Acesso à Pós-Graduação no Brasil e Desigualdades Sociais
No Brasil, o acesso à pós-graduação continua limitado a uma pequena parte da população, refletindo desigualdades de renda, raça e gênero. Essa realidade foi destacada pela professora Priscila Leonel, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em entrevista ao Conexão BdF. Um relatório de 2023 da OCDE revelou que apenas 0,8% da população brasileira entre 25 e 64 anos possui título de mestrado.
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Leonel enfatizou que, ao longo do tempo, o acesso ao ensino médio e à graduação foi restrito, e atualmente a pós-graduação ainda enfrenta barreiras significativas. Ela ressaltou que as exigências de dedicação exclusiva e a falta de políticas de permanência dificultam a inclusão de quem precisa trabalhar. “Quem consegue assumir tantas atividades propostas na pós-graduação normalmente é quem não trabalha. Quem não trabalha hoje em dia?”, questionou.
Desafios e Resistências no Acesso à Pós-Graduação
Embora o Brasil tenha avançado em políticas de inclusão educacional nas últimas décadas, o debate sobre o acesso à pós-graduação ainda encontra resistências. Leonel observou que parte da população parece tratar as políticas de acesso como um tema novo, quando, na verdade, já sabemos que essas iniciativas funcionam e precisam ser implementadas.
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A desigualdade racial é um aspecto preocupante. Segundo a professora, o ambiente da pós-graduação permanece majoritariamente branco. Dados da OCDE de 2023 indicam que apenas 7,4% dos professores de pós-graduação no Brasil são pretos, pardos ou indígenas. “Isso impacta o tipo de pesquisa realizada nas universidades e o perfil dos alunos que ingressam na pós-graduação”, destacou.
Dados sobre Diversidade na Pós-Graduação
Informações do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), vinculados ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, revelam que entre 1996 e 2021, quase metade dos títulos de mestrado (49,5%) e mais da metade dos doutorados (57,8%) foram concedidos a pessoas brancas. No mesmo período, pretos representaram apenas 4,1% dos mestres e 3,4% dos doutores, enquanto pardos corresponderam a 16,7% e 14,9%, respectivamente.
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Para Leonel, aumentar a diversidade entre os docentes é fundamental para que mais estudantes negros, indígenas e de comunidades periféricas ingressem na pós-graduação. “O aluno precisa se identificar com a linha de pesquisa e o professor, além de se sentir acolhido para participar do processo seletivo. Para termos mais alunos negros e indígenas na pós-graduação, é necessário ter mais professores negros também nesse nível de ensino”, concluiu.