Na última semana, entre os dias 16 e 20 de junho, Denver (EUA) sediou o maior evento global sobre psicodélicos, a Conferência de Ciência Psicodélica 2025. Com mais de 7 mil participantes e 500 palestrantes, o evento da Maps (Multidisciplinar Association for Psychedelic Studies) evidenciou que a ciência, a cultura e as políticas públicas estão se integrando de forma cada vez mais sólida e complexa em relação ao potencial terapêutico dessas substâncias.

A presença notável da comitiva brasileira se destacou na conferência, atraindo atenção pela qualidade dos painéis científicos e pelo vibrante estande no pavilhão de expositores. Organizado pela Psychedelic Parenthood Community, o estande brasileiro foi o mais visitado, com grande interesse em conhecer as aplicações tradicionais e contemporâneas do rapé, informações sobre retiros no Brasil e a audição de cantos indígenas.

Coordenado por Glauber Loures, Paulina Valamiel e Marco Algorta, o espaço teve a liderança do indígena Álvaro Tukano, que esteve presente para conectar os visitantes à ancestralidade dos saberes amazônicos. Além de ser um ponto cultural e informativo, o estande funcionou como um local de mitigação de riscos, ao oferecer apoio a participantes que ali encontravam um ambiente acolhedor e seguro.

Na área científica, o painel sobre ayahuasca e DMT evidenciou a profundidade e a interdisciplinaridade das discussões. O grupo brasileiro contou com especialistas que apresentaram desde pesquisas moleculares utilizando organoides cerebrais até ensaios clínicos com pacientes resistentes a tratamentos convencionais para depressão.

A dra. Nicole Galvão apresentou como a ayahuasca modula o sistema endócrino e biomarcadores associados ao estresse e ao bem-estar psicológico, enquanto o neurocientista Draulio Araújo levou evidências de neuroimagem sobre os efeitos da ayahuasca na conectividade cerebral e em estados alterados de consciência. Marcelo Falchi e Fernanda Palhano também participaram ativamente desse painel.

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A declaração de Draulio Araújo em favor da incorporação do DMT no SUS, com a defesa da ampliação do acesso às psicoterapias assistidas por psicodélicos, mesmo diante dos altos custos das clínicas privadas, provocou uma calorosa reação de aplausos da plateia, evidenciando o pioneirismo e a relevância dessa abordagem.

Assista à entrevista com Draulio Araújo (7min11s).

Um ponto importante foi o painel sobre a ketamina, no qual os brasileiros demonstraram que é viável implementar tratamentos com esse medicamento no sistema público, mesmo considerando o alto custo da terapia. Eles apresentaram modelos acessíveis de administração que rompem com as grandes patentes, indicando caminhos para ampliar o acesso em um desafio global como a depressão. Essa contribuição se destacou por ser uma das poucas no evento a discutir estratégias concretas para democratizar o uso teraputico dos psicodélicos em contextos públicos e comunitários, e não apenas em clínicas privadas.

A expressiva equipe brasileira, tanto na ciência quanto na cultura, consolida o Brasil como um polo importante no cenário global dos psicodélicos. Demonstrando respeito às raízes indígenas e abraçando a inovação científica, o país se destaca como um protagonista que une conhecimento ancestral e pesquisa avançada, ao mesmo tempo em que contribui para discussões sobre acesso, ética e diversidade cultural.

A Conferência de Ciência Psicodélica 2025 indicou que o Brasil não é apenas um observador, mas um agente chave na consolidação e expansão da nova era psicodélica.

Fonte por: Poder 360