Diversas emissoras de televisão e rádio enfrentam o risco de extinção nos Estados Unidos, após o presidente Donald Trump ter cortado o financiamento federal de veículos de comunicação públicos, que ele acusa de possuírem uma orientação ideológica.

Os cortes vão impactar a disseminação de informações em âmbito nacional, sobretudo em regiões rurais com recursos restritos.

Com autorização do presidente, o Congresso aprovou na sexta-feira, 18, a destinação de US$ 1,1 bilhão (R$ 6,1 bilhões) já previstos para os próximos dois anos à CPB, corporação sem fins lucrativos que administra o orçamento federal para a radiodifusão pública.

Fundada em 1967, a CPB financia uma parcela minoritária do orçamento da NPR e da PBS, alicerces nacionais do rádio e da televisão. Contudo, também serão impactadas aproximadamente 1.500 emissoras locais que veiculam parte de seu conteúdo, de Nova York ao Alasca.

A presidente da CPB, Patricia Harrison, alertou que muitas emissoras de rádio e TV públicas locais serão obrigadas a encerrar suas atividades sem financiamento federal, um alerta que tem ecoado há meses.

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A emissora Prairie Public, de Dakota do Norte, projeta perder 26% do seu orçamento em razão da combinação de cortes nos auxílios estaduais e da CPB. Para a Vermont Public, estão em jogo US$ 4 milhões (aproximadamente R$ 24 milhões) nos próximos dois anos.

“Precisaremos tomar decisões muito complexas acerca dos programas que poderemos continuar e aqueles que precisaremos eliminar”, resumiu Ryan Howlett, da Sociedade de Radiodifusão Pública de Dakota do Sul (SDPB), que supervisiona rádios e TVs locais.

Trump, que denomina os veículos de “mentirosos” e “inimigos do povo”, ordenou em maio o encerramento do apoio à NPR e PBS. “São veículos de comunicação partidários e de esquerda financiados pelo contribuinte, e este governo não acredita que seja um bom uso do tempo e dinheiro do contribuinte”, declarou ontem a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt.

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A extinção completa do orçamento da CPB, impulsionada pelo Projeto 2025 do Heritage Foundation, representa um momento decisivo. Antes, houve resistência no Congresso, incluindo de republicanos em regiões rurais.

Para Dan Kennedy, professor de jornalismo da Universidade Northeastern, em Boston, os cortes de subsídios podem ter “um efeito devastador” nessas áreas afastadas dos centros urbanos. Para as comunidades remotas, “essas emissoras são um verdadeiro salva-vidas. Quando há um tornado, é por elas que as pessoas se informam.”

No entanto, para Mike Gonzalez, autor de um capítulo do Projeto 2025 sobre a mídia pública, os estados e governos locais podem estabelecer sistemas de alerta a um custo significativamente inferior à totalidade da infraestrutura de radiodifusão pública, e sem os problemas relacionados ao sistema vigente.

A extinção do financiamento federal representa um novo revés para o jornalismo local nos Estados Unidos. Em razão da redução no volume de leitores e das consolidações de grandes grupos, mais de um terço dos jornais do país, ou 3.300, deixaram de ser publicados desde 2005, conforme relatório da escola Medill, da Universidade Northwestern.

Uma pesquisa da Muck Rack e da coalizão Rebuild Local News revela que a proporção de jornalistas por 100 mil americanos é de 8,2, em comparação com 40 no início dos anos 2000.

Fonte por: Carta Capital