Novo tratamento demonstra eficácia acelerada no tratamento da depressão pós-parto

Zuranolona, já aprovada nos Estados Unidos, apresentou uma redução significativa dos sintomas em apenas duas semanas de tratamento, com melhora notável …

08/09/2025 10:53

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(Imagem de reprodução da internet).

A chegada de um bebê geralmente é um momento de felicidade, porém, para diversas mulheres, o período pós-parto pode ser caracterizado por fragilidade emocional, insegurança e tristeza intensa. A denominada depressão pós-parto, que impacta aproximadamente 25% das gestantes no Brasil, segundo estimativas da Fiocruz, transcende o cansaço ou a adaptação à nova rotina; trata-se de uma condição de saúde mental grave, que pode afetar o vínculo com o bebê, a qualidade de vida da mulher e o equilíbrio familiar.

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Assim, identificar abordagens seguras e eficazes para lidar com essas mulheres tem sido alvo de diversas pesquisas. Recentemente, um estudo clínico publicado no JAMA Psychiatry ofereceu esperança, pois os pesquisadores avaliaram a eficácia da zuranolona, um medicamento oral aprovado há dois anos pela FDA (agência norte-americana reguladora de medicamentos) e identificaram resultados promissores: em apenas duas semanas de tratamento, houve uma redução significativa dos sintomas depressivos, com melhora notada já no terceiro dia de uso.

O estudo foi realizado com 151 mulheres entre 18 e 45 anos, com diagnóstico de episódios depressivos graves que surgiram no período pós-parto ou nas quatro semanas seguintes ao parto. Todas apresentavam resultados elevados na escala de avaliação da depressão, demonstrando quadros severos.

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As participantes foram separadas em dois grupos: um recebeu zuranolona (30 mg diários, durante 14 dias) e o outro, placebo. O grupo medicado obteve uma redução média de 17,8 pontos na escala de depressão, em comparação com 13,6 pontos no grupo placebo, diferença considerada clinicamente significativa. Os efeitos persistiram mesmo após o término do tratamento, até o 45º dia de acompanhamento.

O estudo demonstrou, ademais da melhora dos sintomas depressivos, a redução dos índices de ansiedade, indicando que o medicamento pode auxiliar as mulheres no controle da depressão e na recuperação do bem-estar necessário para cuidar de si e de seus filhos.

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A ginecologista e obstetra Ana Paula Beck, do Hospital Israelita Albert Einstein, aponta que a depressão pós-parto é uma das complicações mais frequentes no período perinatal, porém ainda é pouco diagnosticada. Os sinais podem aparecer durante a gravidez ou até um ano após o parto e englobam tristeza, cansaço, mudanças no sono e no apetite, nervosismo e sensação de culpa.

É importante diferenciar a depressão pós-parto da “baby blues”, que é mais leve, transitória e costuma se resolver sozinha em até 10 dias, explicou a médica. Segundo ela, entre as mulheres que apresentam algum grau de depressão pós-parto, cerca de 7% preenchem critérios para depressão maior. O estigma, no entanto, ainda impede o diagnóstico precoce em quase metade dos casos.

Mecanismo de ação distinto.

A zuranolona se destaca devido ao seu mecanismo de ação. Diferentemente dos antidepressivos tradicionais – como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina –, que necessitam de duas a quatro semanas para apresentar efeito, a zuranolona atua como moduladora dos receptores GABA tipo A. Esse processo está associado ao equilíbrio químico cerebral e à regulação do humor, sendo considerado uma via alternativa e promissora no tratamento de transtornos depressivos.

A zuranolona é um neuroesteroide sintético que promove a regulação rápida da atividade cerebral através do sistema GABAérgico. Isso difere dos inibidores da recaptação da serotonina, que atuam modulando a serotonina e necessitam de tratamento contínuo, frequentemente por meses ou anos. Essa diferença possibilita uma resposta clínica mais rápida e com duração reduzida, afirmou a médica.

No Brasil, a zuranolona ainda não está disponível. Enquanto isso, o tratamento segue baseado em antidepressivos convencionais e psicoterapia. “A sertralina é a medicação de primeira escolha, porque tem um perfil de segurança robusto, baixa passagem para o leite materno e muitos anos de uso no pós-parto. Outras opções são citalopram, escitalopram e fluoxetina, mas esta última apresenta maiores riscos de efeitos adversos no bebê”.

Novo medicamento e a amamentação

Uma das preocupações apontadas no estudo foi a necessidade de interromper a amamentação durante o uso de zuranolona, devido à falta de dados suficientes sobre sua segurança no leite materno. Contudo, a obstetra do Einstein ressalta que a prioridade deve ser o cuidado com a saúde mental da mãe. “A amamentação é sempre um desafio adicional no pós-parto, e a própria depressão pode ser causa de interrupção. O mais importante é iniciar o tratamento adequado, oferecer suporte e, sempre que possível, dar condições para que a paciente consiga manter o aleitamento”, destacou.

Para ela, o fator mais relevante da zuranolona é a rapidez da sua ação, considerando que, no caso da depressão pós-parto, cada dia é crucial. A obstetra destaca ainda a necessidade de expandir o conjunto de tratamentos disponíveis: “Dispor de um novo medicamento que possa diminuir os sintomas da depressão pós-parto representa um avanço significativo. Restabelecer o vínculo mãe-bebê de forma acelerada fortalece não apenas a saúde mental da mãe, mas também o desenvolvimento da criança”, afirma a médica.

Alterações cerebrais estão relacionadas ao risco de depressão pós-parto.

Fonte por: CNN Brasil

Ana Carolina é engenheira de software e jornalista especializada em tecnologia. Ela traduz conceitos complexos em conteúdos acessíveis e instigantes. Ana também cobre tendências em startups, inteligência artificial e segurança cibernética, unindo seu amor pela escrita e pelo mundo digital.