Nobel para ‘Bolsonaro da Venezuela’ distorce paz, afirma analista internacional Amanda Harumy

Amanda Harumy afirma que a escolha de María Corina Machado intensifica a desestabilização política na Venezuela.

10/10/2025 20:28

3 min de leitura

(Imagem de reprodução da internet).

Críticas à Escolha de María Corina Machado para o Prêmio Nobel da Paz

A seleção de María Corina Machado, líder da extrema direita venezuelana, como ganhadora do Prêmio Nobel da Paz gerou reações negativas e surpresa entre analistas internacionais. Amanda Harumy, especialista em geopolítica da América Latina, afirma que a premiação questiona o verdadeiro significado do reconhecimento.

“Quando discutimos paz, devemos imaginar, ao final de um conflito, mediação e diálogo. O que vemos na liderança de María Corina? Tentativas de golpe e desestabilizações, que vão contra a paz”, declarou Harumy em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.

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Comparações com Jair Bolsonaro

A analista traçou um paralelo entre a líder venezuelana e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi condenado por tentativa de golpe de Estado. “Ao falarmos da Venezuela, é comum pensar no Brasil. Também enfrentamos desestabilizações democráticas e tentativas de golpe, especialmente com Bolsonaro. María Corina é uma líder de extrema direita, assim como ele”, comentou.

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Harumy lembrou que Corina foi uma das signatárias do decreto Carmona, que apoiou o golpe contra Hugo Chávez em 2002, e teve seu mandato cassado em 2014 ao se declarar embaixadora do Panamá na OEA sem autorização do governo venezuelano. Desde então, ela está inelegível.

Narrativas da Mídia e Legitimidade

Para Harumy, a forma como a mídia tradicional aborda a trajetória de Corina ajuda a legitimar uma narrativa enganosa. “A mídia internacional e muitos governos apostaram na candidatura de María Corina como uma forma de derrubar o governo e desestabilizar o processo eleitoral venezuelano”, criticou.

A analista também observou que o nome de Corina ganhou destaque em um contexto de “vazio de legitimidade” entre outros opositores, como Henrique Capriles e Juan Guaidó. “Ela foi a escolhida após a União Europeia e os Estados Unidos desistirem de Guaidó”, analisou. Segundo Harumy, a líder é uma figura de extrema direita com uma ampla aliança internacional e frequentemente envolvida em tentativas de derrubar Nicolás Maduro.

Contexto Geopolítico e Postura do Brasil

Harumy alertou sobre o contexto geopolítico que envolve a premiação. “Estamos vendo mísseis direcionados à Venezuela e exercícios militares nas bases norte-americanas, o que é preocupante. Este prêmio será interpretado de várias maneiras, mas na Venezuela é mais um instrumento midiático de disputa narrativa”, destacou.

Ela defendeu que o Brasil adote uma postura mais proativa em defesa da soberania da América Latina. “Como país fronteiriço e líder da região, o Brasil precisa trabalhar diplomaticamente pela estabilização e defesa da Venezuela e da paz regional. Não podemos permitir que a Venezuela se torne um espaço de tensão militar”, afirmou.

Sobre a falta de um posicionamento firme do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante as eleições venezuelanas, Harumy apontou duas razões principais: “a pressão interna da direita e a ausência de um projeto de integração regional neste terceiro governo Lula”. Ela enfatizou que “nenhum país valida a eleição de outro; quem valida os processos democráticos é a Constituição e os tribunais eleitorais de cada nação”.

Autor(a):

Apaixonada por cinema, música e literatura, Júlia Mendes é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de São Paulo. Com uma década de experiência, ela já entrevistou artistas de renome e cobriu grandes festivais internacionais. Quando não está escrevendo, Júlia é vista em mostras de cinema ou explorando novas bandas independentes.