Qual é o Hajj e qual o impacto das mudanças climáticas sobre ele?
A jornada que atrai milhares de muçulmanos a Meca iniciou na quarta-feira (4); em 2024, diversas mortes foram registradas devido ao calor extremo, com temperaturas elevadas acima de 50°C.

A peregrinação anual do Hajj, um dos cinco pilares do Islã e uma importante fonte de receita para a Arábia Saudita, começa na quarta-feira (4), atraindo milhões de muçulmanos de todo o mundo a Meca, diante de custos crescentes e riscos climáticos.
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O Hajj inicia-se no 12º mês do calendário islâmico, que é lunar, e não solar, o que implica que acontece em épocas distintas do calendário solar a cada ano. Apesar de se aproximar do inverno, na década de 2040 coincidirá com o verão na Arábia Saudita.
A peregrinação, que antes era obrigatória para muçulmanos saudáveis e com condições financeiras, tornou-se mais acessível, gerando novos desafios como superlotação e riscos climáticos.
Em 1987, foi implementado um sistema de cotas para visitantes de Meca, um acordo firmado pelos países membros da Organização para a Cooperação Islâmica (OCCI), que restringia o número autorizado por nação a 0,1% da população total.
Segundo Sean McLoughlin, professor de Antropologia do Islã na Universidade de Leeds, durante entrevista à Reuters na segunda-feira (2), os peregrinos costumam organizar sua jornada do Hajj por meio do ministério religioso de seu país.
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O professor McLoughlin completou que os requisitos para a jornada podem envolver registro, abertura de conta bancária ou participação em um sistema de loteria em razão das cotas.
Contudo, certos peregrinos não aderem aos procedimentos de inscrição estabelecidos, o que pode privar os indivíduos não registrados do acesso a serviços fundamentais e expô-los a situações delicadas.
A ausência de autorização para os peregrinos também prejudicou a oferta de serviços e cuidados, declarou o coronel Talal bin Shalhoub, porta-voz de segurança do Ministério do Interior saudita, em entrevista à al-Arabiya.
Especialistas do governo argumentam que todos os fiéis, sem distinção de status, necessitam de cuidados para evitar os efeitos do calor.
A Arábia Saudita tem se dedicado com campanhas na mídia e ações de segurança para impedir peregrinações não autorizadas ao Hajj.
No entanto, o incremento nos custos de pacotes turísticos formais, que variam de US$ 5.000 a US$ 10.000 (cerca de R$28.000 a R$56.000) por pessoa, tem levado alguns muçulmanos a escolherem itinerários não oficiais e mais econômicos, mesmo sem as permissões necessárias.
McLoughlin apontou que o Hajj é comercializado há muito tempo, mas tem refletido as forças do mercado nos últimos anos. Ele afirmou que surgiram “novos impostos e empresas, que talvez já fossem públicas, mas que agora foram privatizadas”.
Também podemos observar como o IVA (Imposto sobre Valor Agregado) e outros impostos foram incluídos no custo dos serviços, concluiu o professor.
A Arábia Saudita arrecadava aproximadamente US$ 12 bilhões (cerca de R$ 67 bilhões) anualmente por meio do Hajj e da Umrah, conforme dados oficiais de 2019, o último ano anterior à pandemia que impactou a indústria global de viagens. A peregrinação representava uma fonte significativa de receita para os fiéis, abrangendo hospedagem, transporte, taxas e presentes.
Antes da descoberta do petróleo, o Hajj teve um papel fundamental na economia da Arábia Saudita, porém as oscilações econômicas levaram o reino a buscar estratégias para diminuir a dependência das exportações de combustíveis fósseis.
A peregrinação e o turismo religioso tornaram-se um aspecto fundamental dessa diversificação econômica, conforme apontado por McLoughlin, especialmente desde 2016, com a Visão 2030, nos esforços sauditas.
A Arábia Saudita declarou o desejo de aumentar o número de turistas religiosos, buscando receber 30 milhões de peregrinos para o Hajj e a Umrah até 2030, em linha com sua estratégia abrangente para diversificar a economia, afastando-se da dependência do petróleo.
Fonte por: CNN Brasil
Autor(a):
Sofia Martins
Com uma carreira que começou como stylist, Sofia Martins traz uma perspectiva única para a cobertura de moda. Seus textos combinam análise de tendências, dicas práticas e reflexões sobre a relação entre estilo e sociedade contemporânea.