Racismo e Desigualdade no Mercado de Trabalho

A advogada Raphaella Reis, especialista em relações raciais e de gênero no ambiente laboral, destaca que o racismo permanece no cerne das desigualdades estruturais no Brasil. Em entrevista, ela enfatizou que mesmo profissionais negros com alta qualificação são frequentemente excluídos de posições de poder e liderança.

“Infelizmente, as pessoas negras, por mais qualificadas que estejam, estão sempre sendo excluídas de determinados espaços de poder, de influência e de decisão. É um defeito de cor, é o que podemos depreender. O mercado, infelizmente, privilegia as pessoas brancas”, afirma.

Racismo Institucional e Precarização do Trabalho

Reis também aponta que o racismo institucional se manifesta na precarização das condições de trabalho, resultando em jornadas mais longas, salários menores e acesso limitado a moradia e mobilidade dignas. “A pessoa precarizada no trabalho não vai conseguir se sustentar. E assim vamos acirrando as desigualdades no Brasil”, acrescenta.

A advogada critica a postura de parte do Judiciário trabalhista, que, segundo ela, ignora evidências claras de discriminação racial. “Mesmo diante de vídeos e provas irrefutáveis, muitos julgadores procuram relativizar as agressões sofridas e dizem que não houve racismo”, relata.

Desafios no Judiciário e a Necessidade de Reformas

Reis defende que o Judiciário trabalhista é extremamente problemático e que mudanças são necessárias. “Isso não vai mudar sem que façamos uma reformulação completa, com capacitação e aferição efetiva de como essa capacitação pegou”, argumenta.

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Ela menciona casos recentes em que juízes minimizaram ofensas explícitas, como uma trabalhadora chamada de “macaca”, cuja denúncia foi tratada como “brincadeira” pelo magistrado. “O juiz disse que ela precisava observar o contexto e que o gestor estava sendo brincalhão demais. Embora as palavras merecessem censura, não poderiam caracterizar o crime”, conta.

Combate ao Racismo na Justiça do Trabalho

Para Reis, o enfrentamento do racismo na Justiça do Trabalho requer diálogo e formação contínua entre todos os envolvidos no sistema: magistrados, advogados, promotores e auditores fiscais. “A raça está no centro de tudo. Se não começarmos a pensar nisso e transformar esse quadro, daqui 100 anos estaremos discutindo as mesmas coisas”, conclui.