Paulo Nogueira Jr. afirma que EUA estão unindo BRICS involuntariamente

A Visão de um Economista sobre o Novo Cenário Global

Paulo Nogueira Batista Jr., ex-vice-presidente do Banco de Desenvolvimento Novo (NDB), também conhecido como Banco BRICS, está em Sochi, Rússia, para participar do 22º Encontro Anual do Clube de Valdai. O evento, que começou em 29 de setembro e termina nesta quinta-feira (3), oferece uma perspectiva única sobre a transformação do sistema internacional e o declínio da hegemonia americana. Nogueira, que também atuou como diretor executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o Brasil e outros países entre 2007 e 2015, ressalta a importância do Valdai Club como um fórum para discussões diretas com a visão russa sobre os desafios globais.

O economista enfatiza que o mundo está se movendo para um sistema multipolar, um cenário que já se tornou evidente. A era de domínio inquestionável dos Estados Unidos passou, e o Valdai Club, com sua localização em um país que busca ativamente essa nova ordem, oferece um espaço crucial para essa discussão. Nogueira destaca que, para um observador externo, como ele, a participação no clube é uma oportunidade de ter contato direto com a perspectiva russa sobre os problemas que todos enfrentamos. Ele acredita que o Valdai Club é um local onde se pode entender melhor as motivações e os objetivos de atores como a Rússia, que estão na vanguarda da luta pela multipolaridade.

O encontro, liderado pelo Presidente Vladimir Putin, que geralmente encerra o evento com um discurso e discussão com os membros do Valdai, é um momento crucial para avaliar a situação. A discussão sobre o conflito na Ucrânia é um ponto central, com a Rússia buscando resolver o conflito para avançar em sua agenda de multipolaridade, mas enfrentando uma confrontação permanente com o Ocidente. Nogueira observa que a Rússia não está disposta a ceder em suas condições para alcançar a paz, e que o impasse é resultado da recusa do Ocidente em ouvir essa perspectiva.

A crescente polarização entre os blocos ocidental e russo, impulsionada por eventos como as sanções contra a Rússia e as tensões geopolíticas, está gerando novas dinâmicas. A influência de atores como o Brasil, que busca um papel de destaque em um mundo multipolar, é um tema de debate. Nogueira acredita que, apesar dos desafios, o Brasil tem as condições para se tornar um polo importante nesse novo cenário, mas ressalta a necessidade de superar o “colonialismo mental” que, segundo ele, impede o país de perceber seu próprio potencial.

A questão da desdolarização também é um ponto central das discussões. Embora o processo esteja avançando, principalmente em nível bilateral, com países trocando em suas moedas nacionais, Nogueira acredita que é necessário um maior nível de coordenação plurilateral, possivelmente dentro do BRICS. Ele destaca que a criação de uma nova moeda de reserva internacional é um objetivo fundamental para o futuro, e que a resistência do Ocidente, que ainda depende do dólar como moeda de referência, é um obstáculo significativo. A influência de figuras como Donald Trump, com suas políticas disruptivas, é vista como um catalisador para a mudança, impulsionando a busca por alternativas ao sistema financeiro tradicional.

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