O dólar pode atingir R$ 5,40 em breve, porém deve retornar a subir com maior controle fiscal

Economistas acompanham de perto as previsões para a disputa presidencial e a possibilidade de redução das taxas de juros nos Estados Unidos.

06/07/2025 17:13

6 min de leitura

O dólar pode atingir R$ 5,40 em breve, porém deve retornar a subir com maior controle fiscal
(Imagem de reprodução da internet).

Após avançar cerca de 30% em 2024, ultrapassando a marca de R$ 6,00 e alcançando o maior patamar da história, o dólar registrou uma queda superior a 11% em relação ao real no primeiro semestre e rompeu a barreira dos R$ 5,50.

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A maioria dos analistas consultados pela Broadcast prevê que o dólar caia para R$ 5,40 em curto prazo. Instituições como Itaú Unibanco, BTG Pactual e MCM 4intelligence diminuíram suas projeções para o dólar até o final do ano, ainda esperando que a moeda atinja dezembro acima dos níveis atuais devido às questões fiscais domésticas.

A avaliação de especialistas aponta para a continuidade da enfraquecimento da moeda americana nos próximos meses.

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O índice DXY, que mede o comportamento do dólar em relação a uma cesta de moedas fortes, registra queda superior a 10% em 2025. Esse movimento reflete as incertezas em torno da economia dos Estados Unidos, decorrentes da guerra comercial iniciada pelo presidente Donald Trump.

Adicionalmente, o real contará com o suporte da manutenção da taxa básica de juros em 15% ao ano por um período considerável, conforme já indicado pelo próprio Banco Central, o que favorece as operações de *carry trade*.

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A principal questão é se esses dois aspectos positivos para a moeda brasileira conseguirão resistir à deterioração sazonal do fluxo cambial durante o segundo semestre e a uma possível elevação da percepção de risco fiscal.

Com a aprovação no Congresso do decreto que elevava o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), ressuscitou o debate acerca do não cumprimento das metas fiscais – em especial a de 2026, que estabelece superávit primário de 0,25% do PIB.

Existe também um novo ingrediente que pode causar oscilações na taxa de câmbio no futuro: as apostas em torno da disputa presidencial de 2026.

O economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, continua pessimista em relação ao real, ainda que tenha diminuído no início de junho a projeção da taxa de câmbio para o encerramento do ano, de R$ 6,50 para R$ 6,00.

A alteração visava incluir duas informações no cenário: a manutenção da Selic em 15% ao ano e a expectativa de que o recuo da moeda americana continue, devido à provável redução de juros pelo Fed e ao “descontentamento dos investidores” com o cenário político e fiscal dos Estados Unidos.

O desafio principal para o Brasil reside no aumento do risco soberano, devido à preocupação com o crescimento do endividamento público, que ainda não está refletido nos mercados. A questão não é se o governo irá cumprir as metas fiscais, mas sim que essas metas são insuficientes para evitar o crescimento da dívida em relação ao Produto Interno Bruto, segundo Padovani.

Ele considera, no entanto, que a impressão de agravamento das contas públicas pode ter seu impacto reduzido na avaliação de risco em apostas sobre mudanças de governo com a eleição presidencial de 2026.

“A visão de transição política pode trazer um viés positivo para o real e anular em parte as preocupações com o aumento do endividamento público. No entanto, ainda prevejo um real mais fraco no final do ano”, afirma Padovani.

A MCM 4intelligence mantém uma visão cautelosa para o segundo semestre, embora tenha revisado para baixo a previsão para o dólar no final do ano, de R$ 5,80 para R$ 5,70. A avaliação da consultoria é que as “incertezas fiscais e políticas domésticas”, neste momento com pouca influência sobre o câmbio, “tendem a ganhar protagonismo”.

A consultoria afirma que a vulnerabilidade financeira do governo federal, sobretudo em relação ao equilíbrio das contas até 2026, tem sido intensificada pela disputa política e eleitoral acirrada, evidenciada pela rejeição das recentes medidas de ajuste tributário propostas pelo Executivo no Congresso.

Diante da queda na popularidade do governo, essa situação de conflito tende a continuar e possivelmente se agravar. O efeito deverá ser a perda gradual da força recente da moeda brasileira nos próximos meses.

O analista da Integral Group, Daniel Miraglia, demonstra otimismo e acredita que o dólar possui margem para uma nova desvalorização no curto prazo, podendo encerrar o ano com valores inferiores aos atuais.

Adicionalmente, a moeda americana continua fraca, com menor risco geopolítico após o desestabilização no Oriente Médio e a possível redução das taxas de juros pelo Fed, o que pode favorecer o real devido à incorporação em uma projeção de troca de governo em 2027, segundo ele.

Para Miraglia, a queda do IFF sugere que uma parcela significativa do Congresso começa a abandonar o governo Lula, cuja popularidade está em declínio, e a se posicionar para dar apoio a um candidato da oposição, em tese mais alinhado com a austeridade fiscal.

Ele destaca a última colheita de pesquisas eleitorais, apresentando candidatos concorrentes à direita no espectro político.

A derrota do governo foi percebida por parte do mercado como um indicativo de que Lula não será reeleito. Paralelamente, o Congresso o colocou em uma situação delicada, rejeitando a proposta de aumento de impostos e obrigando-o a um corte orçamentário mais significativo, o que beneficia os ativos locais, segundo Miraglia.

Ele também indica que, considerando risco e retorno, há maior espaço para ganhos com Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-Bs), títulos públicos indexados à inflação e ao Ibovespa.

O economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto de Almeida, revisou para baixo a previsão da taxa de câmbio no encerramento do ano, de R$ 6,00 para R$ 5,50, devido ao declínio da moeda americana em nível global.

Mansueto também reduziu a projeção para o dólar em 2026, de R$ 6,10 para R$ 5,50, destacando que a trajetória do câmbio no próximo ano dependerá de fatores domésticos, “especialmente do processo político e da expectativa sobre como a próxima administração enfrentará o problema fiscal estrutural”.

O Itaú Unibanco ajustou em junho as previsões para a taxa de câmbio no final de 2025 e 2026, elevando-a de R$ 5,75 para R$ 5,65. Além da diminuição da força do dólar, o real se beneficia do aumento do diferencial de juros e por um perfil de risco considerado positivo.

A instituição avalia que, considerando as incertezas acerca das contas públicas e de um cenário de contas externas sob pressão, adotou uma abordagem mais reservada em suas projeções.

O Brasil ocupa a segunda maior taxa de juros reais no mundo, após o aumento da taxa Selic.

Fonte por: CNN Brasil

Autor(a):

Com formação em Jornalismo e especialização em Saúde Pública, Lara Campos é a voz por trás de matérias que descomplicam temas médicos e promovem o bem-estar. Ela colabora com especialistas para garantir informações confiáveis e práticas para os leitores.