Por que a moeda americana está perdendo valor? Especialistas explicam
A fronteira registra no ano uma queda de 14% em relação à taxa real; investidores acompanham decisões sobre juros na quarta-feira (17).

O dólar registrou sua mínima em mais de um ano nesta segunda-feira (15), fechando em R$ 5,322. A cotação atingiu o menor valor do dia em R$ 5,30.
O perímetro demonstra em determinado período uma queda de 14% em relação ao dólar e, segundo Cristiano Oliveira, diretor de pesquisa macroeconômica do Banco Pine, representa a única moeda não europeia dentre as nove com melhor desempenho previsto para 2025.
A situação atual se distingue do panorama inicial do ano, quando o dólar americano era cotado acima de R$ 6, em decorrência da significativa desvalorização do real nos meses finais de 2024. O dólar fechou o ano com uma valorização de 27,3%.
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A movimentação é influenciada por elementos internos, porém, em grande medida, decorre de fatores externos.
O real valorizou-se após as reuniões de política monetária no Brasil e nos EUA em julho, devido a um cenário externo mais favorável, com o dólar globalmente fraco e as perspectivas de retomada do ciclo de afrouxamento monetário pelo Federal Reserve, que aumentaria a vantagem dos juros do Brasil, conforme relatório de macroeconomia do Itaú BBA.
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Cristiano Oliveira acredita que “a vulnerabilidade do dólar em nível global explica cerca de metade desse aumento. A outra parte dessa valorização está relacionada a fatores internos, tais como os resultados na balança comercial, a diferença nas taxas de juros e a diminuição do risco de crédito do país”.
Nos últimos meses, informações apontando para uma vulnerabilidade no emprego nos Estados Unidos têm reforçado a ideia de que o Federal Reserve, o banco central americano, poderá retomar o corte das taxas de juros, após mantê-las entre 4,25% e 4,5% – níveis historicamente altos para o país – durante os nove meses anteriores.
A ferramenta CME FedWatch, que consolida as expectativas do mercado, aponta que aproximadamente 96% dos investidores preveem um corte de 0,25% na taxa de juros do Fed. Os restantes 4% estimam uma redução de 0,5%. A ferramenta não indica possibilidade de manutenção da taxa.
O especialista em investimentos da Nomad, Nickolas Lobo, acredita que as decisões de juros do Fed, juntamente com as orientações fornecidas, podem influenciar a trajetória do dólar, podendo levar a uma leve desvalorização em nível global. Uma mudança inesperada ou um discurso mais contido poderia, no entanto, inverter essa tendência de queda.
Com juros menores nos Estados Unidos, e considerando que as taxas no Brasil devem permanecer em 15% ao ano, torna-se mais vantajoso para o investidor estrangeiro obter recursos mais baratos internacionalmente e investir em títulos que possam gerar maiores rendimentos aqui. Trata-se do chamado *carry trade*.
O movimento do dólar em relação ao real depende significativamente do fluxo de capitais internacionais. Em resumo, juros mais baixos nos Estados Unidos diminuem o interesse nos ativos americanos e estimulam investidores a procurar maiores retornos em países emergentes como o Brasil, afirma Otávio Oliveira, gerente de Tesouraria do Banco Daycoval.
O corte na taxa de juros eleva a entrada de dólares no país, expande a oferta da moeda e, por conseguinte, pressupõe uma valorização do real. Desta forma, a cotação do dólar pode diminuir em setembro caso o corte seja validado e aceito pelo mercado.
O Banco Central já indicou que as taxas de juros do país permanecerão elevadas por um período consideravelmente extenso, o que torna o carry trade ainda mais vantajoso, segundo João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos.
Incertezas
A política de aumento de impostos de Donald Trump também impactou o valor do dólar, que tem apresentado desvalorização global nos últimos meses, destacou Otávio Oliveira. “Ou seja, o próprio dólar vem perdendo valor independentemente de fatores internos no Brasil”, afirmou o gerente do Daycoval.
Para Cristiano Oliveira, do Banco Pine, “o real deve continuar a tendência de valorização em relação ao dólar nos próximos meses, com base nos fatores já mencionados”.
Tony Volpon, antigo diretor para Assuntos Internacionais do Banco Central e comentarista da CNN Money, acredita que é provável que a taxa de câmbio continue em trajetória de desvalorização, estimando que o valor adequado do dólar estaria em torno de R$ 5.
Otávio Oliveira destaca, no entanto, que questões internas, como tensões políticas e a dinâmica fiscal, podem restringir a valorização do real.
Ademais, o contexto internacional apresenta riscos complexos de antecipar, incluindo a recente crise comercial entre Estados Unidos e Brasil, o que pode provocar volatilidade, conforme aponta Daycoval.
Compreenda as razões para a queda das taxas de juros nos Estados Unidos e o aumento no Brasil.
Fonte por: CNN Brasil
Autor(a):
Lara Campos
Com formação em Jornalismo e especialização em Saúde Pública, Lara Campos é a voz por trás de matérias que descomplicam temas médicos e promovem o bem-estar. Ela colabora com especialistas para garantir informações confiáveis e práticas para os leitores.