Diversas pessoas se manifestaram na Praça do Parlamento, em Londres, no sábado (6), contra a decisão do governo britânico de classificar o grupo Ação Palestina como organização terrorista, ocorrida em julho.
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A Polícia Metropolitana de Londres informou à CNN que não pôde fornecer um número oficial, mas estimou entre 1.000 e 1.400 manifestantes, contagem em concordância com a dos organizadores do protesto.
Cerca de 150 prisões foram realizadas durante a manifestação por uma série de crimes, incluindo agressão a um policial e demonstração de apoio a uma organização proibida.
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A polícia forçou passagem entre a população para conduzir prisões, ao mesmo tempo em que outros manifestantes clamavam “vergonha”. Os organizadores acusaram a polícia de “tentar deliberadamente evitar a própria violência, incriminando os manifestantes”.
Qual é a Ação Palestina?
A Ação Palestina é uma organização sediada no Reino Unido que busca interromper as atividades de fabricantes de armas vinculados ao governo israelense.
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Fundado por Huda Ammori e pelo ativista climático Richard Barnard em 2020, o grupo realizou sua primeira ação para interromper as operações da Elbit Systems no Reino Unido – o maior produtor de armas de Israel – e afirmou seu compromisso em “erradicar a participação mundial no regime genocida e de apartheid de Israel”.
A Elbit Systems UK – que está concorrendo a um contrato de 2 bilhões de libras com o Ministério da Defesa britânico – não respondeu às perguntas da CNN sobre a Ação Palestina, mas afirmou em comunicado que “a segurança nacional é a prioridade” e que estão “orgulhosos da parceria com as forças armadas britânicas”.
Desde a sua fundação, a Ação Palestina ocupou, bloqueou, pintou com spray e interferiu na empresa franco-israelense de drones UAV Tactical Systems e na gigante mundial de armas Leonardo.
O grupo também destruiu um quadro do ex-secretário das Relações Exteriores britânico, Arthur Balfour — que em 1917 anunciou o apoio de Londres à criação de um “lar nacional para o povo judeu” na Palestina sob administração britânica.
Ademais, a Ação Palestina apropriou-se de dois bustos do primeiro presidente de Israel, Chaim Weizmann, da Universidade de Manchester.
Contudo, uma ação do grupo no final de junho deste ano – quando ativistas invadiram a maior base aérea do Reino Unido, a RAF Brize Norton, e danificaram dois aviões de reabastecimento Airbus Voyager com tinta e pés de cabra – resultou na proibição da organização pelo governo.
Posteriormente, a então secretária do Interior do Reino Unido, Yvette Cooper, classificou a Ação Palestina como um grupo terrorista, na mesma categoria aplicada a organizações como Hamas, Al Qaeda e Estado Islâmico. A decisão recebeu críticas de especialistas da ONU, organizações de direitos humanos e políticos.
Qual era o motivo para o governo britânico proibir a Ação Palestina?
O governo do Reino Unido, com base em um relatório do Centro Conjunto de Avaliação do Terrorismo do país, declarou que a Ação Palestina ultrapassou o limite da tolerância e agora configura sabotagem. A então secretária do Interior afirmou que a medida era necessária para proteger a segurança nacional, alegando que a Ação Palestina “não é uma organização pacífica” e possui um histórico de “danos criminais inaceitáveis”.
As autoridades britânicas acompanham o grupo há algum tempo.
Em maio de 2024, uma análise governamental independente sobre violência política classificou a Ação Palestina e o grupo de ativistas climáticos Just Stop Oil como “grupos terroristas” e sugeriu a proibição de suas ações.
A proibição de grupos terroristas tornou mais difícil para seus ativistas planejarem crimes; essa abordagem também deveria ser ampliada aos grupos de protesto extremistas, afirmou John Woodcock, o autor da análise.
Woodcock afirmou em uma entrevista à CNN que a designação era “justificada e proporcional”.
“Discordo da ideia de que seja um protesto pacífico”, declarou ele. “A definição de terrorismo abrange o tipo de dano econômico que a Ação Palestina tem realizado sistematicamente”, afirmou.
Woodcock atuava como consultor pago para grupos de defesa que representavam fabricantes de armas e empresas de combustíveis fósseis. Além disso, foi ex-presidente dos Amigos Trabalhistas de Israel, afirmando à CNN que “deveríamos poder dizer que não é certo infringir a lei e aterrorizar os trabalhadores”.
A Ação Palestina é considerado o primeiro grupo de ação direta a ser classificado como organização terrorista no Reino Unido. A proibição implica que demonstrar apoio à organização pode resultar em pena máxima de até 14 anos de prisão.
Apesar de o grupo ter implementado estratégias inovadoras, declarou que suas ações se referem a bens e não a indivíduos. O Ministério do Interior do Reino Unido não apresentou evidências de suas alegações de que a Ação Palestina empregou armas e causou lesões graves.
Quem defende a não proibição?
Apoiadores das liberdades civis em todo o Reino Unido e em outros países criticaram a classificação da Ação Palestina como grupo terrorista, alertando que a aplicação de leis contra o terrorismo a esse tipo de organização pode comprometer a liberdade de expressão e de manifestação, além de criar um precedente perigoso para os direitos de protesto.
A Amnesty UK considerou a medida como “um exagero jurídico preocupante”, sustentando que as leis penais já existentes poderiam lidar com os prejuízos materiais sem recorrer ao terrorismo.
A Amnesty UK também argumenta que a proibição reprime a expressão de todo o movimento pró-palestino, uma afirmação que o governo nega.
Em julho, o diretor de direitos humanos da ONU, Volker Turk, solicitou o encerramento da proibição, afirmando que a medida suscita preocupações de que as leis antiterrorismo do Reino Unido “estejam sendo aplicadas a atos que não possuem natureza terrorista e correm o risco de dificultar o exercício legítimo das liberdades fundamentais”.
Fonte por: CNN Brasil
