Após a era digital, as ciências físicas estão ressurgindo. A Europa pode se tornar o epicentro dessa nova revolução científica.
Por Patrice Caine
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Mais de dez anos atrás, Marc Andreessen afirmou que “o software está devorando o mundo”. Essa declaração se tornou emblemática, pois capturou a essência de uma transformação que alterou profundamente nosso cotidiano e as economias globais. A era digital, marcada por computadores, smartphones, internet e inteligência artificial, trouxe mudanças significativas.
Esse ciclo de inovação tem sido caracterizado por avanços impressionantes, frequentemente impulsionados por startups que conseguem reformular setores inteiros em questão de meses, utilizando o poder das ferramentas digitais. A rapidez dessas mudanças foi facilitada pela abundância de dados e pela disponibilidade de infraestruturas de computação robustas, permitindo que empresas transformassem ideias em produção em massa rapidamente.
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No entanto, esse modelo é finito e depende de condições que não se reproduzirão no futuro. Estamos adentrando uma nova era de inovação, onde os avanços dependerão mais do progresso científico fundamental do que de mudanças no uso das tecnologias. A inovação se tornará mais complexa e exigente.
As tecnologias emergentes mais promissoras, como computação quântica, fusão nuclear, biotecnologia e interfaces cérebro-máquina, estão intimamente ligadas a pesquisas científicas de alto nível. O desenvolvimento dessas tecnologias requer ciclos longos, infraestruturas complexas e financiamento que suporte anos de incerteza antes de gerar benefícios econômicos.
Ferramentas digitais avançadas, como a inteligência artificial, poderão acelerar a produção de novos materiais. Simultaneamente, os avanços nas ciências físicas potencializarão as ferramentas digitais, especialmente a IA. Estamos, portanto, diante de uma mudança de paradigma que redefine habilidades, modelos econômicos e ecossistemas de inovação.
A Europa tem a vantagem de manter fabricantes que podem prosperar nesta nova era, possuindo um DNA tecnológico autêntico e a capacidade de gerenciar prazos longos. Além disso, conta com uma rede acadêmica robusta e uma cultura científica ainda ativa, apesar da escassez de talentos em áreas críticas.
Para garantir esse sucesso, é necessário criar condições adequadas, como um ambiente regulatório e político estável que favoreça investimentos de longo prazo. É essencial também fortalecer a colaboração entre pesquisa pública e empresas privadas, além de desenvolver uma ambição europeia coesa frente às estratégias de poder de alguns Estados.
O mundo não será menos digital amanhã. Contudo, as grandes inovações virão cada vez mais de empresas que colaboram estreitamente com a pesquisa fundamental, combinando ciências digitais e físicas. A Europa pode se destacar nesse cenário, desde que utilize seus ativos de forma eficaz. O Velho Continente, que perdeu parte da revolução das plataformas digitais, pode se tornar a vanguarda de uma profunda revolução tecnológica.
Presidente e CEO da Thales, empresa líder global em tecnologias avançadas.
Autor(a):
Ana Carolina é engenheira de software e jornalista especializada em tecnologia. Ela traduz conceitos complexos em conteúdos acessíveis e instigantes. Ana também cobre tendências em startups, inteligência artificial e segurança cibernética, unindo seu amor pela escrita e pelo mundo digital.