Plano de Trump para Gaza ignora causas políticas, alerta Reginaldo Nasser

Reginaldo Nasser afirma que plano dos EUA desconsidera causas políticas e pode intensificar a dependência da Palestina.

13/10/2025 12:10

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(Imagem de reprodução da internet).

Professor critica plano de Trump para Gaza

Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), declarou que o plano apresentado pelo presidente Donald Trump para encerrar a guerra em Gaza e iniciar a reconstrução do território palestino repete modelos fracassados utilizados pelos Estados Unidos em conflitos anteriores. A afirmação foi feita durante uma entrevista no Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta segunda-feira (13).

O acordo, que surgiu após mais de dois anos de ofensiva israelense, inclui o desarmamento do Hamas, investimentos de US$ 53 bilhões e a criação de uma “junta de paz” liderada por Trump. Essa junta supervisionaria uma equipe de tecnocratas responsável pela reconstrução de infraestrutura básica, como estradas, redes de água e energia, além de preparar a transferência de poder à Autoridade Palestina.

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Críticas ao modelo de reconstrução

Nasser enfatizou que o problema não reside apenas na falta de recursos financeiros, mas sim na definição de objetivos e na metodologia a ser empregada. Ele citou o exemplo recente do processo de reconstrução no Afeganistão, afirmando que nomear uma equipe tecnocrática não é a solução adequada. O professor destacou que as tentativas de “reconstrução” feitas pelos EUA no Afeganistão e no Iraque resultaram em ocupação prolongada, dependência e novas crises humanitárias.

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De acordo com Nasser, o modelo de reconstrução promovido por Washington tende a desconsiderar as causas políticas da crise. “Reconstrução tem um lado político, no sentido de ter projetos voltados para o desenvolvimento, para a educação. Escolas foram destruídas, professores foram mortos. É preciso ter objetivos claros em relação a isso”, afirmou.

Condições críticas em Gaza

Apesar do cessar-fogo e da libertação de prisioneiros palestinos, Nasser ressaltou que a situação em Gaza permanece crítica. “O desastre humanitário em função do genocídio é muito grande. Antes do dia 7 de outubro de 2023, Gaza já se encontrava numa situação deplorável. Com dois anos de genocídio, imagina a situação em que a gente se encontra”, apontou.

O professor também destacou que os Estados Unidos continuam sendo a “variável principal” na questão palestina. “Quem sustentou esse genocídio, quem sustenta militarmente Israel, são os Estados Unidos. Se quiser, para. A hora que ele quiser, ele para isso”, disse.

Risco de esquecimento internacional

Nasser alertou sobre o risco de que o território palestino perca espaço no debate internacional à medida que as atenções se voltem para outras crises, como ocorreu com o Afeganistão. “Gradativamente, infelizmente, Gaza vai sair do cenário internacional e não vai se olhar adequadamente para o que está acontecendo. Foram 20 anos de ocupação no Afeganistão e hoje ninguém mais fala do país, que segue em uma situação deplorável”, concluiu.

Autor(a):

Com formação em Jornalismo e especialização em Saúde Pública, Lara Campos é a voz por trás de matérias que descomplicam temas médicos e promovem o bem-estar. Ela colabora com especialistas para garantir informações confiáveis e práticas para os leitores.