Oficiais do exército tomam o poder na Guiné-Bissau, depõem Umaro Sissoco Embaló e instauram toque de recolher, gerando pânico nas ruas e incertezas políticas.
Um grupo de oficiais do exército declarou ter assumido o controle da Guiné-Bissau nesta quarta-feira (26), um dia antes da divulgação dos resultados de uma eleição presidencial bastante contestada. Em um comunicado transmitido pela televisão estatal, o porta-voz Diniz N’Tchama informou que o presidente Umaro Sissoco Embaló foi deposto, o processo eleitoral foi suspenso, as fronteiras foram fechadas e um toque de recolher foi instaurado.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Após o anúncio, Embaló confirmou à TV France 24: “Fui deposto.” Os oficiais formaram o “Alto Comando Militar para a Restauração da Ordem” e afirmaram que assumiriam o controle do país até novo aviso. Não foi esclarecido se Embaló estava sob custódia, e seu paradeiro permanece desconhecido.
Este episódio é mais um capítulo da instabilidade que assola a Guiné-Bissau, uma nação costeira entre Senegal e Guiné, conhecida como um centro de tráfico de cocaína para a Europa. Não está claro se os oficiais têm o apoio de todas as forças armadas do país, que possui cerca de dois milhões de habitantes.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
O comunicado militar alegou que a decisão de tomar o poder foi uma resposta a um plano de desestabilização promovido por “certos políticos nacionais” e “barões das drogas”, além de uma tentativa de manipulação dos resultados eleitorais.
Antes do anúncio, disparos foram ouvidos nas proximidades da sede da comissão eleitoral, do palácio presidencial e do ministério do Interior, conforme relataram testemunhas. O tiroteio durou cerca de uma hora e causou pânico na população, com pessoas correndo pelas ruas.
A comissão eleitoral estava programada para anunciar os resultados provisórios da eleição de domingo (23), onde Embaló concorria contra Fernando Dias. Ambos os candidatos reivindicaram vitória no primeiro turno da votação, e Embaló buscava se tornar o primeiro presidente a conquistar um segundo mandato consecutivo em três décadas.
Antonio Yaya Seidy, porta-voz de Embaló, afirmou que homens armados atacaram a comissão eleitoral para impedir a divulgação dos resultados, alegando que estavam ligados a Dias, embora sem apresentar provas. O ex-primeiro-ministro Domingos Simões Pereira, que apoiou Dias, negou qualquer envolvimento de seu candidato no incidente.
Pereira, que estava com Dias durante os eventos, afirmou que o candidato estava seguro e em Bissau. A Guiné-Bissau tem um histórico de golpes militares, com pelo menos nove ocorrências desde a independência de Portugal em 1974. Embaló, que assumiu o cargo em 2020, alegou ter sobrevivido a três tentativas de golpe durante seu governo.
Críticos de Embaló o acusam de criar crises como justificativa para repressões. Em dezembro de 2023, disparos foram ouvidos na capital, e o governo alegou que se tratava de uma tentativa de golpe. Em resposta, Embaló dissolveu o parlamento, deixando o país sem um legislativo funcional desde então.
A preparação para as eleições foi marcada por tensões, com a oposição afirmando que Embaló havia ultrapassado o limite de seu mandato. Sob sua liderança, o tráfico de cocaína parece ter se intensificado, com um relatório de agosto da Global Initiative Against Transnational Organized Crime indicando que o tráfico estava mais lucrativo do que nunca.
Em setembro do ano passado, a polícia judiciária apreendeu 2,63 toneladas de cocaína de um avião que aterrissou em Bissau vindo da Venezuela.
Autor(a):
Apaixonada por cinema, música e literatura, Júlia Mendes é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de São Paulo. Com uma década de experiência, ela já entrevistou artistas de renome e cobriu grandes festivais internacionais. Quando não está escrevendo, Júlia é vista em mostras de cinema ou explorando novas bandas independentes.