Gravações mencionam policiais civis, traficantes e advogados; um agente envolvido também investigado por furto na Cidade da Polícia.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro centraliza uma investigação da Polícia Federal que apura um esquema de corrupção para a liberação de um caminhão com 10 toneladas de maconha, apreendido em 2023. A droga, encomendada pela facção Comando Vermelho, foi inicialmente apreendida, porém, acabou sendo liberada após o pagamento de propina, conforme os investigadores.
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As informações da investigação foram divulgadas pelo programa “Fantástico”, da Rede Globo, e confirmadas pela CNN.
O agente Juan Felipe Alves da Silva também está sob investigação em outra ação por envolvimento no furto de uma máquina fabricante de cigarros, que sumiu de um galpão na Cidade da Polícia. O equipamento havia sido apreendido em operação e seria entregue a uma empresa que o arrematou em leilão.
Ademais de Juan Felipe, a PF constatou a participação dos policiais civis Renan Guimarães, Alexandre Amazonas, Eduardo de Carvalho e Deyvid da Silveira, do policial militar Laércio de Souza Filho, e dos advogados Leonardo Galvão e Jackson da Fonseca, que atuaram como intermediários entre os traficantes e os agentes públicos.
As informações sobre o esquema emergiram após a interceptação de ligações telefônicas e trocas de mensagens que demonstraram o planejamento e a execução da ação. Em uma das gravações, o traficante Carlos Koerich, que deixou Santa Catarina para o Rio, acompanhado de seu genro, informa à esposa que se encontra no Complexo do Alemão, aguardando o transporte.
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Cheguei agora, meu amor. Estava lá conversando com o Doca e o Pezão. Cheguei aqui quase agora, vou tomar um gole de café e vou deitar ali.
Em seguida, ele saberia que a carga fora apreendida por agentes da polícia civil e iniciaria uma negociação para sua liberação. Em outra gravação, a esposa de Koerich, Lucinara Koerich, revela o valor solicitado:
A polícia está solicitando 2 milhões para liberar o material. Eles querem oferecer 1 milhão e 1 milhão e meio.
A droga saiu do Mato Grosso do Sul, acompanhada de uma nota fiscal que indicava o transporte de frango congelado. Durante o percurso, o caminhão foi acompanhado por duas viaturas da Polícia Civil, mas foi abordado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Os policiais civis alegaram à PRF que transportavam o veículo até a Cidade da Polícia, mas já haviam iniciado as negociações paralelas com os envolvidos, conforme investigado pela PF.
A entrega da mercadoria foi formalizada por meio de um documento escrito à mão, assinado pelo agente Deyvid da Silveira, no qual ele afirmava que “nada foi encontrado” e liberava o motorista. A droga chegou até o Complexo do Alemão, abastecendo comunidades da região. Posteriormente, o mesmo caminhão foi novamente abordado pela PRF, que identificou vestígios da droga ainda no compartimento de carga, conforme registrado em vídeos.
De acordo com investigadores federais, os advogados Leonardo Galvão e Jackson da Fonseca receberiam 10% da propina. Contudo, Jackson declarou em gravações que o acordo não foi cumprido: “É, irmão, a profecia se confirmou, hein? Ainda te avisei naquele dia em que te liguei. Dr. Leonardo me ligou aqui agora, falando demais, com razão. Então, os caras seguiram com o dinheiro e tiraram os 10%, não deixaram nada para nós, porra, os caras nem botaram a cara aqui, irmão.”
Foram presos preventivamente todos os envolvidos, exceto Jackson da Fonseca, que foi liberado mediante determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que considerou a ausência de elementos concretos de tráfico, uma vez que a carga não foi localizada no veículo. Os investigados permanecem em liberdade sob acusação de corrupção.
Carlos Koerich, sua esposa Lucinara e o sogro Marcelo Luiz Bertoldo continuam detidos e são acusados de tráfico de drogas e organização criminosa.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro, em comunicado, comunicou que todos os policiais envolvidos foram afastados de suas atividades, estão desarmados, sem contato com o público e respondem a Processos Administrativos Disciplinares. A instituição declarou não concordar com desvios de conduta e os casos estão sendo investigados com rigor.
A emissora CNN busca estabelecer contato com as pessoas relacionadas.
Fonte por: CNN Brasil
Autor(a):
Apaixonada por cinema, música e literatura, Júlia Mendes é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de São Paulo. Com uma década de experiência, ela já entrevistou artistas de renome e cobriu grandes festivais internacionais. Quando não está escrevendo, Júlia é vista em mostras de cinema ou explorando novas bandas independentes.