O vinho transcende a mera bebida, revelando-se uma experiência multifacetada

O trabalho de Alexander Payne continua relevante como os ótimos exemplos que o influenciaram.

01/08/2025 18:08

3 min de leitura

(Imagem de reprodução da internet).

Em Sideways – Entre Umas e Outras, disponível no Disney Plus, Miles Raymond (Paul Giamatti) e Jack Cole (Thomas Haden Church) viajam de carro pelos vinhedos da Califórnia. A justificativa oficial é o casamento de Jack, que se realizará em uma semana. Contudo, os objetivos dos dois amigos são distintos. Miles, professor de literatura e escritor em busca de redenção, encontra no vinho uma forma de superar a depressão após o divórcio. Já Jack apenas deseja aproveitar os últimos dias de solteiro da maneira mais descomprometida possível.

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O vinho e os vinhedos são mais do que um cenário — são o fio condutor da história. Miles representa o conhecedor erudito e pretensioso — a arma para se proteger dos medos internos. Logo no início, sentencia: “Se alguém pedir Merlot, eu vou embora. Não vou beber nenhum vinho de Merlot”. A frase tornou-se símbolo de um preconceito enogastronômico, direcionado contra uma uva acessível demais, segundo Miles. Seu coração, na verdade, pertence à Pinot Noir: delicada, enigmática, sensível às condições do terroir, difícil de cultivar e vinificar — uma metáfora perfeita para sua própria personalidade.

A identificação do público foi imediata. Após o lançamento, o vale de Santa Inês, onde grande parte das cenas foi filmada, viu sua população aumentar em 20%. Em 2005, ano em que o longa foi indicado ao Oscar, as vendas de Pinot Noir nos Estados Unidos saltaram 16%. E o impacto não parou aí. Em entrevista recente à Inside Hook, Rex Pickett, autor do livro que deu origem ao filme, afirmou que, antes do sucesso de Sideways, os vinhedos de Pinot Noir representavam apenas 1% dos tintos da região. Hoje, ultrapassam os 10%. A Merlot, por sua vez, que detinha 25% de participação, tornou-se quase residual — muitas vezes usada apenas em cortes.

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Dez anos após sua estreia, o filme manteve sua qualidade, assim como os vinhos que Miles apreciava tanto. A trajetória dos dois amigos é marcada por idas e vindas, equívocos, descobertas e conversas repletas de humor amargo. Jack se relaciona com Stephanie (Sandra Oh), empregada de uma vinícola local, e Miles se aproxima de Maya (Virginia Madsen), uma sumilheira sensível e erudita que via no vinho a manifestação do tempo e da existência.

Separado, com dificuldades como escritor e insegurança em relação ao futuro, Miles busca refúgio no mundo de Baco. Em meio às frustrações, uma antiga ferida se reabre: sua ex-mulher não só se casou com outro homem, como está grávida. O vinho assume ainda mais importância. Miles mantinha uma garrafa especial para um momento a dois: um Château Cheval Blanc 1961, lendário Bordeaux de uma das melhores safras do século XX. Ironia do destino — o vinho é composto por Merlot e Cabernet Franc, justamente a uva que ele detesta com tanta veemência.

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A segunda ironia: o amor não durou e a garrafa ficou na adega. Ao saber da gravidez da ex-mulher, Miles decide abri-la — sozinho. Vai até um fast food, despeja o tinto num copo de plástico. Mesmo naquele cenário prosaico, sente os aromas complexos que apenas o tempo é capaz de desenvolver nos grandes vinhos. É o momento em que ele descobre que precisa ir adiante ou ficar no marasmo. Faz as malas e volta para os vinhedos da Califórnia para falar com Maya.

Sideways é menos sobre vinho e mais sobre a bebida como metáfora da vida: tempo, paciência, complexidade, perdas e, acima de tudo, transformação. No meio do filme, quando Miles diz que possui um Cheval Blanc 1961 na adega, Maya afirma que não se deve esperar uma ocasião especial para abrir um grande vinho, já que ele próprio já é uma ocasião. Quando Miles, sozinho em um restaurante rápido, finalmente abre o lendário vinho, não há sommelier, taça de cristal ou companhia ideal. Há a verdade. Ali, no silêncio e no copo de plástico, ele enfim aprende a beber o presente.

Fonte por: Carta Capital

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