Plataforma vincula a comunidade LGBT+ ao mercado de trabalho por meio de cursos e oportunidades diferenciadas
O projeto é estruturado em áreas de atuação, sendo a mais importante um portal para registro de currículos de indivíduos LGBTQIA+.

A plataforma Empregando Orgulho é a mais recente ferramenta digital de inclusão econômica para a população LGBT+. A iniciativa do Distrito Drag, em parceria com a Fundação Banco do Brasil, visa combater os obstáculos históricos no acesso a oportunidades de trabalho formais no Brasil.
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Lançada no Dia Internacional do Orgulho LGBT+, em 28 de junho, a plataforma reúne vagas reservadas, cursos de qualificação técnica e informações sobre as ações do coletivo em favor da empregabilidade.
Iniciada como um projeto distrital, a plataforma, que existe há menos de 1 mês, já reúne aproximadamente 700 pessoas cadastradas e conta com 20 empresas registradas. “A maior parte dessas empresas tem sede em Brasília, onde está localizada a base do Distrito Drag, mas a proposta é nacional”, informa Thalles Sabino, um dos coordenadores do projeto.
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Devido ser uma plataforma online, a ferramenta possibilita que empresas de todo o país divulguem oportunidades de emprego, incluindo vagas presenciais, remotas, híbridas ou temporárias. Já houve a adesão de empresas de outras cidades, como Anápolis (GO) e São Paulo (SP). Para registrar um currículo ou vaga, é preciso preencher o formulário disponível no próprio site.
O lançamento da plataforma Empregando Orgulho contribui diretamente para aquilo que discutimos há algum tempo, que é a autonomia financeira das pessoas LGBTQIA+, que muitas vezes enfrentam dificuldade no ambiente familiar, em razão da sua orientação sexual ou da identidade de gênero. E, quando não se está trabalhando, parece que isso intensifica cada vez mais, afirma a drag queen Ruth Venceremos, diretora do Distrito Drag.
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O projeto Empregando Orgulho foi organizado em três frentes complementares. A primeira envolveu a capacitação de 34 pessoas LGBT+ como brigadistas e socorristas, por meio de um curso de 151 horas concluído no final de 2023. Todos os participantes receberam bolsa integral e certificação profissional.
A segunda fase focou no empreendedorismo, com 15 indivíduos LGBTQIA+ envolvidos em uma mentoria intensiva de três meses, incluindo apoio financeiro para a viabilização ou impulso de negócios. Um desses projetos apoiados é o Ateliê Flâmulas e Fios, liderado por Lari Holanda e Thamynny Santos. O projeto é um espaço de criação afetiva que produz flâmulas decorativas e cadernos costurados à mão, com mensagens que celebram o afeto, a resistência, a brasilidade e a luta por direitos.
A participação da Holanda no Empregando Orgulho representou mais do que uma capacitação técnica: foi um momento decisivo. “Foi uma chance de analisar nossa iniciativa sob outra perspectiva, com a visão de um negócio, de fato, com potencial de crescimento, de profissionalização e relevância em nosso segmento”, declarou. O curso auxiliou na organização do modelo de negócio e na expansão do conhecimento sobre redes, impacto social e posicionamento no mercado.
A atmosfera estabelecida pela organização também desempenlou um papel essencial. Segundo Holanda, o espaço foi acolhedor e impactante, reunindo pessoas LGBT+ de distintos segmentos, que, apesar das diferenças, se reconheceram mutuamente em suas trajetórias. “Foi também um espaço de acolhimento, de trocas intensas e seguras entre pessoas LGBTQIAPN+ empreendedoras do DF. E mesmo sendo de nichos muito diferentes, nos reconhecemos e nos fortalecemos mutuamente”, destacou.
As mentorias seguintes também desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento do ateliê. “As mentorias têm sido fundamentais para reconhecermos nosso potencial de crescimento e nos organizarmos de forma estratégica para nos posicionarmos no mercado. Elas potencializam e dissipam as dúvidas que vão surgindo na prática do nosso negócio”, completa, reforçando o quanto o processo formativo foi transformador tanto no aspecto técnico quanto pessoal.
Outro participante que transformou sua realidade com o projeto foi Paulo Patrick, idealizador da empresa MaidLimpeza, focada em serviços de faxina com ênfase no atendimento a pessoas da comunidade LGBT+. Ele também participou do curso de empreendedorismo e ressalta o quanto os aprendizados impactaram positivamente sua trajetória. “Aprendi a administrar, divulgar e definir os valores para os clientes. Isso foi muito bom para mim e me ajudou bastante”, relata.
O conhecimento adquirido foi fundamental para organizar e profissionalizar o negócio. “Chegou no momento certo da minha vida, pois agora estou conseguindo mais clientes”, complementa.
Segundo Sabino, a missão do projeto é combater essa exclusão estrutural de maneira prática. “Muitas pessoas LGBTQIA+ ainda encontram obstáculos para ingressar no mercado de trabalho. Pessoas de nossa comunidade, principalmente as trans e travestis, sofrem de uma exclusão estrutural significativa que se inicia na formação básica. Contudo, o mundo está evoluindo e nossa missão é unir esforços nesse processo e auxiliar na resolução do problema”, declara.
À medida que estabelecemos vínculos com empresas que contratam pessoas LGBTQIA+, avançamos na perspectiva da autonomia financeira dessas pessoas como um pilar essencial para a superação do preconceito e da discriminação, complementa Ruth Venceremos.
A situação se dá em um cenário de exclusão notável. Apesar dos progressos legais e sociais nas últimas décadas, pessoas LGBTQIA+ e, em particular, aquelas com identidades de gênero divergentes, ainda enfrentam obstáculos reais para obter emprego ou permanecer em ambientes profissionais sem discriminação.
A proposta do Distrito Drag, segundo os diretores do projeto, é que quanto mais capacitação, conexões com empresas e apoio ao empreendedorismo, maiores são as chances de transformação real na vida de pessoas LGBT+. Os cursos oferecidos pelo projeto refletem essa visão: o programa “Qualifique-se +” já ofereceu formações nas áreas de saúde e segurança, cultura Ballroom, técnico de som e corte e costura, todas voltadas ao público LGBT+ e ministradas por profissionais da comunidade ou parceiros alinhados ao compromisso da diversidade.
A expectativa de Sabino é que cada vez mais empresas considerem a inclusão não apenas como uma questão ética, mas também como uma estratégia eficiente. “Quando uma pessoa da comunidade LGBTQIA+ é contratada por ser quem é, e não apesar disso, todo o ambiente muda para melhor. A empresa que se compromete e pratica inclusão de verdade tem resultados concretos. Melhora o clima na equipe, atrai talentos diversos e comprometidos, inova mais e cresce de forma sustentável”, afirma.
Para registrar o currículo na plataforma Empregando Orgulho é preciso acessar o link do projeto e preencher o formulário com dados pessoais.
Para registrar a vaga, a empresa deve incluir informações sobre a área de atuação, se há política interna para a inclusão de pessoas LGBT+, entre outros dados. Não há prazo para o cadastramento de ambos.
Fonte por: Brasil de Fato
Autor(a):
Pedro Santana
Ex-jogador de futebol profissional, Pedro Santana trocou os campos pela redação. Hoje, ele escreve análises detalhadas e bastidores de esportes, com um olhar único de quem já viveu o outro lado. Seus textos envolvem os leitores e criam discussões apaixonadas entre fãs.