Operação Contenção no Rio de Janeiro: Críticas de Ignacio Cano e Consequências Alarmantes
Ignacio Cano critica a Operação Contenção no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortes, destacando a lógica de guerra e a necessidade de investigação federal
Operação Policial em Rio de Janeiro: Críticas e Consequências
Ignacio Cano, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e membro do Laboratório de Análise da Violência, afirmou que a grande operação policial realizada na Zona Norte do Rio de Janeiro, marcada por um massacre com mais de 100 mortes, segue uma “lógica de guerra” que visa “maximizar o número de mortes” e consolidar um projeto político baseado na narrativa de que “um bom criminoso é um criminoso morto”.
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A Operação Contenção, realizada na terça-feira (28) pela Polícia Civil e Militar do Rio de Janeiro, resultou até o momento em 121 mortes — 117 civis e quatro policiais. Em uma coletiva de imprensa, o governador de direita Cláudio Castro descreveu a ação como um “sucesso” e reconheceu apenas os policiais como vítimas.
Cano criticou: “O governador não apenas acredita que a vida dessas pessoas não tem valor, como considera um triunfo ter matado, ou como ele diz, ‘neutralizado’.”
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Intenções Políticas e Comparações
Segundo o pesquisador, o governo do estado do Rio de Janeiro “apresenta o recorde de mortes como uma conquista histórica”, em um contexto de competição entre governadores alinhados ao bolsonarismo, onde a violência é utilizada como ferramenta de visibilidade pública.
Ele acredita que a operação teve “uma intenção política, realizada em um ano pré-eleitoral”.
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Cano também observou que o discurso do governador Cláudio Castro se alinha ao de líderes como o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, e governos de direita na América Latina. “Sua agenda se encaixa perfeitamente com a dos Estados Unidos e de países que adotaram o termo ‘narcoterrorismo’.
Isso é extremamente preocupante, pois busca apagar a distinção entre guerra e segurança pública”, alertou.
Uma Tragédia em Grande Escala
O professor descreveu a megaoperação como “uma tragédia gigantesca” e “um dos maiores massacres policiais da América Latina”. Ele destacou que, na visão do governador, que não é exclusiva dele, existe uma perspectiva bélica. “Eles estão tentando causar o maior número de baixas no ‘exército inimigo’.
O ‘placar’ agora é de cerca de 120 a quatro, e para eles, isso é claramente favorável.”
Cano enfatizou que, ao contrário de operações anteriores, esta foi planejada para impedir a fuga de suspeitos. “Historicamente, a polícia entra, mata dois ou três, e os demais escapam. Mas desta vez, a operação foi planejada para evitar que eles fugissem”, explicou. “Temos mais pessoas mortas do que presas, o que já é um indicativo da brutalidade da operação.”
Exigência de Investigação Federal
O pesquisador acrescentou que, dada a escala da violência, “é inevitável que tenham ocorrido várias execuções sumárias” e defendeu a necessidade de especialistas forenses federais para investigar as mortes. “Qualquer envolvimento federal deve incluir patologistas forenses para determinar quais dessas mortes foram realmente resultado de confronto e quais foram execuções sumárias”, afirmou.
Comparando o caso a massacres passados, como Carandiru e os “Crimes de Maio” em São Paulo, Cano declarou que a operação pode “se tornar o maior massacre da história do Brasil”. “Em um único dia, em uma única operação, o número extremamente alto de mortes continua a aumentar.
Será um marco de tragédia no futuro”, previu.
Impunidade e Falta de Responsabilidade
Cano avaliou que as chances de punição para os responsáveis são mínimas. “Nosso histórico é muito ruim. É extremamente difícil conseguir uma condenação contra um policial por execução sumária. Infelizmente, o Ministério Público do Rio de Janeiro não cumpre seu papel constitucional de controle externo sobre a atividade policial”, disse.
Para ele, sem uma investigação federal independente, semelhante à realizada após o “Massacre do Pan” em 2007, a responsabilização não avançará. “Esse é precisamente o tipo de assistência que precisaríamos hoje. Não requer nenhuma GLO [Garantia da Lei e da Ordem], mas dificilmente seria aceito pelo governo estadual”, argumentou.
Autor(a):
Ana Carolina Braga
Ana Carolina é engenheira de software e jornalista especializada em tecnologia. Ela traduz conceitos complexos em conteúdos acessíveis e instigantes. Ana também cobre tendências em startups, inteligência artificial e segurança cibernética, unindo seu amor pela escrita e pelo mundo digital.












