Professor da Uerj critica operação policial no Rio de Janeiro
Ignacio Cano, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e membro do Laboratório de Análise da Violência, comentou sobre a recente chacina que resultou em mais de 100 mortes. Ele destacou que a ação segue uma “lógica bélica”, com o objetivo de “maximizar o número de mortes” e consolidar um projeto político que se baseia na ideia de que “bandido bom é bandido morto”.
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A Operação Contenção, realizada no dia 28 de novembro pelas polícias civil e militar do Rio de Janeiro, resultou em 121 mortes confirmadas, sendo 117 civis e quatro policiais. Cano classificou a operação como um “sucesso” para o governo, que reconheceu apenas os policiais como vítimas. “A vida dessas pessoas não vale nada para o governador, que considera um triunfo ter ‘neutralizado’ essas pessoas”, criticou Cano.
Intenção política e discurso governamental
O pesquisador afirmou que o governo do Rio de Janeiro “apresenta o recorde de mortes como um logro histórico”, em um cenário de disputa política, onde a violência é utilizada como ferramenta de visibilidade. Ele acredita que a operação teve “uma intenção política, feita em um ano pré-eleitoral”, e que as forças de direita estão se alinhando a essa estratégia.
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Cano também observou que o discurso do governador Cláudio Castro se alinha ao de governos de extrema direita na América Latina, destacando que a agenda do governador se encaixa com a dos Estados Unidos, que utiliza o termo “narcoterrorismo”. “Isso é preocupante, pois tenta apagar a distinção entre guerra e segurança pública”, alertou.
Consequências da operação
O professor descreveu a megaoperação como “uma tragédia gigantesca” e “um dos maiores massacres policiais da América Latina”. Ele ressaltou que a operação foi planejada para evitar a fuga de suspeitos, o que resultou em um número maior de mortos do que de presos, evidenciando a brutalidade da ação.
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Cano defendeu a necessidade de uma investigação rigorosa, sugerindo o envio de peritos federais para apurar as mortes. “Precisamos saber quais dessas mortes foram realmente de confronto e quais foram execuções sumárias”, afirmou. Ele comparou a operação a chacinas anteriores, prevendo que se tornará um marco na história do Brasil.
Impunidade e falta de responsabilização
O professor avaliou que as chances de punição aos responsáveis são mínimas, destacando o histórico negativo de condenações contra policiais por execuções sumárias. “O Ministério Público do Rio não cumpre seu papel de controle externo da atividade policial”, criticou.
Ele enfatizou que, sem uma investigação federal independente, a apuração não avançará. “Precisamos de ajuda externa, como a que foi feita após a chacina de 2007, mas que dificilmente será aceita pelo governo do estado”, concluiu Cano.
