A resistência aos antimicrobianos cresce alarmantemente, com 34 mil mortes anuais no Brasil. Medidas urgentes são necessárias para reverter esse cenário crítico
A resistência aos antimicrobianos (RAM) — quando bactérias, vírus, fungos e parasitas não respondem mais aos medicamentos — continua a se expandir. Esse fenômeno é parte do processo evolutivo natural desses organismos, mas o uso inadequado de antimicrobianos está acelerando essa situação de forma alarmante.
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Em 2023, um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que uma em cada seis infecções bacterianas apresentou algum nível de resistência. O estudo, baseado em dados do Sistema Global de Vigilância da Resistência aos Antimicrobianos (Glass), mostrou um aumento superior a 40% em relação a 2018.
O Sudeste Asiático e o Mediterrâneo Oriental são as regiões com os índices mais altos, onde uma em cada três infecções não responde aos tratamentos convencionais.
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No continente americano, a situação é preocupante, com um em cada sete casos de infecções causadas por microrganismos resistentes. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que a RAM resulte em cerca de 34 mil mortes anuais e contribua para o agravamento de 138 mil casos clínicos, que podem levar ao óbito devido à redução das chances de tratamento eficaz.
Além disso, o país registra anualmente 221 mil mortes por infecções bacterianas e 400 mil casos de sepse, evidenciando a gravidade do problema. A resistência antimicrobiana é um desafio crescente que requer atenção urgente.
A resistência dos microrganismos a medicamentos antimicrobianos sempre existiu, mas a introdução desses produtos na medicina, a partir do século 20, favoreceu a seleção de variantes resistentes. Esses organismos evoluíram, tornando-se mais aptos a sobreviver às terapias disponíveis.
Dentre os mecanismos que permitem essa resistência, estão as alterações na permeabilidade celular, dificultando a entrada dos fármacos, e mutações genéticas que alteram os alvos dos medicamentos. Segundo o farmacêutico-bioquímico Pedro Eduardo Almeida da Silva, algumas bactérias produzem enzimas que degradam os medicamentos, enquanto outras utilizam bombas de efluxo para expulsar os fármacos de seu interior.
O aumento da resistência antimicrobiana pode estar ligado ao crescimento populacional e à desigualdade social. Fatores como baixa higiene, saneamento básico inadequado e baixa adesão às campanhas de vacinação tornam as regiões mais vulneráveis.
A identificação rápida da causa da infecção é crucial para um tratamento eficaz.
Embora os métodos tradicionais de microbiologia sejam precisos, os resultados demoram de 48 a 72 horas. Isso leva os médicos a prescreverem tratamentos empíricos, que nem sempre são os mais adequados. Embora existam plataformas de diagnóstico rápido, elas são majoritariamente importadas, limitando seu uso a grandes centros de saúde.
A automedicação é outro fator que contribui para o aumento da resistência. Muitas pessoas não seguem corretamente as orientações médicas, prolongando o uso de medicamentos ou reutilizando sobras. Isso torna os quadros de saúde mais complexos e pode resultar em internações prolongadas e custos elevados.
Em longo prazo, a falta de antimicrobianos eficazes pode tornar procedimentos médicos essenciais, como transplantes e cirurgias, muito arriscados. O médico infectologista Moacyr Silva Junior ressalta que, embora não estejamos em uma calamidade, é fundamental que tanto médicos quanto a população estejam mais conscientes sobre a prescrição e uso de antimicrobianos.
Repensar o uso de antimicrobianos é uma necessidade premente. O Brasil já possui iniciativas voltadas para boas práticas, como a Diretriz Nacional para Implantação de Programa de Gerenciamento de Antimicrobianos, lançada em maio de 2025 pela Anvisa.
Essa diretriz orienta a gestão do uso de antimicrobianos, promovendo a prescrição adequada e o acompanhamento multiprofissional.
A educação continuada e a conscientização são fundamentais. A vacinação é uma medida preventiva crucial, pois reduz o impacto das infecções e, consequentemente, a necessidade de antimicrobianos. Práticas como lavar as mãos, usar preservativos e máscaras durante gripes são essenciais para conter a propagação de patógenos.
A prevenção é a chave para enfrentar o avanço da resistência antimicrobiana. O acompanhamento regular com médicos é igualmente recomendado para garantir a saúde da população.
Autor(a):
Gabriel é economista e jornalista, trazendo análises claras sobre mercados financeiros, empreendedorismo e políticas econômicas. Sua habilidade de prever tendências e explicar dados complexos o torna referência para quem busca entender o mundo dos negócios.