somos nós, não eles, afirma Kliass. Para o economista, as tarifas anunciadas por Trump não visam corrigir desequilíbrios comerciais, mas interferir na política interna brasileira, especialmente na defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que responde ao julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF).

Kliass recorda que a medida sequer foi formalizada oficialmente. “Não houve nenhuma medida oficial do governo dos Estados Unidos. Apenas uma declaração no X (antigo Twitter) do presidente”, afirma. “Trump está numa guerra aberta contra qualquer iniciativa multilateral, incluindo a ONU [Organização das Nações Unidas] e a Organização Mundial do Comércio (OMC)”, critica.

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Resposta brasileira

O Brasil buscou a OMC, mas, segundo o economista, isso pode não ser suficiente. Kliass ressalta que o país precisa se preparar para todos os cenários, inclusive com a busca por novos parceiros comerciais. Contudo, adverte que encontrar substitutos para o mercado norte-americano não se faz “da noite para o dia”.

A declaração indica que uma eventual retirada de Trump representaria, também, um recuo político-diplomático. Ele aponta riscos para setores estratégicos, como aviação, carnes, peixes, café e suco de laranja. Duas empresas do setor já processaram o presidente dos Estados Unidos no Ministério Público Federal em razão dos prejuízos esperados.

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No Brasil, Kliass critica a atuação individual de empresários e defende uma resposta articulada. “O que seria essencial fica de lado se não houver representantes dos trabalhadores na mesa de negociação. É preciso construir um movimento nacional em favor do país”, defende. Para ele, o apoio do governo às empresas deve ser acompanhado de medidas como a manutenção do emprego, salários e a sustentabilidade.

O PIX é nosso, ninguém o controla.

Diante da menção ao ataque ao Pix, por parte de Trump, o economista ressaltou que a ferramenta, que recebeu elogios até de figuras conservadoras como o ganhador do Prêmio Nobel Paul Krugman, desagrada os interesses dos Estados Unidos. “Eles não estão conseguindo entrar no Brasil com suas plataformas financeiras porque o Pix se universalizou. É gratuito e popular”, observou.

Kliass aponta que o Brasil possui instrumentos para responder adequadamente, como a suspensão de royalties de patentes norte-americanas, a revisão do uso da base de Alcântara e retaliações contra empresas de cartões, bancos e petroleiras dos EUA. “A medida pode desorganizar não só a economia brasileira, mas também a dos EUA”.

Para o economista, a situação reforça a necessidade de uma resposta unificada. “O caminho indicado está bom, mas precisa envolver o povo. Como disse um amigo meu: o Pix é nosso, ninguém se apropria”, afirma.

Para audir e visualizar.

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

Fonte por: Brasil de Fato

Gabriel é economista e jornalista, trazendo análises claras sobre mercados financeiros, empreendedorismo e políticas econômicas. Sua habilidade de prever tendências e explicar dados complexos o torna referência para quem busca entender o mundo dos negócios.