O cerco israelense a Gaza é “uma tragédia para o mundo”, afirma historiador
Michel Gherman, sociólogo e coordenador do Núcleo de Estudos Judaicos da UFRJ, argumenta que os interesses políticos internos de Israel são responsáveis…
A ocupação completa de Gaza por Israel, sem um projeto definido para o futuro, representa uma “tragédia” para a região e para o mundo. A análise é do historiador Michel Gherman, professor de Sociologia e coordenador do Núcleo de Estudos Judaicos da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em entrevista à CNN.
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De acordo com Gherman, desde o ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, que resultou na morte de mais de 1.200 indivíduos, a questão central sobre para quem Israel entregará Gaza após a ocupação permanece sem resposta por parte do governo israelense. “Essa é a grande questão, essa é a pergunta que não foi respondida”, declarou o professor.
Para Gherman, há apenas duas alternativas viáveis para o futuro de Gaza: a transferência do território para a ANP (Autoridade Nacional Palestina) ou a formação de um consórcio de países árabes para atuar no pós-guerra.
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O historiador explicou que o principal desafio do governo israelense, composto por uma direita extrema com forte ligação a visões messiânicas, reside na percepção de que a criação de um Estado palestino é um elemento essencial para a manutenção do atual cenário político.
Gherman, que também é pesquisador do Centro de Estudos do Antissemitismo da Universidade Hebraica de Jerusalém, avalia que a ausência de uma solução concreta tem levado ao adiamento contínuo da resposta e, consequentemente, à perpetuação do conflito. Ele descreve a estratégia israelense como uma sequência de etapas que adiam a conclusão da guerra.
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Inicialmente, Israel comunicou uma vitória completa sobre o Hamas. Posteriormente, sugeriu a desarticulação do grupo. Em um terceiro momento, afirmou que faltava pouco para que o grupo fosse efetivamente derrotado e, atualmente, essa nova narrativa de ocupação total de Gaza, observou Gherman.
A indefinição acarreta consequências e intensifica a crise humanitária.
A ocupação israelense de Gaza é, nas palavras do historiador, “uma tragédia para Israel, para os palestinos e para o mundo como um todo em termos da pacificação daquela região”.
A manutenção do conflito, que Gherman define como um “fenômeno constante, eterno, que não pode acabar”, está relacionada a vários fatores internos de Israel.
O professor da UFRJ aponta que o governo israelense poderia cair caso a guerra terminasse.
O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, está sendo processado e não tem clareza sobre o que fazer no pós-guerra. A única alternativa para o pós-guerra seria permitir que os palestinos dirigissem seu próprio futuro, o que não se encaixa na lógica política de Netanyahu, destacou.
Ademais, a crise humanitária em Gaza não é considerada por Gherman como uma consequência imprevista da guerra, mas sim como um projeto deliberado do governo de Israel. Ele afirma que essa situação “favorece o governo de Israel”.
Repercussão internacional e a posição da Alemanha
Na semana passada, a Alemanha suspendeu as exportações de equipamentos militares que poderiam ser utilizados na Faixa de Gaza. A decisão é uma reação ao plano israelense de ampliar as operações militares na região.
Segundo Michel Gherman, a declaração da Alemanha sobre o embargo de armas a Israel representa um ponto crucial.
Alterou-se a visão alemã das últimas décadas. Houve, inclusive, uma discussão acalorada entre o chanceler alemão [Friedrich Merz] e Netanyahu sobre o tema, na qual Netanyahu tentou utilizar o histórico da Alemanha para tentar dissociar o país dessa ideia, afirmou Gherman.
O historiador, contudo, ressalta que a situação internacional é marcada por contradições. Ele avalia que a atuação dos Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, não indica progresso em direção a uma solução diplomática ou à criação de um Estado palestino.
O problema reside em Trump. Ele não demonstra intenção de mudar de rumo. Pelo contrário, sinaliza que utilizará tarifações, conflitos comerciais e ataques diplomáticos contra países que seguirem adiante, o que contribui para a manutenção da guerra em Gaza, concluiu.
Fonte por: CNN Brasil
Autor(a):
Marcos Oliveira
Marcos Oliveira é um veterano na cobertura política, com mais de 15 anos de atuação em veículos renomados. Formado pela Universidade de Brasília, ele se especializou em análise política e jornalismo investigativo. Marcos é reconhecido por suas reportagens incisivas e comprometidas com a verdade.












