O caso Hytalo revela aspectos mais significativos
Necessário responsabilizar as plataformas, organizar conselhos tutelares, impor responsabilidade aos adultos e encarar o incômodo de observar a sociedad…

O caso Hytalo expôs a face mais revoltante da nossa sociedade: a normalização da exploração infantil em programas de televisão e a vulnerabilidade de um governo que só age com consequências públicas.
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A detenção do influenciador digital acusado de pagar mesadas por convivência com adolescentes não encerra apenas uma apuração tardia. Também revela um mecanismo em que pais, plataformas, patrocinadores, conselhos tutelares e Ministério Público se omitiram — ou lucraram — diante do que hoje chamamos, sem eufemismos, de exploração da infância.
O incidente teve início com um vídeo de Felca, que se espalhou no início de agosto. Nada do que ele exibiu era inédito, pois as gravações estavam disponíveis, sendo monetizadas e utilizadas como entretenimento por milhões de jovens. Famílias realizaram pagamentos mensais que variavam de dois a três mil reais para entregar seus filhos ao esquema. Conselhos tutelares afirmam não ter recebido denúncias formais; o Ministério Público investigava em ritmo lento. Apenas a indignação generalizada mobilizou a máquina estatal.
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Ganância e perversão
A demora expõe um paradoxo: o Brasil possui um Estatuto da Criança e do Adolescente, um artigo constitucional que coloca a proteção da infância como prioridade absoluta, e uma legislação abundante. No entanto, na prática, tais instrumentos só são acionados quando a pressão coletiva se torna insuportável.
O silêncio aqui não é neutralidade — é conveniência. Ele sustenta um processo de adultização que atravessa décadas. Nas décadas de 1990, meninas eram expostas em programas de auditório. Atualmente, adolescentes aparecem em coreografias sexualizadas no TikTok. A lógica permanece: desejo adulto convertido em espetáculo, espetáculo transformado em lucro.
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A negligência familiar agrava o quadro. Não se trata unicamente de falhar na proteção, mas de se tornar parceiro do problema. Concordar com dinheiro em troca da revelação dos filhos não é ingênuo: é colaboração. Do outro lado da tela, milhões de pais e mães assistem sem questionar o que seus próprios filhos consomem.
As instituições também falharam. Conselhos tutelares relatam a ausência de denúncias; o Ministério Público, mesmo ciente, não agiu a tempo. Contudo, como esperar que famílias denunciem quando parte delas lucrava com a situação? O resultado é uma teia de omissões que só se rompe quando a pressão das redes sociais explode.
O incidente não é isolado. MC Melody, convertida em produto pelo próprio pai, permanece sem responsabilização efetiva. A diferença é que agora a exploração ocorre dentro de casa, transmitida em tempo real, impulsionada por algoritmos que recompensam o engajamento. O problema não diminuiu — apenas se sofisticou.
Outros países apresentam modelos. A França necessita de autorização judicial para monetizar perfis de menores. A União Europeia sanciona plataformas que não removem conteúdos ilegais. No Brasil, seguimos atuando de forma improvisada: cada escândalo produz um pacote legislativo de caráter emergencial, como a denominada “Lei Felca”. Contudo, leis sem fiscalização se transformam em meros adornos.
O caso Hytalo revela uma questão mais complexa: não se trata da ausência de regras, mas da banalização da exploração. Convertemos crianças em meras carreiras, em buscas por curtidas, em métricas. E toleramos isso até que a denúncia se torne inevitável.
A solução reside no reconhecimento dessa responsabilidade partilhada. É necessário responsabilizar plataformas, estruturar conselhos tutelares, responsabilizar adultos e encarar o desconforto de analisar a sociedade que produz e consome essa realidade. Porque, em última análise, o caso Hytalo não se refere apenas a um influenciador: trata-se do Brasil como um todo.
Fonte por: Carta Capital
Autor(a):
Redação Clique Fatos
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