Estudo Revela Efeitos de Medicamentos para Obesidade no Consumo de Álcool
Medicamentos amplamente utilizados para tratar obesidade e diabetes tipo 2, como Ozempic e Wegovy, podem reduzir os efeitos do álcool no organismo. Um estudo recente da Virginia Tech, publicado na revista Scientific Reports, indica que fármacos que contêm semaglutida, liraglutida e tirzepatida, pertencentes à classe dos agonistas do receptor de GLP-1, retardam a absorção do álcool no sangue, diminuindo seu impacto no cérebro.
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Os pesquisadores afirmam que essa desaceleração fisiológica altera a percepção da embriaguez, podendo abrir novas possibilidades terapêuticas para o tratamento da dependência alcoólica no futuro.
Descobertas dos Pesquisadores
A pesquisa foi realizada no Fralin Biomedical Research Institute, vinculado à Virginia Tech, com 20 participantes obesos, todos com índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30. Metade dos voluntários utilizava medicamentos GLP-1, enquanto a outra metade formou o grupo de controle.
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Os participantes receberam uma dose padronizada de álcool, suficiente para alcançar 0,08% de concentração no ar expirado, equivalente ao consumo de uma taça de vinho ou uma dose de uísque. A equipe monitorou os níveis de álcool no sangue, sinais vitais e respostas subjetivas durante quatro horas.
Resultados do Estudo
Os resultados mostraram uma diferença significativa: os usuários de GLP-1 apresentaram um aumento mais lento nos níveis de álcool no sangue e relataram sentir menos os efeitos da embriaguez, mesmo consumindo a mesma quantidade de bebida.
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Nos primeiros 20 minutos após a ingestão, os níveis médios de álcool no ar expirado foram:
- Grupo controle: 0,037 g/dL (10 min), 0,028 g/dL (15 min) e 0,037 g/dL (20 min)
- Grupo GLP-1: 0,021 g/dL (10 min), 0,013 g/dL (15 min) e 0,017 g/dL (20 min)
Esses dados indicam que o aumento de álcool no sangue foi até 50% mais lento entre os indivíduos que usavam Ozempic, Wegovy ou medicamentos equivalentes.
Mecanismo de Ação do Álcool
Os agonistas de GLP-1 atuam retardando o esvaziamento gástrico, controlando o tempo que o álcool leva para sair do estômago e chegar ao intestino, onde ocorre a maior parte da absorção. Com essa passagem mais lenta, o álcool entra gradualmente na corrente sanguínea, prolongando o tempo até que seus efeitos sejam percebidos pelo cérebro.
Durante o experimento, os pesquisadores monitoraram pressão arterial, glicemia, frequência cardíaca e teor alcoólico ao longo de quatro horas. Os usuários de GLP-1 apresentaram menores níveis de intoxicação e menos sintomas relacionados ao consumo de álcool.
Metodologia do Estudo
Antes do teste, todos os participantes passaram por um jejum controlado e receberam uma refeição padronizada para igualar as condições metabólicas. Noventa minutos depois, cada um foi levado a uma sala de pesquisa, onde ingeriu uma bebida alcoólica em até dez minutos.
Após cada dose, os voluntários responderam a questionários sobre desejo de beber, gosto da bebida, efeitos sentidos e sensação de embriaguez, avaliando em uma escala de 0 a 10 “quão bêbado” se sentiam. Os resultados mostraram que os usuários de medicamentos GLP-1 relataram menores índices de embriaguez ao longo do teste.
Origem da Pesquisa
A ideia do estudo surgiu após cientistas notarem relatos em fóruns e redes sociais de pessoas que afirmavam ter perdido a vontade de beber após iniciar o tratamento com medicamentos para diabetes ou emagrecimento. O projeto foi liderado por Warren Bickel, diretor do Addiction Recovery Research Center, que faleceu em 2024. A pesquisa foi finalizada por sua equipe, sob a coordenação de Alexandra DiFeliceantonio e Fatima Quddos.
DiFeliceantonio lembrou que Bickel sempre questionava como poderiam ajudar as pessoas mais rapidamente, sugerindo que o uso de um medicamento já aprovado e seguro poderia ser um caminho eficaz para reduzir o consumo de álcool.
Perspectivas Futuras
Os pesquisadores ressaltam que este é um estudo piloto, com um número limitado de participantes, mas que fornece evidências iniciais de que os agonistas de GLP-1 podem atuar por mecanismos periféricos para reduzir o impacto do álcool. Nos Estados Unidos, mais da metade da população adulta consome bebidas alcoólicas regularmente, e cerca de 10% enfrenta transtornos relacionados ao álcool.
No Brasil, uma pesquisa do Datafolha, divulgada em 2025, revelou que 20% dos adultos afirmam beber uma ou duas vezes por semana.
Diferença na Absorção do Álcool
A tabela a seguir mostra a diferença na concentração de álcool no ar expirado (BrAC) nos primeiros 20 minutos após o consumo. Nos participantes que usaram medicamentos GLP-1, o aumento foi mais lento e menos intenso em comparação ao grupo controle.
- 10 minutos: Grupo Controle (0,037), Grupo GLP-1 (0,021)
- 15 minutos: Grupo Controle (0,028), Grupo GLP-1 (0,013)
- 20 minutos: Grupo Controle (0,037), Grupo GLP-1 (0,017)
