Casos de Peste Bubônica e Outras Doenças Históricas
A confirmação de um caso de peste bubônica nos Estados Unidos, no final de agosto, gerou repercussões em vários países. Embora muitos acreditem que essa doença, conhecida como “peste negra”, pertença ao passado, especialmente à Idade Média, ela ainda persiste.
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Historicamente, a peste causou a morte de milhões de pessoas, mas continua a ser uma preocupação atual, assim como outras enfermidades que foram negligenciadas.
A infectologista Christiane Reis Kobal, do Einstein Hospital Israelita, explica que a prevalência dessas doenças está ligada a condições socioeconômicas desfavoráveis e à falta de vacinas eficazes. Isso contribui para surtos e casos isolados. Os microrganismos patogênicos buscam se perpetuar, e a seleção natural favorece características que permitem que esses agentes infecciosos evitem os mecanismos de defesa do ser humano.
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O epidemiologista Expedito José de Albuquerque Luna, da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que a única infecção erradicada na natureza foi a varíola, desde 1980. A desigualdade social e falhas na vigilância epidemiológica favorecem surtos, tornando essencial garantir saneamento básico e acesso à água potável, além de oferecer antimicrobianos e vacinas.
Peste Bubônica
O advento dos antibióticos transformou o tratamento da peste bubônica, que apresenta sintomas como febre alta, dor generalizada e formação de abscessos. A melhoria na higiene e o investimento em saneamento básico reduziram a presença de roedores, que transmitem a bactéria Yersinia pestis.
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Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2023 revelou que, entre 2019 e 2022, apenas seis países relataram casos da doença, totalizando 1.722 casos e 175 mortes. A República Democrática do Congo lidera os registros, seguida por Madagascar, China, Mongólia, Uganda e Estados Unidos.
O Brasil não registra casos desde 2005, mas a OMS considera regiões do país como potenciais focos da doença.
Até os anos 1990, o Ministério da Saúde tinha um programa de controle da peste bubônica, que foi transferido para o Sistema Único de Saúde (SUS) em 2000. Luna observa que a falta de treinamento adequado entre profissionais de saúde pode resultar em subdiagnóstico, com possíveis casos não identificados no país.
Hanseníase
A hanseníase, causada pela bactéria Mycobacterium leprae, é uma doença com registros históricos que remontam a 2698 a.C. na China. Conhecida anteriormente como lepra, o termo foi abandonado na década de 1970 para combater preconceitos. A doença é endêmica no Brasil, que registrou 22.129 novos casos em 2024, representando 12,8% do total mundial.
O diagnóstico tardio é um desafio, pois os sintomas podem demorar a aparecer e variar entre os indivíduos. A hanseníase se manifesta por manchas na pele e formigamento nas extremidades. O tratamento é feito com três antimicrobianos disponíveis pelo SUS, mas é um processo longo, que pode durar de seis meses a um ano.
Cólera
A cólera, causada pela bactéria Vibrio cholerae, é uma doença que circula desde o século 12. A primeira pandemia ocorreu no século 19, e desde então, várias epidemias globais foram registradas. Um relatório da OMS indicou 462.890 casos e 5.869 mortes entre janeiro e agosto de 2025.
No Brasil, não há casos autóctones desde 2006, e os casos importados são raros. A cólera é transmitida por contato fecal-oral ou ingestão de água e alimentos contaminados. A maioria dos infectados não apresenta sintomas, mas quando aparecem, incluem diarreia e vômito, que podem ser confundidos com outras doenças.
Embora existam vacinas orais para a cólera, sua cobertura é limitada e elas não estão disponíveis na rede pública. A OMS reportou que o estoque global de vacinas orais contra a cólera era de apenas 2,6 milhões de doses, muito abaixo do necessário para emergências.
