Obras de arte de grande formato demandam planejamento logístico internacional e investimentos de milhões de dólares em cobertura de seguros
A importação de obras de arte estrangeiras para museus no Brasil requer planejamento de longo prazo e seguimento de procedimentos rigorosos.

São Paulo receberá, no primeiro trimestre de 2025, duas megaexposições internacionais que necessitaram de anos de planejamento e investimentos milionários em logística e segurança.
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A exposição “A Ecologia de Monet” no Masp e “Andy Warhol: Pop Art!” no MAB-Faap ilustram a complexidade do transporte internacional de obras-primas, um setor que gera anualmente US$ 100 bilhões no mercado mundial.
A exposição de Monet, inaugurada em 16 de maio, apresenta 32 obras raras do período impressionista, incluindo algumas inéditas fora da Europa. Em dez dias, a mostra recebeu 37.470 visitantes, um volume superior em 60% ao registrado nos primeiros dias de “Tarsila Popular” (2019), que se tornou a exposição mais visitada da história do Masp, com 402.850 pessoas.
Na MAB-Faap, a retrospectiva de Warhol causa impacto pela escala: mais de 600 obras espalhadas por 2.000 m² de galeria, representando a maior exposição do artista pop organizada fora dos Estados Unidos.
De acordo com Debora Gigli Buonano, coordenadora do curso de Artes Visuais do Centro Universitário Belas Artes, o trajeto de obras provenientes de outros países para o Brasil inicia-se cerca de 5 anos antes da abertura das exposições.
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Realizaram-se uma extensa conversa entre as partes, a pesquisa foi ampla. Durante esse período, foram apresentados e analisados os valores de empréstimo, correio, transporte, expografia, identidade visual, catáe setor educacional. Segundo ela, a logística não limita a curadoria da exposição, mas precisa ser considerada durante todo o processo de negociação.
Momento de fragilidade.
O transporte constitui o período de maior vulnerabilidade para as obras. Dados da seguradora Hiscox apontam que cerca de 50% dos sinistros em arte registrados nos últimos 20 anos ocorreram durante deslocamentos, o que justifica os rigorosos protocolos de segurança adotados. “As obras são divididas em múltiplos voos para minimizar riscos”, afirma Buonano, referindo-se ao transporte aéreo especializado utilizado em mostras internacionais.
Na exposição de Warhol, as negociações duraram três anos e alcançaram um marco histórico: o The Andy Warhol Museum permitiu, pela primeira vez, o envio de uma parcela considerável de seu acervo para fora dos Estados Unidos. As 600 obras foram distribuídas em três remessas distintas, empregando aeronaves de carga especializadas no transporte de arte. O Masp não divulgou informações sobre as negociações nem o número de remessas utilizadas para trazer as obras de Monet ao Brasil.
Excesso de procedimentos burocráticos.
A importação das obras para o país segue um processo burocrático complexo. “O processo envolve despachantes especializados, o Ministério das Relações Exteriores e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram)”, afirma Buonano. As peças recebem embalagens personalizadas e são acompanhadas por correios – serviços de entrega expressa. Ao chegarem ao destino, passam por um período de quarentena para aclimatação antes de serem expostas. “Os conservadores realizam análises detalhadas durante a abertura das caixas, verificando cada milímetro das obras”, diz Buonano.
A organização de exposições desse porte mobiliza uma equipe multidisciplinar que trabalha em conjunto por anos. “O processo envolve curadores, pesquisadores, arquitetos, o setor educativo, restauradores e conservadores. Cada profissional contribui com sua especialidade para assegurar não apenas a segurança das obras, mas também a qualidade da experiência do público”, afirma Buonano.
O risco é elevado.
O orçamento para exposições internacionais varia de acordo com o perfil e a duração da apresentação. Estimativas da calculadora do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York) indicam que o seguro pode representar até 87% do valor total em exposições com grande número de obras, enquanto os custos relacionados ao espaço podem constituir até 70% do orçamento em mostras mais longas. Os custos operacionais, incluindo equipe e montagem, normalmente ficam abaixo de 4% do total.
O processo de devolução das obras segue o mesmo rigor logístico aplicado na chegada. Utilizam-se as embalagens originais e todos os procedimentos de entrada são replicados na saída. É um protocolo internacional que garante a integridade das obras em todo o percurso, conforme afirma Buonano.
Para a coordenadora, o Brasil já alcançou os padrões internacionais de excelência no setor museológico. “Os museus brasileiros seguem os mesmos protocolos internacionais para garantir a segurança e preservação das obras, sem enfrentar dificuldades logísticas particulares em comparação a outros países. A maioria integra o Conselho Internacional de Museologia (Icom), o que nos habilita a receber exposições de grande relevância mundial”, afirma.
Fonte por: Poder 360
Autor(a):
Sofia Martins
Com uma carreira que começou como stylist, Sofia Martins traz uma perspectiva única para a cobertura de moda. Seus textos combinam análise de tendências, dicas práticas e reflexões sobre a relação entre estilo e sociedade contemporânea.