O ex-presidente Lula cometeu um erro ao excluir liberais de seu governo, afirma publicitário
Chico Mendes declara que o presidente “negociou com a frente ampla e cedeu a frente íntima” ao se unir ao PT.

O publicitário Chico Mendes acredita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cometeu um erro ao não incluir no seu governo representantes do centro e da direita, que formavam a frente ampla responsável pela vitória eleitoral do petista em 2022. Por essa razão, avalia, esse grupo abandonou o governo e busca outra candidatura para 2026.
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Acredito que houve uma falha na interpretação. Na eleição de 2022, Lula não venceu devido aos seus méritos. Lula venceu porque a rejeição do candidato adversário era superior. Houve também um papel do centro democrático, dos liberais, que foi muito importante, principalmente no segundo turno, que lhe proporcionou uma vantagem competitiva em uma eleição que foi bastante disputada. E, ao formar o governo, ele estabeleceu uma ponte, mas excluiu os liberais, afirma Mendez em entrevista ao Poder360.
Assista à íntegra da entrevista, gravada em 28 de maio de 2025 no estúdio do Poder360, em Brasília.
Mendez argumenta que a frente ampla não se restringiu a ser um slogan de campanha, mas deveria representar uma forma de governo. Ele avalia que Lula se alinhou com membros do PT, não incorporando elementos da agenda da centro-direita que o apoiaram nas eleições. “[Este grupo] poderia fazer diferença agora, nesses momentos de maior fragilidade do governo. O que acontece é que ele vendeu uma frente ampla e entregou uma frente íntima. Eu acho que isso é um pecado importante que, de alguma forma, reflete nas dificuldades que o governo tem”.
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O profissional de publicidade afirma que as transformações sociais também influenciam na popularidade do presidente, que não possui mais uma relação tão próxima com a política pública.
A marca de gestão perdeu a importância que antes possuía. Atualmente, a marca do gestor é muito mais relevante. Sua capacidade de liderança, seus valores e sua agenda moral comunicam muito mais do que sua performance. Isso se deve, em parte, à institucionalização do Bolsa Família e do Minha Casa Minha Vida, que não dependem mais de uma pessoa ou de um partido.
Congresso com maior capacidade de atuação.
Mendez argumenta que existe uma forma de semiparlamentarismo em funcionamento. Considera que ele é positivo para o país, pois ajuda a “controlar os extremos”. Avalia que o Congresso é atualmente um “manto de ferro” da democracia brasileira.
Se há um local onde o centro democrático exerce poder, força e função, é dentro do Congresso. É muito importante que o Congresso seja controlado por dois políticos do centro democrático, o Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente do Senado, e o Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara. Isso fortalece as relações e, de alguma maneira, protege as instituições brasileiras. Eu acredito que o parlamentarismo também é uma forma de conter os extremos.
Eleições 2026
O profissional de publicidade afirma que a disputa pela presidência no próximo ano ocorrerá entre Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mesmo que nenhum dos dois seja o candidato oficial. O petista tem declarado que concorrerá à reeleição para alcançar o que pode ser seu quarto mandato. Bolsonaro também se apresenta como candidato, porém está inelegível e enfrenta o risco de ser preso.
Lula e a comunicação
Mendez afirma que a comunicação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não é o principal problema da atual gestão. O publicitário avalia que as mudanças sociais e como a informação é consumida deslocaram a disputa entre a direita e a esquerda no âmbito econômico para o campo dos valores e da moral.
A noção de que o PowerPoint solucionaria problemas deixou de ser relevante. As pessoas não absorvem dados numéricos. Assim, consumimos muito mais uma agenda de valores, uma agenda moral, que se sobrepõe à antiga agenda de debate entre direita e esquerda.
Em janeiro, Lula designou para a liderança da Secom (Secretaria de Comunicação Social) o marqueteiro de sua campanha eleitoral, Sidônio Palmeira, visando restabelecer a imagem positiva do presidente. Constatava-se no governo que os resultados positivos da administração não alcançavam a população e que, para tanto, seria imprescindível alterar a estratégia de comunicação.
O problema não é a comunicação. O Sidônio até fez mudanças importantes que eu percebi. O problema é que quem comunica, o porta-voz do governo, talvez não tenha se dado conta disso. A direita entra com afeto e o campo progressista [esquerda] entra com o Powerpoint. E o afeto sempre vai vencer o Powerpoint. As pessoas não estão em busca do que é real, estão em busca do que as valida, daquilo que dá sentido para a vida delas.
A controvérsia envolvendo a ex-primeira-ministra Janja na Macedônia do Norte continua a gerar debates e questionamentos sobre suas ações e declarações durante o período em que esteve no cargo.
Mendez considera que as iniciativas promovidas pela primeira-dama Janja Lula da Silva refletem uma perspectiva que se direciona principalmente à minoria da população. Ele argumenta que, sob uma ótica estratégica, essa atuação “prejudica mais do que auxilia”.
Não desejo entrar nos detalhes sobre se isso é positivo ou negativo. No entanto, a Janja também é uma figura política animal. A Michelle [Bolsonaro] também o é. Todo esse burburinho em torno delas ultimamente se dá porque elas deixaram de ser primeiras-damas que realizavam apenas trabalhos sociais. Elas foram para a linha de frente da política.
HOOGLE
Chico Mendes coordenou as redes sociais do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), durante a campanha do deputado, que liderou o comando da Casa em janeiro.
Uma das características marcantes da comunicação do parlamentar é o emprego de uma linguagem semelhante à utilizada por influenciadores digitais. Ele criou o “Hoogle”, uma referência aos nomes do buscador Google e do presidente da Câmara, com o intuito de “apresentar e explicar” o Poder Legislativo.
O primeiro vídeo foi publicado no mesmo dia em que foi eleito presidente da Câmara, em 1º de fevereiro. Com legendas, imagens cortadas e transições rápidas –recursos comuns entre influenciadores –, Motta se apresentou e explicou como construiu sua candidatura com apoio de partidos de todos os espectros políticos. A peça teve mais de 1 milhão de visualizações no Instagram até 29 de maio de 2025.
Mendez afirma que a linguagem mais informal desejada por muitos especialistas varia conforme o perfil de cada um. Contudo, ele acredita que há cada vez menos espaço para que políticos permaneçam fora das redes sociais.
O que antes era a política de rua se transformou na política da rede. Há uma discussão, um debate em que às vezes se afirma: “as pessoas não encheram a rua”. Mas isso não importa. Se encheram a rede, já alcançou um alcance muito maior do que a rua. A rede venceu a rua, diz.
Para o publicitário, políticos de centro enfrentam maiores dificuldades de projeção virtual devido à polarização, que beneficia aqueles que se posicionam nas extremidades.
É muito fácil você estar nos polos onde você já tem uma audiência formada, onde a mensagem vai sempre ser amplificada, sempre vai ter uma audiência cativa para quem está nesses polos e para quem nasceu dentro da rede. Temos essa nova geração de lideranças que falam e ecoam muito bem dentro das redes. E o desafio para os políticos de centro, e o Hugo, é exatamente como você fura a bolha e cria a sua própria audiência.
Fonte por: Poder 360
Autor(a):
Bianca Lemos
Ambientalista desde sempre, Bianca Lemos se dedica a reportagens que inspiram mudanças e conscientizam sobre as questões ambientais. Com uma abordagem sensível e dados bem fundamentados, seus textos chamam a atenção para a urgência do cuidado com o planeta.