O sistema contribuiu para a inclusão financeira de 70 milhões de brasileiros e desafia a hegemonia dos cartões de crédito.
O posicionamento intervencionista de Donald Trump tem recebido diversas interpretações. Contudo, é necessário reconhecer o que ele declara. Alguns argumentam que, no caso brasileiro, a questão reside nas grandes empresas de tecnologia e no BRICS. Ele complementa essa visão. Acredita que o Judiciário almeja perseguir Jair Bolsonaro e que o dia 25 de Março representa uma ameaça ao império das marcas americanas. Seria a nação menos hostil aos Estados Unidos.
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O tema da 25 de Março, como é conhecida, será abordado em uma coluna subsequente.
Um dos critérios básicos de cidadania é o acesso garantido aos serviços que estruturam a sociedade. Ter uma conta em banco, por exemplo. O Pix começou a ser idealizado em 2016 pelo Banco Central, ainda durante o governo Dilma. Ganhou força e estrutura nos anos Temer. Entrou em operação em 16 de novembro de 2020, durante a era Bolsonaro. O Pix não é um projeto ideológico. É resultado do desenvolvimento de soluções em um país que viveu grandes ciclos inflacionários – e da busca de trazer para a vida formal grandes parcelas desbancarizadas da população.
Atualmente, o Pix se tornou uma força dominante. Com mais de 180 milhões de usuários ativos até 2025, ele abrange quase 90% da população adulta brasileira. Em junho de 2024, houve um recorde de 276,7 milhões de transações em um único dia. Em 2024, foram realizadas mais de 64 bilhões de operações, totalizando 26 trilhões de reais. O Pix já ultrapassa o uso de cartões de crédito e débito em volume de pagamentos, consolidando-se como o principal meio de transação no Brasil.
O sucesso se explica pela simplicidade: sem taxas mensais, sem burocracia… basta um celular e uma conta bancária para enviar e receber dinheiro em segundos. Essa evolução auxiliou na bancarização de mais de 70 milhões de brasileiros, segundo o Banco Central e a Febraban. Pequenos comerciantes, ambulantes e autônomos passaram a aceitar Pix, evitando tarifas de cartão e ampliando a eficiência. Com 15 milhões de MEIs e mais de 21 milhões de micro e pequenas empresas no Brasil – responsáveis por 60% dos empregos – o impacto econômico é profundo.
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Em setembro será lançado o Pix Parcelado: transações poderão ser divididas, com o vendedor recebendo o valor total imediatamente. Isso permitirá que o Pix substitua os cartões de crédito, que apresentam juros muito altos, muitas vezes superiores a 200% ao ano. O Pix Parcelado deverá proporcionar tarifas mais acessíveis, beneficiando empresas, principalmente o comércio varejista, e os consumidores.
É essa revolução doméstica que desperta desconfianças lá fora. A investigação aberta pelo Escritório do Representante de Comércio, diz que o Brasil favorece o sistema nacional de pagamentos em detrimento de empresas estrangeiras. Soa absurdo? Talvez. O cerne da queixa é que o sistema brasileiro beneficia… brasileiros.
O Brasil é um dos maiores mercados de cartões do mundo, com as operadoras movimentando 2,8 trilhões de reais em 2024, segundo a ABECS. Grande parte dessa receita provém de juros rotativos, anuidades e taxas de parcelamento — todos sob ameaça com o avanço do Pix. No entanto, as bandeiras podem reagir: diminuir taxas, intensificar milhas, desenvolver novos programas de fidelidade. O mercado livre, como afirmam os liberais, fortalece a concorrência e beneficia o consumidor. É o momento de confirmar essa tese.
É notável que o Pix seja praticamente uma unanimidade em todo o país. Ninguém propõe sua desativação, tampouco o ataca abertamente. Até mesmo os aliados brasileiros de Trump se abstêm de comentários quando o assunto é levantado. Talvez devido ao fato de que, na prática, o que mais fazem em situações de dificuldade seja solicitar auxílio por meio do Pix.
Fonte por: Carta Capital
Autor(a):
Lucas Almeida é o alívio cômico do jornal, transformando o cotidiano em crônicas hilárias e cheias de ironia. Com uma vasta experiência em stand-up comedy e redação humorística, ele garante boas risadas em meio às notícias.