Qual seria o que um presidente do Brasil teria feito?
Roberto Mangabeira Unger, professor na Universidade Harvard (EUA) e ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, analisa a posição do Brasil dian…

O professor da Universidade Harvard (EUA) e ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, analisa a posição do Brasil após as tarifas de 50% anunciadas pelo presidente americano Donald Trump.
A utilização da política externa como compensação retórica do rendimento interno é algo muito comum na América Latina. Sacrificar os interesses do trabalho e da produção em favor do rentismo financeiro e dos cartéis bancários é uma prática consagrada. O México já foi um exemplo claro dessa estratégia nociva, e o Brasil assumiu essa posição há muito tempo.
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Donald Trump e seus assessores aproximaram o trabalho de falsos defensores da soberania brasileira ao demonstrar desconhecimento das realidades elementares do comércio entre os Estados Unidos e o Brasil e ao se envolver em assuntos que diziam respeito exclusivamente a nós. Teria feito um estadista que ocupasse a Presidência do Brasil compreendido que o país produz pouco do que os EUA necessitam, mas que eles podem ser de grande valia na qualificação do nosso aparato produtivo e da nossa população, e em tudo relacionado à economia do conhecimento. Teria iniciado por evitar responder aos americanos em linguagem informal, evitando demagogia e preguiça intelectual, e se mostrando disposto a engajá-los em uma discussão séria.
Aproveitaria a pressão dos Estados Unidos para expor o problema central de nosso relacionamento, que é a paralisação dos serviços. Embora estejamos à frente no setor financeiro, em outras áreas sofremos o atraso típico de uma economia predominantemente primária. A situação mais crítica se manifesta fora do ambiente empresarial, nas universidades. Se o Brasil se tornar uma nação grande sem possuir uma universidade de referência global, será o primeiro caso na história. E uma das causas principais é a quase impossibilidade de contratar professores estrangeiros nas universidades brasileiras.
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Existe espaço para uma abertura abrangente nos serviços que encerre nossa exclusão da vanguarda produtiva e tecnológica do mundo. O governo brasileiro propõe ao americano que ele reduza a tarifação de nossas mercadoridades em troca da abertura de nossos serviços, cujo fechamento motiva a reclamação histórica que os americanos fazem ao Brasil. Não será da China, que insistentemente nos vê apenas como fornecedores de alimentos e matérias-primas, que poderemos esperar tal acordo.
Em contraposição ao que a mídia brasileira divulga, a maioria dos especialistas norte-americanos nesse campo jurídico considera que, em poucos meses, a maior parte das tarifas que o governo Trump pretende aplicar ao mundo será considerada ilegal e inconstitucional, inclusive por juízes nomeados pelo próprio presidente. Essa expectativa é a razão pela qual a bolsa americana tem apresentado alta nas últimas semanas. O interesse do Brasil, de forma paradoxal, reside no fato de que essa reviravolta demore a ocorrer para que o jogo de pressões favorável ao acordo que proponho se mantenha por algum tempo.
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Semelhante ao setor comercial, o governo Trump priorizou o que era visível (as commodities) e não a identificação do problema (os serviços). Da mesma forma, em sua intervenção equivocada na política brasileira, cometeu erros na definição do problema.
Realmente, a sabedoria republicana desaconselha proibir da política o líder incontestável de um terço da opinião nacional. E aconselha enfrentar diretamente uma perversão de que ainda não se tem notícia na história constitucional das democracias modernas. O presidente e o Supremo Tribunal Federal se uniram num bonapartismo de grupo para fazer guerra contra o poder mais representativo da nação — o Congresso — e para promover um golpe de Estado permanente.
Uma das causas dessa situação reside na dinâmica do populismo político, que promove a substituição de soluções estruturais para nossos problemas por políticas compensatórias que demandam recursos financeiros que o Estado não possui. A outra causa está na composição do STF e na natureza dos ministros.
Indivíduos contratados frequentemente de assessores presidenciais, muitos (exceto as ministras mulheres) são prolixos, superficiais, vaidosos e egocêntricos. Suas aprovações pelo Senado são meros rituais. Suas indicações são celebradas com eventos luxuosos, frequentados por aqueles que buscam vantagens, lembrando casamentos ostentosos, nos quais o divórcio é previsível.
Há duas respostas para toda essa degradação política e moral. Uma é que o Congresso se respeite e diga: “Basta!”. A outra é que, nas eleições de 2026, o povo brasileiro eleja para a Presidência da República um cidadão sério, desassombrado, despojado e capaz que se assemelhe mais a Prudente de Morais do que a Lula.
Roberto Mangabeira Unger, professor na Universidade Harvard (EUA); ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Fonte por: CNN Brasil
Autor(a):
Redação Clique Fatos
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