Ouro atinge maior valorização desde 1979, com alta de 71% em 2025. Conflitos globais e compras de bancos centrais impulsionam a busca por segurança.
O ouro está vivendo um ano excepcional, com os contratos futuros negociados em Nova York apresentando um aumento de quase 71% em 2025, o que representa o maior ganho anual em 46 anos. A última vez que o metal precioso teve um desempenho tão forte foi durante a presidência de Jimmy Carter, em um período marcado por crises no Oriente Médio, alta inflação e uma crise energética nos Estados Unidos.
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Atualmente, as tarifas comerciais estão afetando o comércio internacional, enquanto o conflito entre Rússia e Ucrânia se intensifica. Além disso, houve confrontos entre Israel e Irã, e os EUA estão apreendendo petroleiros na costa da Venezuela.
Em tempos de incerteza, investidores buscam ativos seguros como o ouro, que é visto como uma opção resiliente em momentos de crise, como inflação elevada ou desvalorização de moedas.
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Joe Cavatoni, estrategista sênior de mercado do Conselho Mundial do Ouro, afirma que a incerteza continua a ser uma característica marcante da economia global. Nesse contexto, o ouro se torna cada vez mais atraente como uma ferramenta de diversificação e fonte de estabilidade.
Embora o ouro não ofereça rendimentos como os títulos, a redução das taxas de juros pelo Federal Reserve nos últimos meses torna o metal mais interessante para os investidores.
No início de 2025, os contratos futuros de ouro eram negociados a cerca de US$ 2.640 por onça troy, e na segunda-feira, o preço ultrapassou a marca histórica de US$ 4.500 por onça troy. Analistas do JPMorgan Chase projetam que os preços podem superar US$ 5.000 por onça troy em 2026.
A valorização do ouro, que cresceu 71% neste ano, supera o índice S&P 500, que teve um aumento de apenas 18%.
A alta do ouro também é impulsionada pelas compras de bancos centrais, especialmente pela China, que busca reduzir a dependência de ativos americanos. Ulf Lindahl, CEO da Currency Research Associates, destaca que essa estratégia se intensificou após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, quando governos ocidentais congelaram ativos russos em dólares.
Isso levou países como a Rússia e a China a buscar alternativas para minimizar a exposição às decisões políticas dos EUA.
Ole Hansen, chefe de estratégia de commodities do Saxo Bank, observa que a atual onda de compras por bancos centrais é diferente, pois está ligada à geopolítica. O congelamento de reservas soberanas e a fragmentação do sistema financeiro global criaram uma demanda estrutural por ouro, que deve persistir nos próximos anos.
Segundo o Conselho Mundial do Ouro, os bancos centrais acumularam mais de 1.000 toneladas de ouro anualmente nos últimos três anos, em comparação com uma média de 400 a 500 toneladas por ano na década anterior.
A valorização do ouro também impulsionou outros metais preciosos, como prata, platina e paládio. Os contratos futuros de prata aumentaram 146% em 2025, enquanto os de platina e paládio subiram quase 150% e 100%, respectivamente. Hakan Kaya, gestor de carteiras da Neuberger Berman, afirma que esses metais preciosos servem como proteção em um mundo cada vez mais incerto.
As expectativas de que o ouro continue a subir em 2026 são reforçadas pelo aumento das reservas dos bancos centrais, que podem resultar em menor oferta no mercado. A crescente demanda de investidores, combinada com a oferta reduzida, pode levar a preços ainda mais altos.
Matt Maley, estrategista-chefe de mercado da Miller Tabak + Co., destaca que as preocupações com déficits governamentais e endividamento público também estão impulsionando a demanda por metais preciosos, fazendo com que o ouro seja visto como um porto seguro.
Autor(a):
Apaixonada por cinema, música e literatura, Júlia Mendes é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de São Paulo. Com uma década de experiência, ela já entrevistou artistas de renome e cobriu grandes festivais internacionais. Quando não está escrevendo, Júlia é vista em mostras de cinema ou explorando novas bandas independentes.