A Inusitada Aliança: One Piece e a Crise Política no Peru

A congressista Martha Moyano, integrante do partido de extrema direita Fuerza Popular, descreveu a popularidade do mangá e anime “One Piece” como algo “não tão delicado, nem tão infantil, nem tão inocente”. Essa reação viralizou, transformando a obra em um símbolo de protesto no Peru, onde a caveira do personagem Luffy, o Mugiwara, se tornou um ícone de resistência contra o governo de Dina Boluarte.

A ascensão de “One Piece” como ferramenta de protesto reflete a complexa relação entre cultura pop e ação política. A obra, que narra as aventuras de Monkey D. Luffy e sua tripulação em busca de um tesouro lendário, oferece uma crítica às estruturas de poder, à corrupção e à opressão, temas que ressoam com as demandas da Geração Z no Peru. A obra, com mais de 20 anos de história, já conta com mais de 1.100 episódios, além de filmes, videogames e uma adaptação live-action.

O uso da caveira do Luffy, o Mugiwara, como símbolo de protesto, se intensificou nas mobilizações que levaram a confronto com as forças policiais. Os manifestantes, em sua maioria jovens, exigiam o fim da reforma previdenciária, impulsionada pelo governo de Boluarte, que buscava alterar o sistema das AFP, introduzido durante o governo de Fujimori. A medida, considerada injusta e favorável aos grupos empresariais, gerou uma onda de protestos.

O jornalista peruano J. J. Maldonado ressalta que essa apropriação da simbologia de “One Piece” não é um fenômeno isolado. “Quando esses códigos são levados para o protesto, mostram que o cultural não é acessório, mas sim um terreno central a partir do qual se disputa o político”, afirma. A cultura pop, nesse contexto, se torna uma “infraestrutura de sentido” que fornece quadros narrativos, símbolos e linguagens que permitem às juventudes interpretar o poder, imaginar alternativas e se reconhecer entre si.

A utilização de símbolos pop, como a caveira do Luffy, não é vista como “banalidade” por Maldonado, mas sim como uma “gramática política legítima”. Essa gramática, que se baseia em elementos como a luta contra a tirania, a busca pela liberdade e a resistência à opressão, se torna uma ferramenta poderosa para mobilizar e articular as demandas da Geração Z no Peru.

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